Entrevistas |
Regresso a Roma 2010: ?Em Roma percebi o sorriso de Bento XVI e vi que não é um homem frio? (com vídeo)
<<
1/
>>
Imagem
Os então jovens de 1983 – agora homens feitos e pais de filhos – regressaram a Roma 27 anos depois. Acompanhado da mulher e dos quatro filhos, Gonçalo Pinto Gonçalves diz ter descoberto o verdadeiro sorriso de Bento XVI.

O que o motivou a fazer novamente a peregrinação a Roma, agora acompanhado dos seus quatro filhos, e integrado na peregrinação ‘Regresso a Roma 2010’?

Em 1982 estive em Roma, englobado no encontro internacional das Equipas de Jovens de Nossa Senhora, e tive a graça de ter dado a mão ao Santo Padre João Paulo II. Foi uma experiência que me marcou para o resto da vida. O ano passado soube que um cunhado meu que tinha ido na peregrinação a Roma de 1983 iria agora novamente à capital italiana, englobado nessa peregrinação que recordava a de há 27 anos. Claro que disse logo que gostaria muito de ir também, com a minha família. O grupo foi então alargado a outras famílias que não apenas as de 83 e graças a Deus pudemos ir!

Para mim em particular fazia o maior sentido ir nesta peregrinação ‘Regresso a Roma 2010’ porque era a maneira lógica de agradecer a Deus as graças que me tinham sido dadas, não em 1983, mas em 1982. E deu-me também a oportunidade de rever, com olhos de adulto e com alguma sensatez, locais que me passaram à frente dos olhos e que na altura eu não consegui perceber a importância.

Penso que esta ida a Roma nos fortaleceu ainda mais no nosso sentido de casal. E ao fortalecer o nosso sentido de casal fortalece-nos também o sentido de missão. Para os nossos filhos foi também muito importante, mas de certeza que cada um terá vivido Roma de maneira diferente. Como família, sentimos que o nosso coração veio de Roma mais cheio, mas também mais responsável.

 

A visita do Papa a Portugal, no próximo mês de Maio, tem como tema a santidade, santidade essa que não se manifesta com um simples ‘eu sou santo’, mas sim na forma de ser e de estar no dia-a-dia. De que forma Deus o interpela para a santidade?

Essa é talvez ‘a pergunta’! A pergunta que se deve colocar a cada cristão: de que forma Deus nos deve interpelar para a santidade? É também a pergunta mais difícil de responder. Aquilo que lhe posso dizer é que o caminho da santidade é um caminho que nos é colocado a todos. São João tem, quanto a mim, a melhor definição para Deus: “Deus é amor”. Portanto, quando me perguntam o que sinto que Deus faz por mim, só tenho uma coisa a dizer: Deus ama-me! E isso diz tudo! Pelo menos para um cristão, que não precisa de mais nada! Por isso sei que em todos os momentos da minha vida Deus me ama!

Quando me casei, a frase que a Madalena e eu utilizámos no nosso casamento foi: “O amor não é quando duas pessoas olham uma para a outra, mas sim quando duas pessoas olham na mesma direcção”. E a direcção que nós nos propusemos olhar é para Cristo. E Cristo é o caminho de santidade. Se Deus é amor e se Cristo é amor, a maneira melhor que eu tenho de criar amor à minha volta é amando a minha a mulher. E é nesse amor que temos um pelo outro que de algum modo replicamos o amor que Deus tem por nós! O caminho que temos de fazer é um caminho de santidade. Porque o meu objectivo máximo é a eternidade! E a eternidade consegue-se no caminho da santidade enquanto estamos por aqui…

 

Poderá o sacramento da reconciliação e o perdão ser um dos caminhos para a santidade?

Sacramento da reconciliação… outro grande ‘entrave’ nas nossas vidas. Eu durante muitos anos confessava-me sem saber o que estava a fazer. Depois, durante muitos anos, reconciliava-me contrafeito. Ou seja, fazia-o porque tinha de o fazer. Mas porque é que eu tenho de contar o pecado A ou o pecado B a um padre que não me conhece? Pronto, eu percebo que não é o padre que está ali, é a Igreja que está por detrás. Porquê? Porquê? Porquê? Porquê? Havia imensos ‘porquês’, mas eu com maior ou menor dificuldade lá me ia confessando…

Depois, houve um dia em que coloquei esta questão a um padre meu amigo. E ele fez-me ver a luz do que significa este sacramento da reconciliação. Deus não quer saber se eu fiz A ou se fiz B. O que Deus quer saber é se eu continuo no caminho e que dificuldades tenho tido nesse caminho. E de que forma Ele me pode ajudar! Porque Ele está disponível para nos ajudar, saibamos e queiramos nós acolher essa ajuda! É muito importante que nos sintamos reconciliados com a Igreja, no sentido em que nos sintamos corpo de Cristo.

Na audiência-geral, Bento XVI desejou que aquele encontro “suscite em todos peregrinos presentes de língua portuguesa, com suas famílias e comunidades cristãs, uma renovada vitalidade espiritual na fiel e generosa adesão a Cristo e à Igreja”. Numa altura em que a religião é posta de parte, isto é, em que se agitam as ‘bandeiras’ de uma vida laica e sem fé, de que forma vê a religião em Portugal e a procura transmitir aos seus filhos?

A nossa primeira obrigação é para com os nossos filhos. Quatro filhos é pesado, mas eu não trocava quatro filhos por nada! É claro que nos consomem muito tempo, porque nós queremos fazer deles boas pessoas, que participem na sociedade, que saibam por que estão a fazer as coisas. Não queremos cordeiros no meio do rebanho, no mau sentido, no sentido da ‘carneirada’. Queremos criar homens e mulheres que sejam capazes de olhar para as coisas e saibam dizer por que gostam, por que não gostam, por que fazem, por que não fazem, por que dizem, por que não dizem…

Um dos motivos que nos levou a Roma enquanto família foi também a possibilidade de estarmos todos também mais ligados, não só entre nós, mas também com a nossa comunidade. Agora em Roma, senti novamente senti o que significa “Igreja Católica”. Quando estamos numa audiência com o Papa – para não falar do Angelus, que é num espaço mais aberto, na Praça de São Pedro –, vemos realmente que a Igreja é universal e ficamos o coração cheio. Sentimos que fazemos parte deste corpo de Cristo! E sentimos que não estamos sozinhos! É também um pouco desta Igreja universal que procuramos que os nossos filhos conheçam e amem!

 

Antes da despedida, o Papa disse ainda ao grupo de peregrinos portugueses: “Olhai o futuro com esperança e não vos canseis de trabalhar na vinha do Senhor”. Que trabalho pode realizar no mundo enquanto católico?

Há tanta coisa para fazer! Mas também há muitas coisas para as quais não temos aptidão. O exemplo que costumo dar é o de minha mãe, que enviuvou relativamente cedo. Sou o sétimo de oito irmãos e fui o último a sair de casa, deixando aquele lar completamente vazio. A minha mãe passou então a dedicar-se ainda mais à comunidade e depois de experiências em lares de crianças e em hospitais descobriu que onde ela sentia que podia fazer a diferença era nas prisões. Encontrou o seu caminho!

É importante as pessoas perceberem que a vida não acaba quando deixamos de trabalhar. Temos que ser fecundos com a comunidade que nos rodeia. Temos que sentir que de algum modo podemos fazer a diferença! E a comunidade vai desde os colegas de trabalho até ao homem que arranja o móvel partido que eu tenho em casa e que passa as maiores dificuldades. Há sempre oportunidade para fazer a diferença! E uma das maneiras de ser fecundo com as pessoas é estar junto delas e ouvi-las…

 

Disse há pouco que agarrou a mão de João Paulo II. Que principais diferenças encontrou entre o Papa polaco e o actual, Bento XVI?

O Papa João Paulo II é o Papa da minha geração! Foi o Papa com que eu cresci! João Paulo II foi seguramente mais mediático – costumo dizer que se calhar o cardeal Ratzinger foi o ‘cão de fila’, no bom sentido, do Papa João Paulo II e portanto hoje em dia está a sentir um pouco na pele o ter sido ‘atirado para a frente’ das massas sempre que havia que pôr os pontos nos ‘is’. Mas devo dizer que estive muito perto de Bento XVI nesta visita a Roma e percebi o sorriso dele. Percebi que ele não é um homem frio. Acho que a prazo Bento XVI vai conseguir fazer de nós todos pessoas melhores, como seguramente João Paulo II também o fez.

 

Perfil

Gonçalo Pinto Gonçalves não pôde ir a Roma na peregrinação de 1983, mas tinha ido no ano anterior. Tinha na altura 19 anos e pertencia às Equipas de Jovens de Nossa Senhora da paróquia de Cascais. De então para cá muita coisa aconteceu: “A primeira de todas foi ter casado, com a Madalena, e ter tido quatro filhos”. Actualmente, vive na paróquia de Santa Maria de Belém e, juntamente com a mulher e mais seis casais, pertence ao CVX, uma comunidade mundial de leigos com espiritualidade inaciana.

Diogo Paiva Brandão e João Carita
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES