Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
São José, família e casa comum

De 19 de março a 24 de maio, estamos a celebrar em simultâneo três grandes acontecimentos na Igreja: Ano jubilar de São José, Ano Laudato Si’ e Ano Família Amoris Laetitia. Celebrados em Quaresma, em Semana Santa, em Tríduo Pascal e em quase todo o Tempo Pascal: tempos marcados pela renovação em conversão, pela alegria em festa, pela comunhão em comunidade, pelo cuidado responsável em pandemia. Longe de ser um cúmulo de efemérides, estes três motivos unem-nos à volta do Ressuscitado, a iluminar as nossas vidas peregrinas.

O Ano jubilar de São José, que se iniciou a 8 de dezembro de 2020 e terminará a 8 de dezembro de 2021, quer comemorar o 150.º aniversário da declaração de São José como Patrono Universal da Igreja. A Carta Apostólica Patris Corde do Papa Francisco é uma preciosa meditação que nos convida a olhar para São José no seu coração de pai, para amarmos de modo intenso Jesus tal como ele amou. Não é uma mera lembrança, mas um tempo fecundo para renovarmos a nossa vida cristã à luz deste grande pai amado, pai na ternura, pai na obediência, pai no acolhimento, pai com coragem criativa, pai trabalhador, pai na sombra: sete indicações valiosas para seguirmos o exemplo de São José. Diz o Papa na referida Carta Apostólica: «Todos podem encontrar em São José um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação».

A 24 de maio do ano passado, quinto aniversário da publicação da encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco proclamava um ano especial: «Hoje é o quinto aniversário da Encíclica Laudato Si’, com a qual se chama a atenção para o grito da Terra e dos pobres. Será um ano especial para refletir sobre a Encíclica, até 24 de maio do próximo ano. Convido todas as pessoas de boa vontade a unirem-se a nós, a cuidarem da nossa casa comum e dos nossos irmãos e irmãs mais frágeis». Este ano especial está quase no fim, faltam apenas dois meses. Que fizemos? Estudámos a fundo esta encíclica que continuará a provocar-nos ainda durante muito tempo? Comprometemo-nos no cuidado da casa comum, da ecologia integral em todas as suas dimensões? Assumimos uma autêntica conversão ecológica interior, comunitária e missionária nas nossas vidas e famílias, nas comunidades e organismos em que andamos? O caminho ainda é longo e não dispensa ninguém, se quisermos cuidar evangelicamente da natureza e da criação, de Deus e dos irmãos. A ecologia integral não é uma moda passageira, mas um modo constante de tomar consciência da realidade e agir na sua transformação, iluminados pelo Criador que em Jesus ressuscitado nos compromete, para que todos tenhamos vida verdadeira e vida em abundância.

O Ano Família Amoris Laetitia iniciou-se a 19 de março, no quinto aniversário desta exortação apostólica pós-sinodal sobre a família, e vai até 26 de junho de 2022, Dia Mundial das Famílias em Roma. O Papa quis sublinhar a verdade do anúncio evangélico sobre a família e a ternura do acompanhamento, indicando que “este ano dedicado à família será um tempo propício para levar em frente a reflexão sobre Amoris Laetitia”. Que fizemos deste belíssimo texto que o Papa Francisco nos ofereceu no seguimento de duas assembleias sinodais sobre a família? Estudámo-lo a sério em todos os seus aspetos, ou ficamos apenas pelas chamadas afirmações “controversas” e “jornalísticas” quase sempre desligadas do Evangelho da Família? Também aqui há um longo caminho de estudo, meditação e oração a percorrer, para que as famílias se renovem sempre à luz do Evangelho de Jesus Cristo ressuscitado.

Não percamos o dinamismo destes três grandes motivos celebrativos. São de longo alcance, a exigir que continuemos a cuidar com alegria, empenho e responsabilidade da nossa casa comum e das famílias, intercedendo a São José para que nos reoriente sempre para Jesus, que tanto amou com coração de pai.