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À procura da Palavra
Ver, morrer, atrair
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DOMINGO V QUARESMA Ano B

“Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;

mas se morrer, dará muito fruto.”

Jo 12, 24

 

1. Ainda bem que temos de usar máscaras para nos protegermos da pandemia em vez de vendas. Se o contágio se desse pelo olhar, uma espécie cegueira branca como a que Saramago escreveu no seu “Ensaio sobre a Cegueira”, seria maior o sofrimento. Assim, custa-nos mais falar e sorrir, mas os olhos não são “as janelas da alma”? Ver é prolongar a mente e o coração, é descobrir o belo e o novo, é começar a conhecer. Uns gregos pediram para ver Jesus. Tinham ouvido falar d’Ele. Mas queriam vê-l’O, não por mera curiosidade, mas desejosos de O conhecer. Não eram judeus e, dirigiram-se aos dois discípulos com nome grego, Flipe e André, que os levaram a Jesus. Quanto vale a amizade daqueles que nos levam a ver Jesus! E Jesus começa a falar-lhes da sua “hora”. Do tempo que começa e não mais acaba, como não acaba a conversa de todo aquele que quer “ver Jesus”, onde o presente de cruz e glória de Jesus é o futuro dos seus discípulos. Esta “hora” anunciada e desejada é o tempo todo aberto do amor de Deus ao mundo, largo como o horizonte do mar imenso, a alcançar judeus e gregos, e todos, todos mesmo. É pelos olhos brilhantes que Jesus acende em nós que nos contagiamos, como escreveu Sophia: “Vimos o mundo aceso nos seus olhos, / E por os ter olhado nós ficámos / Penetrados de força e de destino.”

 

2. Somos como os grãos de trigo. Lançados à escuridão, não da terra, mas do confinamento, em casa, em tele-trabalho, e tele-escola, e “tele-vida”. Aceitando tudo como provisório, ainda que longo demais. E há demasiados sinais de morte a rodear-nos, ao mesmo tempo que muitos dão a vida para não perder a vida de ninguém. Redescobrimos a responsabilidade de pensar nos outros primeiro, de como tudo é frágil, e os egoísmos e ganâncias só alimentam a maldade e a morte. Como pequenos rebentos, frágeis e cautelosos, não podemos esquecer o que aprendemos. Só teremos vida se a dermos. Com coragem e responsabilidade. De pouco adianta uns salvarem-se, com vacinas ou tendo a saúde como um luxo e não como um direito e um dever, com passaportes saudáveis, se para todos a indiferença alastrar como a maior pandemia. Morrer para dar vida é o que a natureza nos revela e Jesus nos ensina. Como recordava José Gomes Ferreira: “Para além do “ser ou não ser” dos problemas ocos / o que importa é isto: / - Penso nos outros. / Logo existo.”

 

3. Jesus, elevado da terra na cruz, atraiu todos a si. A atracção é fruto da beleza, que se oferece no trabalho de Deus e no trabalho humano. O trabalho do amor crucificado de Jesus prolonga-se nos que acreditam e vivem d’Ele. Assim, é preciso que o amor penetre tudo o que somos e fazemos. Dizia Khalil Gibran: “Só é grande / quem transforma a voz do vento / em canto tornado mais doce / pelo próprio amor. // O trabalho é amor / tornado visível.” É essa a atracção pascal!

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