É urgente encontrar novas respostas onde a economia está ao serviço do bem comum. Precisamos cada vez mais de uma Economia que faça viver! Assim como o Papa terminou o evento “Economia de Francisco” dirigido a jovens empreendedores de todo o mundo com uma exortação final: “Não tenham medo de se envolver e tocar a alma das cidades com o olhar de Jesus. Não tenham medo, porque ninguém se salva sozinho. Ninguém se salva sozinho. A vocês jovens, provenientes de 115 países, dirijo o convite a reconhecer que necessitamos uns dos outros para dar vida a esta cultura económica, capaz de fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer esperanças, enfaixar feridas e criar relações.”
O Protocolo de Parceria, recentemente celebrado entre a Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) e a SOUMA, tem precisamente este cunho.
A SOUMA é uma iniciativa da Amigos da Estrela – Associação de Solidariedade Social que foi fundada, em 2017, por um grupo de 21 fundadores, sendo sua responsável Maria João Sousa. Confrontada com o isolamento e a exclusão de pessoas em idade ativa, com filhos, Maria João Sousa, que tinha sido fundadora e feito parte da equipa da Refood da Estrela, entre 2013 e 2019, sentiu que era necessário e urgente “ir a fundo” no apoio prestado às pessoas mais fragilizadas. O combate à fome, agravado desde o início da pandemia, o desemprego, o alcoolismo, as toxicodependências, entre outros, exigiam um acompanhamento individualizado e permanente, que pudesse, com o tempo e no colmatar de outras tantas necessidades, possibilitar a transformação e autonomização de cada um. A SOUMA surge, assim, assente numa convicção de que cada ser humano é “uma pessoa” com um valor único intrínseco, devendo o seu acompanhamento, em caso de necessidade, responder a esta mesma singularidade e dignidade.
Hoje, sustentada, na retaguarda, por associados, doadores permanentes e por outros mais pontuais, intervém na grande Lisboa com a colaboração de mais de 100 robustos parceiros, tantos quanto possam ser necessários ao reerguer de cada pessoa ao seu cuidado. O precioso apoio do Banco Alimentar já não era suficiente. Outras tantas áreas, da saúde ao jurídico, à habitação e emprego, precisavam de respostas igualmente fundamentais, que só poderiam ser dadas com o envolvimento de tantos outros parceiros, e numa estreita relação com outras organizações (hoje são 17), e tantos assistentes sociais, que nunca deixam de lhe responder positivamente.
O alargamento desta rede deve-se à credibilidade que foi conquistando, desde a sua fundação, sendo esta mesma uma das razões porque a Cáritas Diocesana de Lisboa decide cooperar com a sua atividade, cedendo, para o exercício da sua missão, a utilização do espaço da sua antiga Loja Solidária, em Campolide. Nas palavras de Luís Macieira Fragoso, Presidente da CDL, a SOUMA é, por um lado, “exemplo de voluntariado de grande autonomia e dinamismo, na resposta às situações de pobreza, sendo esclarecedor o apoio alimentar que presta, e por outro, trata-se de uma organização constituída por voluntários maioritariamente católicos, sendo muito importante para a CDL, enquanto organismo oficial da Igreja, a ligação a organizações como a SOUMA.” O Presidente da CDL esclarece ainda que “esta parceria está em linha com uma decisão estratégica da sua Direção, nomeadamente a de confiar serviços locais a outros ou de apoiar quem, no terreno, faz melhor do que a própria CDL, e que o serviço, até recentemente prestado pela Loja Solidária, irá ser oferecido por uma rede de instituições de voluntários semelhantes à SOUMA”.
Tendo ficado sem um espaço, onde pudesse fazer o armazenamento e distribuição de alimentos, e onde pudesse continuar a confecionar alguns dos artigos dos ateliers que vivem e promovem a “Economia Circular” - e cuja venda serve a sua sustentabilidade, a SOUMA dispõe agora de cerca de 500m2 para o fazer. Este o “milagre”, nas palavras de Maria João Sousa, que vai poder servir, ao momento, 92 famílias, com cerca de 240 pessoas abrangidas, numa operação sustentada por mais de 300 voluntários – um verdadeiro “Exercito do bem”, de pessoas que vive e que deseja, com o que é e tem, ser de “abraço demorado” a quem não está na sua situação. Cerca de 160 voluntários confecionam as refeições em casa, a partir das suas próprias despensas ou de alimentos que lhes são fornecidos; outros levam-nas congeladas às famílias nos próprios veículos; outros ainda (cerca de 70) fazem acompanhamento por telefone, havendo quem o faça (emigrantes portugueses) a partir dos países onde vivem.
Numa operação porta-a-porta, que sai de Campolide todas as segundas-feiras, a SOUMA entrega a cada família refeições e outros alimentos para uma semana, num total de cerca de 3000 refeições diversificadas e de grande qualidade nutricional, para poderem responder individualmente às necessidades de cada um, sendo seu fim último, não a permanente dependência fomentada por um mero assistencialismo, incapaz de ir além do que é básico, mas a transformação e autonomização de pessoas e famílias. Das 450 pessoas acompanhadas em maio de 2020, cerca de 210 encontraram soluções autonomizantes nas suas áreas de residência. Não é de todo fácil o retomar do caminho pelo próprio pé, sobretudo quando, por razões de doença física ou mental, o emprego, por exemplo, se torna menos acessível. Mas há sempre algo que se pode encontrar à medida da situação de cada um. Por isso, Maria João Sousa insiste que é preciso “ser-se ousado e não ter medo de correr para o outro”.
Ao contrário da saudação por cotovelos que se tocam ou por acenos, em contexto de pandemia é a simbologia do “abraço demorado” que melhor define a forma de atuar da SOUMA, alavancada pela rede de parceiros que consigo cooperam. A atribuição do estatuto de IPSS é um processo em curso, para poder responder com maior sustentabilidade e eficácia a um crescente número de pessoas a precisar da sua “paz”. Sendo enorme o compromisso assumido com cada uma delas, tudo fazer para o poder honrar, é o caminho destemido do amor da SOUMA, uma real manifestação do divino entre nós.
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