Lisboa |
Padre Diamantino Faustino, pároco de Linda-a-Velha
“As redes sociais trazem mais pessoas à Igreja”
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O confinamento, em março, impulsionou uma presença crescente do padre Diamantino nas redes sociais. Tudo começou com a “necessidade de estar ligado aos paroquianos, de chegar a todos com uma palavra de esperança”. Atualmente, com um número crescente de seguidores, o pároco de Linda-a-Velha, apresenta o contributo “positivo” trazido pelas redes sociais à evangelização.

 

“Bom dia! Como estás? Com boa disposição? O Senhor está contigo! Não te esqueças nunca disso!”. É assim, com esta “positividade”, que diariamente o padre Diamantino Faustino começa os seus vídeos nas redes sociais. À saudação, junta uma breve – mesmo muito breve – reflexão sobre o santo do dia, um salmo ou um documento do Papa. Tudo em menos de um minuto e para um número cada vez mais crescente de “seguidores”, sobretudo na rede social TikTok onde já soma aproximadamente 1500. “A mensagem que pretendo passar é positiva, de complementaridade com o trabalho presencial que se faz na paróquia”, destaca, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o pároco de Linda-a-Velha. “Existe a ideia de que as redes sociais vão substituir a igreja e que as pessoas vão deixar de ir. É o contrário! As redes sociais trazem muito mais pessoas à Igreja. Há aqui uma sinergia e nós temos que a saber usar”, observa o sacerdote que, antes de março deste ano nunca tinha imaginado esta sua presença nas redes sociais. “Tudo começou com o confinamento, com a necessidade de estar ligado aos paroquianos, de chegar a todos com uma palavra de esperança. Foi esse o objetivo inicial. Na paróquia, tínhamos apenas um site, tipo blog, com as informações essenciais e não tínhamos página no Facebook ou no Instagram. A partir da necessidade de manter o contacto com as pessoas, criei a página da paróquia no Facebook e foi aí que começou a interação, sobretudo com as transmissões, em direto, das celebrações da Missa e da Oração de Vésperas – que ainda hoje se mantêm”, explica o sacerdote, de 47 anos.

 

Campos de missão

No início desta história, a rede social mais utilizada era o Facebook, mas a presença virtual do padre Diamantino não ficou por aí. “Apercebi-me que, nas redes sociais, as pessoas estão em sítios diferentes. Eu não tinha essa ideia até ter perguntado aos jovens se tinham visto a transmissão no Facebook. Um deles respondeu que eles não tinham página no Facebook e que isso é para os mais velhos. Depois, reparei que os adolescentes não estão tanto no Instagram, mas no TikTok”, conta o sacerdote, revelando que esta última rede social foi a “surpresa disto tudo”. “É a que tem mais seguidores das minhas contas pessoais e a que tem mais interação, até com gente mais afastada. As tais ‘periferias’ da Igreja surgem muito ali, naquela zona. Há pessoas a dizer: ‘Há muito tempo que não vou à igreja, mas gosto de o ouvir...’ ou ‘Eu sou ateu, mas gosto da sua mensagem. É uma mensagem positiva que nós precisamos’. Claro que também existem aquelas pessoas que são contra a Igreja e que estão sempre a dizer mal. Também é interessante ver como a mentalidade contra a Igreja surge e qual a linguagem que é usada”, observa o sacerdote.

 

Aproveitar positivamente as redes

Para o padre Diamantino, o aspeto positivo das redes sociais “é muito maior do que o negativo” e “merece ser aproveitado” do ponto de vista pastoral. A interação pode, simplesmente, surgir “através de uma presença”, ao longo do dia, num vídeo de 10 ou 15 segundos a dizer: “Agora vou visitar um doente, estou aqui com os jovens a fazer a desinfeção da igreja ou outras coisas que, ao longo do dia, vão surgindo”. “De repente, o prior deixou de ser alguém que as pessoas só veem ao Domingo e que não sabem bem o que é que ele faz” para ser alguém que está mais próximo, “através de uma visibilidade diária, com a intenção de mostrar, com simplicidade, aquilo que se faz em cada dia”. “Há uma mensagem, há uma Boa Nova que é preciso anunciar, e vamos anunciar neste formato e nesta maneira de estar”, afirma, entusiasmado, este pároco.

 

Planeamento mensal

Se em março os vídeos publicados nas redes sociais obedeciam ao “improviso” do momento, desde outubro que existe um plano mensal de conteúdos. “Tento sempre enquadrar com a liturgia. Se, por exemplo, há, nesse dia, a memória litúrgica de um santo, comento a vida desse santo ou santa. Se não houver, comento um versículo do salmo ou um documento do Papa. Por exemplo, em outubro, no mês das missões, comentei a respetiva mensagem do Papa Francisco. Agora, em novembro, programei, a partir da encíclica ‘Fratelli tutti’”, explica o sacerdote.

Para uma presença regular nas redes sociais o tempo gasto é determinante para se cumprir este objetivo. O padre Diamantino Faustino garante que esta missão obriga a algumas horas de trabalho, mas o resultado compensa. “De manhã, tenho que dedicar uma hora para fazer o vídeo, editá-lo e publicá-lo nas quatro redes sociais [Facebook, Instagram, Tiktok e YouTube]”, explica, revelando “nem sempre sai bem à primeira” e que chega a repetir o vídeo “três ou quatro vezes”. Depois, também há que tirar tempo para consultar as mensagens e os comentários. “Inicialmente, eu respondia a todos os comentários de todas as transmissões, mas agora é impossível responder a todos… mas tenho que gastar sempre algum tempo para responder aos comentários do vídeo da manhã, por exemplo. Também a meio da tarde terei que ter algum tempo para responder a esses comentários”, explica.

 

Empreendedor

O padre Diamantino chegou em 2014 à paróquia de Linda-a-Velha, na Vigararia de Oeiras, e foi no início do confinamento, em março deste ano, que “descobriu” um novo impulso para a sua missão. “Desde o ano 2000 – ano em que fui ordenado padre – até março de 2020, tinha a sensação de sermos ‘gestores de insolvência’ em relação a um determinado modelo de religiosidade em que a fé cristã está inserida. De repente, sinto-me um empreendedor de Startups! Apercebi-me que não preciso de ficar aqui passivamente à espera que a ‘insolvência’ se concretize, mas tenho meios e instrumentos que, ativamente, me põem a ir ao encontro das pessoas”, revela o pároco, garantido que o lema diocesano para o quadriénio 2017-2021, ‘Fazer da Igreja uma rede de relações fraternas’, nunca fez tanto sentido. “De repente e, literalmente, as redes sociais passaram a ser um instrumento. Sinto que há uma pro-atividade totalmente diferente da minha parte, enquanto pároco, e enquanto dinamizador destas redes de relações fraternas, ao ir ao encontro das pessoas, de quebrar uma série de preconceitos que as pessoas têm relação à Igreja e em relação aos padres, à nossa maneira de falar”, admite.

 

“Avançar e correr riscos”

O padre Diamantino Faustino assume ainda que não esteve “nem perto” de imaginar uma missão com uma presença online tão forte. “No meu caso, é uma realidade nova e há que andar para a frente. Estamos a desbravar a ‘floresta’ e qualquer dia vamos ter que parar e perceber onde é que chegámos, onde é que passámos… Mas alguém tem que ir à frente e não podemos estar à espera disto ou daquilo. É avançar e correr os riscos necessários”, afirma, confiante, o pároco de Linda-a-Velha, que conta, na paróquia, com a colaboração de cerca de 30 realidades e, em particular nesta fase de pandemia, com os jovens. “Em maio, quando pedi aos jovens para tratarem da parte do acolhimento, imediatamente pegaram no assunto e tratam de tudo, resolveram tudo, organizam tudo. Isso tem sido impressionante”, assegura.

 

Pelo nome

Apesar de não ter números concretos e atualizados da presença dos fiéis nas celebrações comunitárias, este sacerdote garante que a interação nas redes sociais levou a conhecer melhor muitas das pessoas com quem apenas falava de forma fugaz. “Nem sempre perguntava como é que as pessoas se chamavam, dizia apenas ‘bom dia’ e perguntava como estava. De repente, uma vez que já houve interação nas redes sociais, quando a pessoa vem à igreja eu já sei o nome. Há uma complementaridade muito importante. No fundo, na paróquia, a interação online com os paroquianos também precisa quase do mesmo tempo do que a interação presencial”, observa o padre Diamantino, garantindo que esta presença “é para continuar” e que o desafio passa agora por “transformar e passar do simples contacto à relação, à comunidade”.

 

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Facebook [@paroquia.lindaavelha] 2200 seguidores

Instagram [@padre_diamantino] 500 seguidores

TiKTok [@pe_diamantino] 1500 seguidores

YouTube [https://bit.ly/YTLinda-a-Velha] 370 subscritores

 

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A descoberta da música

O padre Diamantino Faustino, além da missão como pároco de Linda-a-Velha, é também subdiretor da Escola Diocesana de Música Sacra, instância do Instituto Diocesano da Formação Cristã do Patriarcado de Lisboa (IDFC-PL). Uma missão que revela outra descoberta que foi fazendo durante a adolescência e que se fortaleceu no seminário e durante os primeiros anos como sacerdote. “Quando estudei em Alcobaça e nas Caldas da Rainha, no final dos anos 80, não havia oferta educativa musical. A minha mãe trabalhava nas Caldas, numa mercearia, e a essa mercearia ia uma ex-professora de piano, já velhinha. Comecei a ter umas aulas de piano, dei-me bem com a música, a professora estava contente e eu lá ia tocando. Depois, aconteceu o típico: na paróquia não havia ninguém para tocar e lá fui eu, sem saber tocar nada. Imagino o sofrimento que deveria ser ao ouvirem-me”, recorda, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Chegado ao seminário, então com 20 anos, Diamantino percebeu então que “havia um outro mundo musical” para conhecer e esse conhecimento foi-se desenvolvendo, levando-o, durante os dois primeiros anos como sacerdote, a frequentar o Conservatório Nacional, onde fez o 5.º grau de iniciação ao órgão. “Em 2007, o Cardeal-Patriarca D. José Policarpo pediu-me para colaborar na Escola Diocesana de Música Sacra e então pensei que seria bom continuar o estudo em Música e fiz a licenciatura em Composição, na Escola Superior de Música de Lisboa, entre 2007 e 2010”, conta.

 

Escola Diocesana de Música Sacra “ao serviço da liturgia”

“Estar ao serviço da liturgia e ajudar as paróquias na qualidade da liturgia e na parte musical” é o objetivo da Escola Diocesana de Música Sacra (EDMS), garante o sub-diretor, padre Diamantino Faustino. Habitualmente com cerca de 50 alunos (este ano, com um número reduzido devido à pandemia), a EDMS, que está localizada na paróquia de Linda-a-Velha, conta com o Curso de Música Sacra, em pareceria com a Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo, onde é possível adquirir “uma formação básica para um cantor de um coro paroquial” e com especializações em “Diretor de Coro, Salmista e Organista”, explica o sacerdote.

Com uma dimensão mais significativa, a Escola de Música Nossa Senhora do Cabo é uma das instituições nacionais com melhores resultados no ensino artístico. A instituição, que está ligada à paróquia, tem atualmente cerca de 900 alunos no “regime articulado, supletivo, espaço arte, e também noutro projeto financiado pela Câmara Municipal de Oeiras, em que cria uma turma de oficina coral em cada uma das escolas do Ensino Básico do concelho”, apresenta o sacerdote.

 

Mais informações:

Escola Diocesana de Música Sacra: https://edmslisboa.webnode.pt

Escola de Música Nossa Senhora do Cabo: www.emnsc.net

texto e fotos por Filipe Teixeira
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