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P. Duarte da Cunha
São José e Amoris Laetitia
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Depois de ter decretado um ano de São José, que teve início no dia 8 de Dezembro 2020, o Papa anunciou que no próximo dia 19 de Março, ou seja, na festa litúrgica de São José, esposo de Maria, e quinto aniversário da Exortação Apostólica Amoris Laetitia, teremos um ano da família. Vale a pena, por isso, tentar ver a relação entre São José, a família e a Exortação Apostólica.
Não podemos esquecer que toda a Exortação Apostólica, na sua verdade que vai muito além das polémicas que se geraram à sua volta por causa de uma nota de rodapé, é a de levar a “viver e transmitir o Evangelho da Família” (AL 60). O Evangelho é sempre Jesus Cristo, também o Evangelho da Família é Jesus. Percebemos, assim, que o convite do Papa é o de olhar para a família de um ponto de vista cristão a partir do encontro com o Verbo Encarnado. E isto, desde logo, faz-nos ver a relação entre Evangelho, família e a Sagrada Família, na qual tem um lugar, apesar de secundário, essencial, São José. “A encarnação do Verbo numa família humana, em Nazaré, comove com a sua novidade a história do mundo. Precisamos de mergulhar no mistério do nascimento de Jesus, no sim de Maria ao anúncio do anjo, quando foi concebida a Palavra no seu seio; e ainda no sim de José, que deu o nome a Jesus e cuidou de Maria” (AL 65).
São José vive e passa as várias fases da vida da família tendo sempre a seu lado Jesus e Maria a quem ama e de quem cuida, por isso, podemos concluir que ele agarra cada aspecto da vida e o vive de modo excecional.
O casamento entre um homem e uma mulher, que dá início a uma nova família, tem uma história anterior: o namoro e o noivado. Essa é a fase em que os dois se começam a conhecer e o amor cresce até se tornar maduro e brotar como certa a decisão de se casarem. A preparação para o matrimónio é um ponto fundamental da Amoris Laetitia. Ora, também São José esteve noivo de Maria e sabemos que se comprometeram um com o outro ainda antes de viverem juntos. Aliás, foi nesse tempo que Maria ficou grávida. O Evangelho deixa entrever que São José viveu o noivado como um enorme desafio, mas também mostra que o amor a Maria e a certeza de querer seguir a vontade de Deus o levaram a abraçar a família sem hesitações. Por isso, o Papa pôde rezar no fim da sua carta à Sagrada família dizendo: “Jesus, Maria e José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor”. (AL 325)
José, apesar de pai adoptivo, foi verdadeiramente como um pai para Jesus. E todos os pais podem ter nele um modelo. A Exortação, que tanto nos fala da paternidade e da educação, pode ser lida nessas páginas à luz de São José. Ela recorda que “muitos homens estão conscientes da importância do seu papel na família e vivem-no com as qualidades peculiares da índole masculina.” Do mesmo modo, “a ausência do pai penaliza gravemente a vida familiar, a educação dos filhos e a sua integração na sociedade.” (AL 55). São José é um modelo porque foi o pai presente que cuidou de Jesus e ajudou a que Ele na Sua humanidade crescesse em estatura, sabedoria e graça (cf. Lc 2, 52).
Como pai de família, São José também trabalhou, foi carpinteiro e, o próprio Jesus erá exercido essa arte (Mc 6,3). A Exortação do Papa recorda o valor completo do trabalho que inclui várias dimensões e todas elas patentes, como tem dito a Igreja, em São José, padroeiro dos trabalhadores: “O trabalho torna possível simultaneamente o desenvolvimento da sociedade, o sustento da família e também a sua estabilidade e fecundidade” (AL 24).
Recordando a importância da família alargada, o Papa recorda que “Jesus não cresceu numa relação fechada e exclusiva com Maria e José, mas de bom grado movia-se na família alargada, onde encontrava os parentes e os amigos.” (AL 182). É um facto que à volta de São José havia muitos amigos e familiares. O Evangelho diz-nos que era filho de Jacob e neto de Matã (Mt 1, 15-16), que se casou, donde se conclui, seguindo a tradição, que era genro dos pais de Maria, Joaquim e Ana. Ainda segundo a tradição, é possível perceber que terá tido pelo menos um irmão, Cleófas, e vários sobrinhos, tratados como irmãos de Jesus: Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13,55).
A Exortação fala, de facto, de todas as fases e âmbitos da vida de uma família e mostra como o amor que une pais e filhos e esposos é o segredo da família (capítulo IV), mas também leva a compreender que a urgência da evangelização da família. Olhar para São José é conhecer um amor convertido.
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