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P. Manuel Barbosa, scj
Idosos no futuro da Europa

A COMECE (Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia) e a FACFE (Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa) acabam de nos oferecer uma longa e fundamentada reflexão sobre “os idosos e o futuro da Europa, solidariedade e cuidado intergeracionais em tempos de alterações demográficas”. Em tempo de forte pandemia, em que os idosos continuam a ser os mais atingidos, vale a pena pensar no que está contido neste documento, impossível de abordar de modo abrangente nestas breves notas (tradução em: www.conferenciaepiscopal.pt).

Considerando o papel das pessoas idosos nas nossas comunidades, como um dom e um recurso, o texto acentua que os idosos partilham a sua sabedoria, transmitindo conhecimento, valores, fé e esperança à geração seguinte. Como recetores de cuidados, dão um testemunho crucial às gerações mais jovens: “cuidar dos idosos constitui uma boa advertência para um círculo de vida mais amplo e para a dignidade inalienável da vida humana, tanto na saúde como na doença”. Como cuidadoras que são, as pessoas idosas são agentes de solidariedade intergeracional.

Nos lares, famílias, comunidades e sociedade em geral, os idosos estão no centro da pandemia por serem mais vulneráveis ao vírus: “a crise da Covid-19 revelou a fragilidade de uma sociedade em que os idosos estão na periferia da vida quotidiana”. O risco de discriminação no acesso dos idosos aos cuidados de saúde, os maus tratos e a solidão são sérias preocupações para todos nós, pois sem idosos não há futuro. É importante que eles mantenham contacto humano e espiritual com os membros das suas famílias e com as pessoas mais próximas, mesmo por via digital.

O documento apresenta propostas concretas para a solidariedade intergeracional europeia, que simplesmente elenco: necessidade de reconhecer o desequilíbrio entre gerações; reconhecer o valor do trabalho de cuidados grátis a familiares dependentes; apoiar modalidades de trabalho flexíveis para um melhor equilíbrio entre trabalho e vida; dar às famílias e às gerações mais tempo para passarem juntas.

Deve haver um investimento constante nos sistemas de saúde, dando extrema atenção aos cuidados de saúde dos adultos mais velhos e estabelecendo as condições necessárias para respeitar a sua dignidade no período da sua vida até à morte natural. “É necessário fazer investimentos para melhorar os cuidados paliativos, o que não inclui apenas os cuidados aos adultos mais velhos, mas por grupos etários, excluindo qualquer forma de eutanásia ou de antecipação da morte”.

A reflexão acentua ainda a necessidade de desenvolver um sistema flexível e diversificado de cuidados a longo prazo, “apoiando as famílias que cuidam de um familiar em casa, promovendo novas formas de cuidados continuados para a inclusão social, garantindo o acesso a cuidados continuados institucionais de qualidade e a preços comportáveis, combatendo a pobreza na velhice, oferecendo habitação decente e melhores sistemas de pensões”. No seu envelhecimento ativo, as pessoas idosas são um precioso contributo para as comunidades sociais e eclesiais.

O documento termina com recomendações políticas aos organismos sociais e políticos da União Europeia, com responsabilidade acrescida para Portugal, que a ela presidirá em 2021.

A época de Natal que celebramos em situação de grave pandemia não é certamente propícia para reflexões tão alongadas. Mesmo assim ousei trazer aqui alguns acenos, desejando que a leitura mais atenta de todo o documento contribua para uma atenção concreta, responsável e decidida de todos nós para com os nossos irmãos mais idosos na Europa e no nosso País.

Santo Natal, na contemplação da família de Nazaré, Jesus, Maria e José!