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Jesus viu a ternura de Deus em São José
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Tal como mencionado artigo do mês passado, nos artigos do Familiarmente deste ano vamos responder ao desafio do Papa Francisco, colocado na sua Carta Apostólica ‘Patris corde’ (‘Com coração de Pai’), no sentido de aprofundar a devoção a São José e de olhar para a sua autoridade de Pai e padroeiro da Igreja.

 

Neste sentido, pedimos a várias pessoas para testemunharem a sua vida, confrontando-a com as várias dimensões/virtudes da personalidade de São José oferecidas pelo Papa Francisco:

1) Pai amado - Pai que foi sempre amado pelo povo de Cristão

2) Pai na ternura - Jesus viu a ternura Deus em São José

3) Pai na obediência - Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo

4) Pai no acolhimento - José acolhe Maria sem condições prévias. Confia nas palavras do anjo

5) Pai com coragem criativa - O Céu intervém confiando na coragem criativa deste homem

6) Pai trabalhador - São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da família.

7) Pai na sombra - a sombra na Terra do Pai Celeste: guarda-o, protege-o, segue os seus passos sem nunca se afastar dele.

 

Neste segundo número vamos aprofundar a dimensão de São José, Pai na Ternura.

Convidamo-vos a aprofundar estes pontos lendo a carta apostólica ‘Patris corde’.

 

____________ 

 

Testemunho de um pai, recasado pela Igreja, a propósito da figura de São José

 

Nos meus tempos de juventude não fui devoto de São José, reconhecendo apenas ter sido um humilde carpinteiro, esposo de Maria e pai de Jesus. Depois de casar e ser pai de dois filhos, o meu entendimento foi-se abrindo progressivamente. Jesus viu a ternura de Deus em São José – grande ideal esse que vamos imaginando como seria possível seguir. Mas a realidade é sempre diferente, caminhando pelo dia-a-dia à procura do melhor possível, sem desistir. Com as minhas capacidades e fraquezas, fui ensinando os meus filhos a andar, alimentando-os, orientando-os na obediência e na autoconfiança, acarinhando-os e tudo o mais que os filhos necessitam.

Com a rutura do meu casamento o sentimento sobre São José tornou-se bastante presente. Num primeiro dia de maio, dia de São José Operário, eu encontrava-me em peregrinação pela Terra Santa e o meu casamento vivia uma crise profunda. Num momento de oração, senti-me interpelado a meditar sobre as imensas dificuldades vividas por São José no seu tempo. Se, por vezes, parece que Deus não está connosco, isso não quer dizer que ele nos tenha abandonado. Pelo contrário, Ele confia em nós e na nossa capacidade de cumprir a Sua vontade, mesmo que, no momento, não consigamos entender qual é. Isto encorajou-me a continuar a zelar pela minha própria família e a tentar ultrapassar os desafios de então, procurando uma felicidade mais verdadeira dentro de casa.

Desde então que as imagens de São José, com o Menino ao colo ou pela Sua mão, nunca mais me passaram indiferentes. Foram particularmente inspiradoras durante o período que vivi divorciado e sozinho com os meus filhos. Inicialmente, o meu estado de pai divorciado foi uma desilusão, mas eu tinha que avançar. Não ficar preso a ideias, mas antes assumir a realidade e a própria história. Foi um tempo de aceitação e aprofundamento da minha fé em Jesus Cristo, tomando iniciativas para benefício dos mais carenciados, com a esperança que tudo faz sentido no plano que Deus tem para mim.

Foi um período de discernimento progressivamente libertador, culminando com o reconhecimento de nulidade do matrimónio pelo tribunal eclesiástico. Nas angústias de São José, a vontade de Deus prevaleceu sempre. Creio que foi a ternura vinda de Deus que me amparou e perdoou. Entendi bem que o nosso Mestre também conta com as minhas fraquezas e medos, para além das capacidades e sucessos. Entre todos os planos que fiz e ainda faço, Deus vê sempre mais e melhor, reservando surpresas boas para a minha vida.

A caminho de Fátima encontrei a minha atual esposa, à data também divorciada e com dois filhos pequenos. Na dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-me a escolher iluminando o caminho. São José escolheu a esperança e lutou pela realidade que não planeou, mas que se lhe apresentava à sua frente comunicada pelo Anjo de Deus. Nós decidimos reconstruir a nossa vida familiar, com os nossos quatro filhos pequenos, com coragem e responsabilidade. Sabíamos que essa decisão só nos traria felicidade se fosse totalmente enraizada em Deus. E mesmo que o nosso coração nos censurasse de qualquer coisa, Deus «é maior que o nosso coração e conhece tudo» (1 Jo 3, 20).

A figura da Sagrada Família tornou-se uma referência principal nas nossas vidas quando, entretanto, também a minha esposa viu declarado nulo o seu primeiro casamento pelo tribunal eclesiástico e, livremente, casámos na Igreja para entrarmos numa comunhão mais plena de vida e amor. Deus confiou em São José para acolher Maria e assumir a paternidade legal de Jesus. São José acolheu conscientemente Maria e um filho que não era seu, assumindo todas as responsabilidades dessa decisão à luz da sua fé, doando a sua vida e o seu trabalho para defender e cuidar da Sagrada Família. No dia do nosso casamento, todos os convidados receberam uma imagem da Sagrada Família. Para mim foi um sinal do amor pela minha esposa e pelos meus quatro filhos - dois biológicos e dois de coração. Colocando o amor conjugal no centro, iluminado pela vontade de Deus, a orientação dos filhos tem-se sustentado pelo exemplo. Ensinam-se valores, atua-se com amor, respeitam-se as diferentes possibilidades e expectativas de cada um, considerando os diferentes contextos familiares. Procuram-se caminhos de harmonia numa família reconstruída e heterogénea.

São José faz-me recordar que ele fez tudo o que devia fazer no tempo próprio, mas Deus não quis que tivesse um papel imprescindível na vida adulta do seu filho Jesus. Hoje, com os meus filhos quase criados, medito muitas vezes nisso. “Cada filho traz sempre consigo um mistério, algo de inédito (…). Um pai sente que completou a sua ação educativa e viveu plenamente a paternidade, apenas quando se tornou «inútil», quando vê que o filho se torna autónomo e caminha sozinho pelas sendas da vida, quando se coloca na situação de José, que sempre soube que aquele Menino não era seu: fora simplesmente confiado aos seus cuidados. No fundo, é isto mesmo que dá a entender Jesus quando afirma: «Na terra, a ninguém chameis “Pai”, porque um só é o vosso “Pai”, aquele que está no Céu». (Mt 23, 9)” (c.f. Papa Francisco, Carta Apostólica “Patris corde”).

Obrigado, São José, pelo inspirador exemplo de fé.

texto por Luís, março de 2021
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