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Celebrações de Natal na Sé de Lisboa
“Deixemo-nos surpreender pela constante e inesgotável lição do Natal”
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Chegar “ao muito pelo pouco, ao grande pelo pequeno e à humanidade de todos pela atenção a cada um” foi o caminho sugerido pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa para responder à pandemia e às suas consequências e, assim, ajudar a viver o verdadeiro sentido do Natal.

 

Na noite de Natal, na Sé de Lisboa, o Cardeal-Patriarca começou por lembrar o contexto particular em que decorreram as habituais celebrações natalícias, num ano “tão marcado pela pandemia e as suas consequências no campo da saúde, do trabalho e da vida em geral”, e desafiou a olhar para o que originou o Natal. “Importa, porém, não deixar que outros motivos diluam ou encubram o que realmente originou o Natal. Muito menos que o contradigam, como se fizéssemos deste dia algo diferente do que ele foi”, alertou D. Manuel Clemente, na celebração de 24 de dezembro, reforçando que “a originalidade do nascimento de Cristo, como admirou na altura e nos admira agora, interroga-nos a todos e esclarece os crentes sobre aquilo a que podemos chamar a surpresa de Deus neste mundo”.

 

“Cada um como sinal de Deus”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa prosseguiu depois a sua reflexão apontando para o presépio e para o “concreto daquela situação e respetivos circunstantes” que envolveram o nascimento de Jesus. “Creio que esta fixação no presépio de Belém nos ajudará especialmente no momento atual”, assegurou. “Tudo começou daquele modo, num lugar recôndito e tão diverso de Roma com o seu imperador, ou mesmo de Jerusalém com o seu rei. Isto mesmo nos importa, para sabermos como fazer agora, diante da vida própria e alheia, como nos toca a todos e a tanta gente pesa”, referiu. “Se quisermos realmente celebrar e viver este Natal de 2020, façamo-lo à única luz daquela noite em Belém de Judá. Aceitemos cada um como sinal de Deus a aparecer neste mundo, sobretudo nos mais carentes e frágeis. O presépio onde nasceu pode ser agora a cama dum hospital, ou o leito doméstico dum doente. A solidão que envolvia aquele reduzido grupo, pode ser hoje a que entristece tantas pessoas sós e à espera da visita que tarda ou da mensagem que não chega. Sejamos para os outros os presentes que o Menino não teve. Neles nos espera, no grande presépio do mundo”, apontou D. Manuel Clemente, na noite de Natal.

 

“Grandes corações”
Na Sé de Lisboa, o Cardeal-Patriarca referiu ainda que a “eterna lição do Natal de Cristo é o modo de Deus nos acontecer”, e apelou à conversão “ao modo divino de ser e de fazer”. “Dois milénios depois, estamos nós aqui, celebrando e confirmando a força invencível da fragilidade divina”, observou D. Manuel Clemente, assegurando que “o Natal sempre cresce, com a força que só Deus lhe garante”. “Aprendemos assim o certíssimo modo de ir resolvendo as coisas, mesmo as mais difíceis. Chegando ao muito pelo pouco, ao grande pelo pequeno e à humanidade de todos pela atenção a cada um. Mais do que com grandiosos projetos e meios formidáveis, as grandes obras começam com grandes corações. Corações que se fortalecem na medida em que acolhem o Coração divino. Esse mesmo que pulsou naquela noite abençoada”, assinalou.

 

Avaliação

Na manhã do dia de Natal, o Cardeal-Patriarca de Lisboa começou por lembrar todos aqueles que, direta ou indiretamente, são atingidos pela pandemia, os que estão na linha da frente no tratamento dos doentes e desafiou os cristãos a fazerem uma avaliação sobre a “lição do Natal”. “O Natal de Cristo tornou-se lição universal e este dia é o seu exame para todos. Como nos classificaremos este ano, depois das dificuldades enfrentadas, pessoal, social e até eclesialmente falando? Positiva é certamente a nota relativa à vontade de responder às incidências da pandemia, por entidades públicas e particulares. Vontade de responder que foi geral e muitas vezes abnegada, aumentando o esforço e superando lacunas, também por parte de paróquias e instituições religiosas. Mas é essa boa vontade, solidária, competente e criativa, que permitirá aumentar ainda mais a classificação geral das provas natalícias de ano para ano”, apontou D. Manuel Clemente, no dia 25 de dezembro, garantindo que, se a lição foi apreendida e “se tornou tão forte e duradoura”, “tal se deve essencialmente ao facto de ser divina, surpreendentemente divina”. “As lições que a humanidade pretende dar-se só por si, valem o que valem, por vezes muito, mas sempre de menos. Nunca conseguem ir além do humano, demasiadamente humano, mesmo que se destinem a todos, ou a todos se queiram impor”, observou.

 

O presépio, hoje

Na sua homilia, o Cardeal-Patriarca alertou ainda para alguns apelidados ‘progressos civilizacionais’ que vão surgindo e que são “autênticos retrocessos humanitários”, exemplificando com “a integralidade da vida humana, quando deixa de ser legalmente protegida em todo o seu devir e não se usam os recursos que o progresso científico nos oferece para o fazer, de forma positiva e generalizada, até ao termo natural de cada um”.

Na Sé de Lisboa, D. Manuel Clemente pediu ainda aos fiéis para se deixarem “surpreender pela constante e inesgotável lição do Natal”. “Este é o presépio a que devemos acorrer como os pastores, gente pobre e disponível; ou depois os magos, gente desinstalada e à procura. Com todas as figurações que o seu dia-a-dia nos trouxer, aí mesmo e só aí ‘veremos a sua glória’”, referiu.

Após a celebração, no Largo da Sé, o Patriarca de Lisboa falou aos jornalistas e aproveitou a oportunidade para reforçar a “grande lição” trazida pelo Natal. “Tenhamos esta atenção ao preciso, nas nossas casas, nas nossas localidades, nos nossos trabalhos, nos hospitais: atenção ao que está próximo, ao serviço que é preciso prestar agora, no que é a possibilidade de, pelo menos, dar esperança às pessoas, e companhia. A partir daí, as coisas vão caminhando e o horizonte vai-se abrindo. Essa é a grande lição do Natal: ir ao grande pelo pequeno, mas vivê-lo intensamente”, frisou.

Na mesma ocasião, D. Manuel Clemente elegeu o “problema ecológico”, acentuado pela pandemia, como algo “para levar muito a sério”. A Humanidade tem de lutar para que “as coisas não se degradem, antes pelo contrário, para que a natureza se recupere, que não haja mais pandemias e outros problemas que nascem aí, numa ecologia maltratada”, alertou.

 

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Mensagem de Natal: “A porta para o futuro está em cada presente”

Na habitual mensagem de Natal, emitida na noite de 24 de dezembro, na RTP1 e RR, o Cardeal-Patriarca de Lisboa dirigiu-se a todos os que estão na “primeira linha” do combate à pandemia e assegurou que, aquilo que “aconteceu em Belém e que celebramos a cada 25 de dezembro”, “responde à atual situação que a pandemia nos trouxe”. “Para nós, crentes – e também para muitos outros, através de uma convicção que ultrapassa as fronteiras confessionais –, o que ali aconteceu, sendo, aparentemente, tão pouco, mas que ganhou toda esta repercussão, mostra-nos o modo divino de ser e acontecer neste mundo”, afirmou. “Colhamos esta lição” – pediu D. Manuel Clemente –, a começar “por aquilo que é mais pequeno e que é mais próximo, em cada pessoa que se apresenta, em cada problema que temos que enfrentar”. “A porta para o futuro está em cada presente. E o Natal diz-nos isso mesmo: é a maneira convicta, sincera como nós respondemos ao problema de quem está diante de nós”, prosseguiu.

 

 

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Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus e Dia Mundial da Paz

“Que a cultura do cuidado se torne a cultura do dia-a-dia”

No primeiro dia do ano e Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, o Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou todos aqueles que se “desdobram em cuidados” pelos outros e pediu um aumento da “cultura do cuidado”, seguindo o apelo do Papa Francisco na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, assinalado no mesmo dia. “A pandemia obrigou-nos a cuidados reforçados, não só com a própria saúde, mas também com a saúde dos outros. E, durante o último ano, foram tantos, e em tanta parte, que se redobraram em cuidados – às vezes, até com risco da sua própria saúde – para que aos outros não faltasse aquilo que lhes devemos. É bom recordar tanto trabalho feito, tanta canseira, tanta dedicação, tanto risco para que os cuidados não faltassem. Todos os cuidadores nós temos presentes no nosso coração em ação de graças”, assegurou D. Manuel Clemente, na Igreja de Cristo Rei da Portela.

Segundo o Cardeal-Patriarca, o cuidado pelos outros “é a maneira que Deus tem de atuar no mundo”. “Para nós, que somos crentes, o cuidado não acontece por acaso. Nós acreditamos num Deus que cuida de nós. Mas não cuida de nós de fora de nós. O lugar de Deus atuar no mundo é o coração de cada um, ou seja, o íntimo de cada um.

Não foi difícil, para quem é crente, reconhecer a presença de Deus no cuidado de tantos cuidadores que foram os braços, as mãos, o olhar, do próprio Deus em relação aos outros”, referiu.

 

“Sentimentos de proximidade”

No início deste novo ano dedicado ao cuidado com a criação – nos cinco anos da encíclica Laudato si’ –, à Família e à figura de São José, o Cardeal-Patriarca apresenta estes “motivos de celebração”, propostos pelo Papa Francisco, como oportunidade “para que também a cultura do cuidado se torne a cultura do dia-a-dia”. “A cultura do cuidado é cultivar, em cada um de nós, os sentimentos de proximidade em relação a tudo e a todos, mesmo quando, fisicamente, não é possível fazer. Há sempre um telefonema que podemos fazer, uma mensagem que podemos mandar, há sempre uma maneira de chegar aos outros, porque o coração vence todas as distâncias e é muito criativo, como o próprio coração de Deus”, indicou D. Manuel Clemente.

Na homilia da Missa a 1 de janeiro, que foi transmitida pela TVI, o Cardeal-Patriarca apontou o “ambiente familiar em que Jesus cresce” como uma “grande lição para todos nós”. “Uma das coisas mais graves desta pandemia é quando atinge pessoas que não têm já vínculos familiares e estão muito sós e, por isso, ainda mais desamparadas. Todo o cuidado que nós tivermos com a família é evangélico, é religioso, que quer dizer: é para cumprir a vontade de Deus”, realçou D. Manuel Clemente, desafiando a olhar a “realidade familiar” de Jesus “como a base da medida social e da vida da Igreja”. “A Igreja é a família de Deus”, frisou.

 

Veja as fotos da Missa da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, na Portela: www.flickr.com/patriarcadodelisboa

texto e fotos por Filipe Teixeira
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