
O Papa Francisco apelou, “uma vez mais”, ao diálogo no Myanmar. Na semana em que foi notícia que a Igreja não pode abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo, o Papa pediu para “não ser esquecido o sofrimento da Síria” e cumpriu o oitavo ano de pontificado. O Vaticano pediu a contribuição dos fiéis.
1. O Papa lançou mais um apelo ao fim dos conflitos em Myanmar (antiga Birmânia) e solidarizou-se com os que saem para as ruas a pedir paz. “Uma vez mais, e com tanta tristeza, sinto a urgência de evocar a dramática situação em Myanmar, onde tantas pessoas, sobretudo, jovens estão a perder a vida para oferecer esperança ao seu país”, afirmou Francisco, no final da audiência-geral desta quarta-feira, 17 de março. “Também eu me ajoelho nas ruas de Myanmar. Também eu estendo os meus braços e digo: que prevaleça o diálogo. O sangue não resolve nada. Que prevaleça o diálogo”, pediu. Pelo menos 149 pessoas foram mortas pelas forças de segurança da junta militar que levou a cabo o golpe de Estado de 1 de fevereiro em Myanmar, 11 das quais nas últimas 24 horas, denunciou a ONU na terça-feira.
Na intervenção proferida a partir da biblioteca do Palácio Apostólico, o Papa também se referiu aos confrontos no Paraguai, condenou a violência que “é sempre autodestrutiva” e apelou a “um caminho de diálogo que permita construir a paz tão ignorada”.
2. A Congregação para a Doutrina da Fé emitiu em esclarecimento explicando por que razão não considera lícito os sacerdotes abençoarem uniões entre pessoas do mesmo sexo. “A declaração de ilicitude das bênçãos de uniões entre pessoas do mesmo sexo não é, e não quer ser, uma injusta discriminação, mas quer relembrar a verdade do rito litúrgico e de quanto corresponde profundamente à essência dos sacramentais, como a Igreja os entende”, salienta a nota, publicada no dia 15 de março. A nota acrescenta que, “para ser coerente”, quando se invoca a bênção para algumas relações humanas “é necessário – além da reta intenção daqueles que dela participam – que aquilo que é abençoado seja objetiva e positivamente ordenado a receber e a exprimir a graça, em função dos desígnios de Deus inscritos na Criação”, e que só são “compatíveis com a essência da bênção dada pela Igreja” apenas “aquelas realidades que de per si são ordenadas a servir a tais desígnios”.
O comunicado conclui referindo que o Papa “foi informado e deu o seu assentimento” à publicação desta resposta assinada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Luis Ladaria.
3. “Há 10 anos, começou o sangrento conflito na Síria que causou uma das mais graves catástrofes humanitárias do nosso tempo”, recordou o Papa, no final do Angelus do passado Domingo, 14 de março. Francisco lembrou o “número indefinido de mortos e feridos, de milhões de refugiados, milhares de desaparecidos, de descrições, violências de todo o tipo e terríveis sofrimentos para toda a população, especialmente, para os mais vulneráveis como crianças, mulheres e idosos”.
Este trágico aniversário foi ocasião para o Papa renovar “um forte apelo às partes em conflito para que manifestem sinais de boa vontade e se possa abrir uma brecha de esperança para a população exausta”. E também pediu à comunidade internacional para que ajude a Síria e que, “uma vez depostas as armas, se possa repor o tecido social e começar a reconstrução e retoma económica”. No final, Francisco convidou todos a rezarem por aquele país “para que tanto sofrimento na amada e martirizada Síria, não seja esquecido e para que a nossa solidariedade reavive a esperança”.
Naquela manhã, o Papa tinha celebrado Missa, na Basílica de São Pedro, para assinalar os 500 anos da evangelização das Filipinas, e agradeceu aos católicos daquele país asiático a alegria com que vivem a fé, quer como comunidade, quer na vida quotidiana.
4. O Papa Francisco cumpriu no dia 13 de março o oitavo ano de pontificado. Quem não se lembra da Praça de São Pedro totalmente vazia, naquele dia 27 de março de 2020, com o Papa solitário e vacilante a carregar sobre si todo o sofrimento do mundo e da Igreja? No meio da angústia e adversidade, em que “densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades se apoderaram das nossas vidas”, “em que nos revemos temerosos e perdidos”, “todos frágeis e desorientados”, o Sucessor de Pedro abraçou a Cruz. A chuva torrencial e o vento não o impediram de abençoar, com o Santíssimo Sacramento, a cidade de Roma e o mundo inteiro, “como um abraço consolador de Deus”.
Foi também em plena pandemia que o Papa, no início de outubro, se deslocou a Assis para assinar, junto ao túmulo de São Francisco, a nova encíclica ‘Fratelli tutti’, sobre o respeito do outro como irmão, num “amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço”. Ultrapassar estas barreiras, foi exatamente o que Francisco fez no Iraque. Apesar dos inúmeros riscos e contrariando os mais prudentes conselheiros, avançou, de mão estendida, para se encontrar com os seus “irmãos” muçulmanos xiitas, unidos pelo mesmo “pai Abraão” e reforçar apelos de paz e fraternidade.
E como Francisco é um homem de gestos concretos, o seu coração de pastor levou-o, sobretudo, ao encontro dos cristãos que mais sofrem e carregam as feridas profundas da guerra e do luto. Levou-lhes “o abraço consolador de Deus”, mas também recebeu. Ao completar o oitavo ano do seu pontificado, podemos agora olhar para trás e perceber como, apesar da pandemia e do isolamento obrigatório, a missão do Papa não tem pausas. E se hoje vivemos uma “terceira guerra mundial aos pedaços”, como tanto insiste Francisco, a viagem ao Iraque permitiu-lhe tocar com a mão num desses pedaços de guerra para nele lançar sementes de paz.
5. O orçamento da Santa Sé para 2021 foi divulgado a 12 de março e prevê um deficit de quase 50 milhões de euros, que teria sido de 80 milhões se não houvesse o Óbolo de São Pedro (fundo com donativos dos fiéis ao Papa). A crise causada pela pandemia é a causa de um orçamento mais restritivo, no qual as receitas previstas são muito menores do que as de 2019, antes da pandemia. Nesse ano, a receita foi de 307 milhões de euros, enquanto se prevê para este este ano uma queda de 30%, 213 milhões.
O prefeito da Secretaria para a Economia, padre Juan Antonio Guerrero Alves, explicou ao Vatican News que “as despesas orçamentais para 2021 são as mais baixas da história recente da Santa Sé” e que “as contenções foram feitas sem diminuir o serviço à missão do Papa e defendendo os salários e empregos dos funcionários”. Por isso, conclui: “Precisamos do apoio dos fiéis”.
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