Pai de quatro filhos, o historiador e professor universitário Henrique Leitão lembrou que “a educação tem a ver com uma relação que se estabelece entre educador e educando” e que, por isso, “os pais são os primeiros educadores das crianças”. O Prémio Pessoa 2014 foi o orador do terceiro webinar ‘Família e Educação’, sobre ‘O valor dos adultos para as crianças e jovens’, e apelou aos pais para se “aproximarem das escolas dos filhos”.
No terceiro de quatro webinars que a Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa está a organizar, o professor universitário Henrique Leitão considerou que a educação é “uma proposta” de “uma certa maneira de viver”. “O que a gente faz quando educa, de alguma maneira, é que propõe uma certa maneira de viver a vida. Em última análise, é isto que se faz. Uma educação é uma proposta de uma certa maneira de viver. Os pais fazem obviamente isto em casa e os professores fazem-no num âmbito mais restrito”, referiu o orador deste encontro online, que decorreu na noite do passado dia 3 de dezembro. “Isto é importante perceber, porque muitas vezes os pais estão muito preocupados em mostrar uma espécie de coerência geral com um conjunto de valores ou princípios, que é importante e é necessário ser feito, mas não é o ponto central educativo. O ponto importante é que os filhos vejam uma vida que, de alguma maneira, se transformou sobre outras coisas”, acrescentou Henrique Leitão, que é pai de quatro filhos e avô de um neto, exemplificando com “a vida que se transformou pelo encontro com Cristo, antes de mais”, mas também “uma vida que se transformou e modificou pelo encontro com certos assuntos, que podem ser culturais, políticos, económicos”, e que “nos cativam” e “despertam o nosso interesse”. “É esta vida modificada que se torna imensamente educativa quando é observada, seja pelos filhos, seja pelos alunos”, reforçou.
“Aproximem-se das escolas”
Refletindo sobre ‘O valor dos adultos para as crianças e jovens’, o vencedor do Prémio Pessoa 2014 disse que falava na dupla qualidade de pai e de professor e lembrou que, “em todas as tarefas educativas, é o educador que está em jogo, antes de mais nada”. “Em todas as tarefas educativas, sejamos nós como pais, ou sejamos nós como professores, damo-nos conta que é o modo como nós vivemos a vida que é questionado. Como se pode propor uma vida que nós não tentamos melhorar? Este é o aspeto mais complicado das tarefas educativas, e é igual para pais e para professores”, garantiu.
Neste encontro formativo dirigido a pais e educadores, Henrique Leitão deixou o apelo a uma aproximação às escolas, estabelecendo laços. “Sugiro aos pais, incentivo-os, animo-os, para que se aproximem das escolas dos filhos, mas não se aproximarem só reivindicativamente ou quando há problemas – é muito desagradável se os pais só aparecem quando há problemas. Os pais devem conhecer os professores, os pais devem, de certa maneira, estabelecer algum laço de amizade com os professores, participar da vida da escola, saber o que acontece, estar nas festas, ir às reuniões, estar presentes”, aconselhou, lembrando que isso “supõe uma decisão na maneira de levar a educação dos filhos”. “E esta decisão, que é uma decisão estrita e séria, de acompanhar os filhos no momento da escola, penso que era preciso torná-la muito mais intensa, mais viva, mais alegre… mas certamente uma decisão mais forte”, observou.
Estabelecimento de laços supõe conhecimentos mútuos
Henrique Leitão tinha começado a sua intervenção por sublinhar a necessidade de os educadores “desenvolverem um certo tipo de relação” com os rapazes e raparigas, “seja um filho, seja um aluno”. “Há um estabelecimento de laços que supõe conhecimentos mútuos e que supõe um certo interesse e afetividade do educador sobre a criança ou jovem. Desta relação que se estabelece, idealmente, ativam-se as potencialidades que o educando tem, conseguindo que ele passe a viver a vida de uma maneira mais plena, mais cheia, de um modo que as suas capacidades se realizem com uma maior dimensão”, frisou o orador, sublinhando que “o laço fundamental educativo é um laço de uma certa relação entre pessoas”.
Este professor universitário destacou ainda que a educação “também tem, como outra dimensão, uma parte de transmissão de conhecimentos”. “Além do aspeto relacional, transmitem-se coisas entre a pessoa que educa e o que é educado. O que educa transmite alguma informação. Não só conhecimentos, mas competências”, destacou. “Não há maneira nenhuma de poder reduzir a educação a este passo de transmissão de conhecimentos. A educação é muito mais do que isso, e a tarefa educativa tem um âmbito muito maior. É exatamente por isso, por a educação ter a ver com uma relação que se estabelece entre educador e um educando, que os pais são os primeiros educadores das crianças. Porque o ambiente da família, neste acompanhamento constante, desde a infância, desde o nascimento, ao longo dos anos que vão passando e nessas relações que se vão estabelecendo, entre o pai e a mãe e a criança, é o ambiente ideal para se poder dar aquilo a que nós chamamos: educar”, apontou.
Pais são os primeiros educadores dos filhos
Para Henrique Leitão, “se a educação fosse só uma transmissão de conhecimentos”, então, “o critério para fazer bem a educação era procurar as pessoas que soubessem mais de um assunto para transmitir aos educandos”. “Se este fosse critério, inevitavelmente o especialista tornava-se no educador por exceção, preferido. A razão pela qual o especialista de um assunto não é o educador preferido – mas sim, os pais – é precisamente porque a transmissão de uma matéria, de um assunto, sendo importante, não é o coração do problema. Isto é o que nós, muitas vezes, reclamamos e dizemos: quem tem de educar, quem tem o primeiro direito e a responsabilidade educativa são os pais”, explicou este docente, apontando ainda que “não é pelo ordenamento jurídico das sociedades, não é pela tradição, não é por uma cultura cristã a razão pela qual os pais são os primeiros educadores dos filhos”, mas porque “tem que ver com a natureza do ato educativo”. “Isto deve estar consagrado nas leis, deve estar protegido”, manifestou.
Sendo a escola “um espaço educativo de imensa importância”, o orador referiu que “não se pode conceber um ensino da escola que tenha retirado os pais da cena”. “Isto é completamente inaceitável. A escola tem sempre, sempre, que trabalhar em ligação com os pais, respeitando este anexo educativo que já existe”, considerou ainda este professor universitário, sublinhando que “os professores não se resumem a transmissores de informação”. “Os professores têm que se aproximar desta relação com os educandos – é o que acontece nos bons professores, que acabam por estabelecer, também eles, uma relação com os educandos”, sentenciou. “Portanto, a relação entre a escola e a família tem que respeitar a natureza própria do ato educativo. É só isso que eu peço, e, enquanto professor, estou sempre muito atento a isso”, acrescentou.
Os heróis das escolas
Para o Prémio Pessoa 2014, “os pais têm este direito de educar os seus filhos, do qual não devem prescindir”, mas têm “este dever também”. “Os pais não podem simplesmente esquecer isto ou, como nós sabemos que é a tentação que está sempre sobre nós – esta tentação esteve também sobre mim, quando os meus filhos eram mais novos – que é a tentação de ‘largar’ um pouco a educação para cima das instituições de ensino. Porque a vida é complicada, porque temos pouco tempo, porque chegamos a casa cansados, porque temos outras preocupações, porque temos as nossas profissões… há uma espécie de um deslize de responsabilidade pelo qual nos vamos, ou podemos vir, a esquecer pouco a pouco deste nosso dever educativo e o vamos transferindo para a escola”, alertou.
Henrique Leitão reforçou o apelo a “respeitos mútuos dos dois lados”, pais e escola, considerando ainda que “as escolas estão cheias de verdadeiros heróis”. “Há professores do ensino básico, do ensino secundário que são verdadeiros heróis educativos, são modelos para todos nós, com quem os pais têm também muito a aprender”, garantiu.
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“O amor educa muito mais do que simplesmente um debitar matéria”
Após a intervenção de Henrique Leitão, Raquel Abecassis moderou uma mesa redonda, onde o casal Joana e José Quintela, casados há 23 anos e pais de oito filhos – cinco raparigas e três rapazes, entre os 22 e os 7 anos – testemunhou como a escola “é um desafio enorme, giro e bom”. “Partimos sempre de um pressuposto de confiança na escola e nos professores. A base é essa”, explicou Joana, falando ainda da sua participação na associação de pais “para ajudar, nunca para controlar”. “Quando temos de intervir, os professores sabem com quem estão a falar. É esse o ponto principal, darmo-nos a conhecer e sermos conhecidos para trabalharmos para o objetivo comum”, frisou.
Filipa Carvalho, professora de Inglês há 28 anos e atualmente diretora do Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro, participou também no webinar, admitindo que, “às vezes, são as famílias que viram as costas à escola e outras é a escola que vira as costas às famílias”. “Todos nós, os professores em geral, achamos que os pais podem participar na vida da escola, mas sentimos sempre que estão a entrar no nosso território, porque muitas vezes entram na escola não para ir às festas, nem para participar nas reuniões, mas sim para reivindicar e essas reivindicações nem sempre caem bem quando estamos cansados e aborrecidos”, destacou a docente, que é mãe de dois filhos, com 18 e 13 anos.
Maria Patrocínio, de 24 anos, esteve na mesa redonda a ‘representar’ os filhos. “Os meus pais não eram reivindicativos na escola, nem eram muito interventivos, mas eram muito interventivos em casa. Sempre tive esta liberdade de ser eu própria, de olhar para a escola e decidir o que queria retirar dali para mim, porque em casa podíamos olhar para isso em família e era importante sentir que me davam essas ferramentas”, referiu esta jovem, natural de Torres Vedras, formada em Gestão, descrevendo que sentia a casa como um “porto seguro”.
A encerrar este terceiro webinar, o assistente da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa sublinhou que “sai muito claro”, deste encontro online, “a importância do adulto na educação dos mais novos”. “Do adulto que é uma pessoa com uma certa liberdade, que se empenha na sua vida, que sabe o que quer da sua vida – esse é que é o educador e não simplesmente o que ensina coisas, mas aquele que testemunha um estilo de vida que torna atrativa a vida e faz com que a pessoa cresça no conhecimento da realidade e se possa tornar uma pessoa, também ela, adulta, livre e competente”, referiu o padre Duarte da Cunha, destacando a “espécie de aliança ideal entre professores e pais, que querem o mesmo”. “Mesmo sem deixar de valorizar como primordial a responsabilidade e a missão dos pais naquilo que é a própria relação mais profunda que têm, de afeto e amor. O amor educa muito mais do que simplesmente um debitar matéria”, garantiu o sacerdote.
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“Escola é enorme aliada dos pais na educação dos filhos”
Na abertura deste terceiro webinar dedicado à ‘Família e Educação’, o casal diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, Regiani e Tiago Líbano Monteiro, considerou que a “escola deve ser, e pode ser, uma enorme aliada dos pais na educação dos filhos”. “Mas, nem sempre é e há novos riscos que surgem”, observou Regiani, mãe de sete filhos. Para o marido, Tiago, “não há um equilíbrio igual para todas as famílias, nem há respostas certas ou erradas”, mas “cada um poderá encontrar uma ajuda real nesta reflexão profunda” que estão a ser os webinars. “Todos sabemos que o caminho não é nada fácil. Mas todos queremos percorrê-lo, para levarmos os nossos filhos a uma vida cheia de alegria. Enchamo-nos de coragem e esperança”, convidou.
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“Presença dos pais na realidade escolar não pode ser descurada”
D. Daniel Henriques, Bispo Auxiliar de Lisboa que acompanha a Pastoral da Família, esteve também neste terceiro webinar, destacando que, “depois da família, a escola é o espaço físico e humano onde as nossas crianças e os nossos jovens mais tempo passam, mais os ocupa e os absorve”. “Muito do seu carácter estrutura-se nas relações com os professores e com os colegas, em ambiente escolar, para o melhor e para o pior. A presença dos pais, nomeadamente dos pais cristãos, na realidade escolar, não pode ser descurada nem subestimada. A sua condição batismal e laical desafia-os a exercer, aí, uma verdadeira missão profética de anúncio e, se necessário for, também de denúncia, nesta expressão evangélica da luz, do sal e do fermento”, referiu.
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