
DOMINGO IV DO ADVENTO Ano B
“Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».”
Lc 1, 27
“Mas, como dizer-lhe “não”? / Como negar ao sol o ser direito de ser luz e iluminar? / Como regatear com Ele, / pôr-Lhe condições, pedir-Lhe garantias? / O amor é assim: eleger sem eleição. // E “faça-se” Lhe disse. / E recordo que o anjo sorriu / como se acabasse de tirar-lhe um grande peso de cima, / como se agora pudesse já atrever-se a regressar ao céu. / E um pássaro cruzou por trás da janela. / E a tarde pôs-se como se o sol sangrasse. / E o ar encheu-se de sinos / como se o próprio Deus estivesse contente.” (tradução livre de um poema de José Luís Martin Descalzo.)
Há um encanto e uma intimidade no encontro da Anunciação a Maria que só os poetas e os artistas conseguem captar profundamente. Não há melhor meditação do que contemplar a beleza das numerosas “anunciações” que podemos até visitar num écran de computador. De Fra Angelico a Grão Vasco, de Leonardo a El Greco, pelos traços de todos passa a delicadeza de um mistério que pede novos olhos e novos corações. Deus já não precisa de perguntar “onde estás?”, como no jardim do Éden, e em tantos outros lugares dos homens onde nos escondemos. Maria está, não é preciso chamá-la, e deseja em nome de todos nós ser encontrada. E o diálogo acontece, com o sabor do que é novo e primeiro: Deus totalmente a dar-se e a humanidade totalmente a recebê-l’O. E um suspense paira no ar, preso aos lábios de Maria antes de ela dizer: “Ecce…Fiat”!
Gostaríamos de fazer muitas coisas para Deus. Assim o exprimiu o rei David, acabando por ser lembrado de tudo o que Deus fez por ele. E connosco acontece o mesmo quando fazemos memória de tudo o que Deus já fez por nós. Maria deixa Deus entrar nela. Consente activamente e num abandono total que as obras de Deus se realizem nela e por ela. Se deixamos que Ele entre em nossa casa, mesmo que esteja desarrumada, é para que Ele viva em nós e nos transforme. Não se trata de trabalhar para Deus, mas maravilharmo-nos que Ele queira fazer tudo connosco. Não é tão diferente “fazer para” e “fazer com”? Lembra o cuidado com aqueles que amamos: se são pequenos e frágeis, fazemos “para”, mas quando crescem e se robustecem, fazemos “com”. Assim também nos projectos e empreendimentos humanos, na vida das famílias e das comunidades, na resolução de problemas e na ousadia de sonhar: tudo é mais de todos e para todos quanto mais é feito com todos! E Deus não exclui ninguém da sua empresa!
Ao “faça-se” de Maria queremos juntar os nossos. Mesmo frágeis e inconstantes, é sempre possível renová-los. Acreditando que “a Deus nada é impossível” e que Ele conta com os nossos “possíveis”. Como que parafraseando uma expressão de um movimento cristão: “Cristo com(igo), maioria absoluta”!
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