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Carmo Diniz
Sonhai e ficareis aquém. No 75º aniversário do começo do Opus Dei em Portugal

Quando a providência permitiu o encontro não previsto entre Lúcia, a vidente de Fátima, e São Josemaria, o fundador do Opus Dei, em Fevereiro de 1945 na cidade galega de Tuy, e que, por sugestão e facilitamento daquela, se concretizasse uma viagem imediata e igualmente imprevista a Portugal, jogava-se não só a possibilidade apostólica de expandir a mensagem do Opus Dei a Portugal e à língua portuguesa, mas o começo da manifestação da evidência do carácter universal da mensagem do Opus Dei quer para a Igreja quer para todo o mundo.


Um ano mais tarde, em 5 de Fevereiro de 1946, chegavam para uma vida estável os primeiros membros da Obra à cidade universitária de Coimbra. Nas palavras do fundador “as portas de Portugal foram-nos abertas pela Virgem, pelas mãos da Irmã Lúcia”, agora tratava-se de entrar e “amar apaixonadamente” este nosso mundo.

 

Aqueles três primeiros viviam uma realidade que os transcendia de todo, mas confiavam que o Senhor da História a escreveria bem mais e melhor do que eles a pudessem sonhar, sendo que, firmes nisso, não podiam deixar de estar conscientes da imensa dificuldade que à frente deles se agigantava.

 

É justo e conveniente considerarmos alguns aspectos desse desafio a que respondiam com um valente: vale a pena!

 

Antes de mais perceber que naquelas datas, e durante muitos anos, ainda não tinha havido o Concílio Vaticano II, e, com isso, que toda a frescura, densidade e alcance vital da mensagem espiritual que tinham para oferecer não era comum, nem no mundo nem na Igreja.

 

Afirmar o chamamento universal à santidade – que todos sem excepção estão chamados a ser santos e que toda a realidade vital é santificável –, que o lugar de santificação dos fiéis leigos é no mundo, não nas sacristias, que a sua realidade imediata é a sua catedral, que a sua liberdade é o seu ofício divino, que o seu trabalho, a sua vida familiar, o seu descanso é parte da própria liturgia, -tudo isso- era com frequência percepcionado como heresia e, para a generalidade, chocava, no mundo e na Igreja.

 

Não tinham sinais externos de autoridade para falar de Deus – que não o mandato recebido no Baptismo –, nem o selo de uma referência institucional universalmente aceite. Tinham apenas a sua vida, absolutamente igual a de qualquer fiel leigo, e a sua fé: nem mais, nem menos!

 

No entanto percebiam-se a si próprios, e os outros neles, como privilegiados e protagonistas de uma excitante odisseia, de uma grande e maravilhosa aventura, natural e sobrenatural, humana e divina, que lhes ganhava perspetiva de altura e profundidade na sua vida, que apontava horizontes de eternidade e infinitude às mais pequenas ocorrências de cada dia como quando descobrimos o sol nas suas sombras. Estavam espantados ao verem abrir-se nos seus dias os caminhos divinos da terra

 

Novidade tão antiga como o Evangelho, como a dos primeiros cristãos, mas que o seu testemunhar, nos anos do seu esquecimento, não lhes podemos deixar de agradecer porque valeu e vale a pena!

 

Hoje, tal como naqueles começos, desafiantes e exigentes, há que redescobrir o testemunho e a mensagem de São Josemaria que sempre nos ajuda a olhar com realismo para estes tempos, a saber crescer para dentro cheios de esperança, semeando a fé e colhendo optimismo, paz e alegria.