SAGRADA FAMÍLIA Ano B
“O pai e a mãe do Menino Jesus
estavam admirados com o que d’Ele se dizia.”
Lc 2, 33
É preciso silêncio e disponibilidade para admirar. Deixarmo-nos tocar, deslumbrar, ou espantar exige uma abertura singular a alguém, a algo, a palavras e a sinais inesperados, mas cheios de uma graça indizível. Somos convidados para um mistério que não dominamos, para uma grandeza que não esperávamos. Está no olhar embevecido dos pais sobre o filho recém-nascido ao colo, dos seus primeiros passos, e de tudo o que é primeira vez na aventura de crescer. E também na paz que a mão amiga oferece, na esperança que a palavra luminosa traz, na presença no momento doloroso. A lista das nossas admirações poderia ser uma bela tarefa de novo ano.
Admiramos pouco a paciência. Apreciamos a rapidez com que tudo pode ser feito, a eficácia dos nossos empreendimentos, a azáfama dos nossos dias. Por isso a paciência parece perda de tempo. Mesmo sabendo que ela é essencial para a melhor compreensão da vida, dos outros e do próprio Deus. Pois como olhar para história da salvação sem esta admiração pela lenta paciência de Deus em escrever connosco uma história familiar? A disponibilidade para acolher a sua palavra, e sobretudo a encarnação de Jesus no seio familiar de Maria e José reclamam uma paciência amorosa. Não nos admiramos com a paciente aprendizagem que os pais de Jesus têm de fazer no conhecimento de Jesus? Na consagração no Templo fazem uma descoberta desconcertante: não são proprietários do seu filho. Como todos os pais, irão unir intimidade e responsabilidade na educação de um filho. Eles, no admirável mistério de ajudar a crescer “Deus – que se fez – connosco”.
Associamos tradicionalmente a paciência a alguma sabedoria que a idade também traz. Embora a nossa relação com a vida no seu ocaso e até com os nossos maiores nem sempre seja paciente. Muito noticiados nestes tempos difíceis de pandemia, o esquecimento e o descarte a que os votamos, na sociedade sem tempo, sem casas e sem carinho que construímos, é uma interpelação incómoda. Ver assim no evangelho de hoje como dois velhinhos, Simeão e Ana, reconhecem e anunciam o filho de Maria e José como o Salvador é encantador. A admiração nascida da paciência, da espera fiel, da confiança que Deus “pode tardar mas não falha” enchia as suas vidas. Da sua admiração nasce a admiração de todos os que os ouviam falar de Jesus.
A “santa paciência das nossas famílias” pode ser algo que ainda não admiramos suficientemente. Que alguma tristeza das festas deste ano pandémico nos ajude a descobri-la. E a admirarmo-nos mais uns aos outros, não tanto pela exterioridade de festas que passam depressa, mas pela graça de Deus que se manifesta em todos. Com admirável paciência!
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