Lisboa |
Igreja Greco-Católica Ucraniana
Páscoa juntos
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No ano em que assinalam 20 anos da chegada a Portugal, os fiéis da Igreja Greco-Católica Ucraniana vão celebrar a Páscoa no mesmo dia que a Igreja Católica. “Este ano, vamos celebrar a Páscoa juntos, na mesma data”, anuncia ao Jornal VOZ DA VERDADE o responsável nacional desta comunidade, padre Illya Oleh Fihol. Este é um passo na aproximação do calendário juliano (seguido por estes cristãos de rito bizantino) ao calendário gregoriano, adotado pelas Igrejas de rito romano.

 

“Agradeço muito a Portugal e convido todos os que queiram a participar nas celebrações da Páscoa na Igreja Greco-Católica Ucraniana de Lisboa”. É desta forma que o padre Illya Oleh Fihol inicia a conversa com o Jornal VOZ DA VERDADE. “Antigamente, nós seguíamos o calendário juliano, mas desde o último Natal nós mudámos para o calendário gregoriano. Por isso, vamos ter a Páscoa com os portugueses. Vamos celebrar a Páscoa juntos!”, refere este sacerdote, que é conhecido em Portugal por padre Elias.

Na Igreja de Nossa Senhora da Nazaré, perto da Praça do Chile, o padre Elias faz-se acompanhar de uma ‘tradutora’, Olena Fan (ver caixa), e explica que esta aproximação de calendários tem, desde logo, “uma razão prática”. “As nossas pessoas, e os seus filhos, trabalham e estudam cá e têm as férias no Natal e na Páscoa. Quando elas queriam ter dias livres para o nosso Natal ou a nossa Páscoa, com o calendário juliano, era mais difícil”, explica. A segunda razão prende-se com as crianças. “Para elas, era muito confuso. Quando tínhamos o nosso Natal, com o calendário juliano, elas não celebravam connosco, na nossa igreja. Assim, queremos fazer proximidade com as crianças da nossa Igreja. Elas fazem parte da nossa vida na Igreja e, por isso, decidimos fazer o pedido para a Ucrânia, para fazermos esta mudança de calendário”, justifica o padre Illya Oleh Fihol, que é coordenador dos capelães ucranianos em Portugal desde outubro de 2018, por nomeação da Conferência Episcopal Portuguesa.

 

Tradições valorizadas

A Igreja Greco-Católica Ucraniana, de rito bizantino, conta com cerca de 10 milhões de fiéis – sendo que metade vivem na Ucrânia – e é considerada a maior Igreja Oriental em comunhão com o Bispo de Roma, o Papa Francisco. Chegou a Lisboa em 2001, há 20 anos, pelo que esta ‘alteração’ de calendário teve que ter a ‘bênção’ do metropolita da Igreja Greco-Católica e Arcebispo maior de Kiev-Halyč, D. Sviatoslav Shevchuk. “Esta mudança vai acontecer em todo o território português: Lisboa, mas também Fátima, Montijo, Setúbal, Vila Nova de Gaia e Porto mudaram para o calendário gregoriano”, anuncia o padre Elias, sublinhando que esta decisão foi tomada pelos padres ucranianos que estão em Portugal, nas suas reuniões, que depois fizeram o pedido à Igreja Ucraniana, “que autorizou”.

Na Igreja-Greco Católica Ucraniana, tal como na Igreja Católica, “todas as Missas são Páscoa, todas as Missas são centradas no dia de Páscoa”. “A Ressurreição de Cristo é algo muito grande para nós. Nestes 40 dias, nós podemos mudar, podemos mudar quando há conversão. Este tempo é particularmente forte para fazermos as nossas mudanças, para pensarmos e para percebermos a oração. Nas Missas, procuro sempre lembrar a importância de refletirmos sobre nós, sobre a nossa vida, o que fazemos para mudar. Tal como diz o apóstolo São Paulo, se não há ressurreição, não há razão de fé. Se Jesus Cristo não ressuscitou, a nossa fé não faz sentido”, salienta o padre Elias.

Questionado sobre como é celebrar a Páscoa a quatro mil quilómetros de casa, este sacerdote ucraniano diz sentir que os seus compatriotas, cá, valorizam mais a sua cultura e tradições. “Parece ter mais sentido celebrar a Páscoa, e também o Natal, aqui, em Portugal. Como estamos longe de casa, tentamos celebrar e guardar as nossas tradições e origens. Aqui, as pessoas trabalham muito e não têm tanta possibilidade de vir à igreja, pelo que, quando vêm, valorizam mais as Missas e as celebrações. Mais até do que na Ucrânia”, garante.

Na capelania da Igreja Greco-Católica Ucraniana em Lisboa o dia de Páscoa é vivido com a Missa de manhã e, à tarde, com tradições ucranianas. “Temos canções e jogos tradicionais ucranianos. É um momento onde participam muitas crianças e muitos jovens, em que podemos guardar as nossas tradições”, refere, feliz, o padre Illya Oleh Fihol.

 

Mudanças laborais

Natural da região de Lviv, na Ucrânia, o padre Elias foi ordenado na Ordem de São Basílio, em 2010, após os estudos em Kiev, “a nossa capital”, e chegou a Lisboa em outubro de 2012. Nesta quase uma década no nosso (e agora seu) país, este sacerdote ucraniano, de 47 anos, diz que mudou a face das profissões da ‘sua’ gente. “As pessoas, quando chegaram a Portugal, há muitos anos, vinham com a intenção de ganhar dinheiro e trabalhar, e começaram nas profissões normais: por exemplo, os homens foram para a construção civil e as mulheres foram para trabalhadoras domésticas. Com o passar dos anos, o povo ucraniano mudou o seu ‘diploma’, para poderem estar iguais com os ‘diplomas’ portugueses, e hoje podemos dizer que temos muitas doutoras ucranianas em Portugal, portanto médicas”, revela, referindo ainda que “algumas são também condutoras de autocarros, outras trabalham em bancos” e há também ucranianos que “têm as suas empresas próprias”. “Pequenas, mas suas”, manifesta.

Este sacerdote de rito bizantino não esconde também o desafio que é lidar com as crianças ucranianas que estão na escola. “Muitas vezes, a educação que elas recebem na escola não é a mesma que a que recebem na Igreja. É muito difícil para nós, padres, explicarmos às crianças certos comportamentos, coisas morais. Muitas vezes, para elas, é mais importante estarem ao lado dos amigos do que da Igreja. É um desafio”, assume.

 

A Igreja como centro da integração

De acordo com este responsável, há “entre 10 a 12 mil cidadãos ucranianos na cidade de Lisboa”. “Destes, oito a nove mil são greco-católicos. Os restantes, são ortodoxos”, explica. À pergunta ‘Sente que é uma comunidade integrada em Lisboa?’, o padre Elias destaca precisamente o papel da Igreja Greco-Católica. “A nossa igreja é o centro para as pessoas ucranianas que estão aqui. Por isso, elas não se sentem muito sozinhas. Aqui, somos Igreja. As pessoas aqui podem-se confessar, podem conversar com os padres, podem participar na Missa. As pessoas sentem-se integradas porque estão também muito tempo na igreja”, considera.

De segunda a sexta-feira, a partir das seis da tarde, os padres ucranianos chegam à Igreja de Nossa Senhora da Nazaré, perto de Arroios, no centro da cidade. “Estamos disponíveis para conversar ou para atender em confissão”, frisa. Às sete da tarde há a oração do terço e, às 19h30, a Missa. “Todos os dias”, salienta. Aos sábados, a igreja está aberta a partir das 8h30 da manhã e aos Domingos a Missa é às oito da manhã e às 11h30. “A Igreja faz parte da vida dos ucranianos. É como uma ponte. A pertença à Igreja faz com que as pessoas não se sintam sozinhas e faz com que se sintam integradas em Portugal. Quando as pessoas têm problemas, falam com os padres”, garante o padre Illya Oleh Fihol.

 

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Deste último ano de pandemia, o padre Illya Oleh Fihol garante que os padres ucranianos “ajudaram muito as pessoas”, em particular “as que estavam no hospital”. “Rezámos muito por elas. Se alguma pessoa precisava de algo, arranjávamos dinheiro para ajudar. Fomos visitados por muita gente”, diz.

 

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O sonho (concretizado) de um mosteiro

Depois de vinte anos a viver num apartamento no centro da cidade, os quatro padres da Igreja Greco-Católica Ucraniana de Lisboa mudaram-se muito recentemente para um mosteiro, em Santa Iria da Azóia. Foi o concretizar de um sonho, que aconteceu no passado dia 27 de janeiro. “É um sentimento muito bom, ter este novo mosteiro. Antes, vivíamos num apartamento, muito perto aqui da igreja, mas em que não podíamos seguir todas as regras da Ordem de São Basílio”, refere o padre Illya Oleh Fihol. “Este mosteiro era como um sonho. Agora temos uma capela, onde celebramos Missa e em que convidamos as nossas pessoas para participar”, acrescenta. Estes padres procuram seguir as regras dos monges. “De manhã, fazemos meditação com a Bíblia, depois fazemos oração comum e organizamos os horários para corresponder às necessidades e pedidos das pessoas, que estão a trabalhar”, garante o coordenador dos capelães ucranianos em Portugal.

 

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“Aqui, posso ajudar os outros, e isso é importante”

Olena Fan nasceu na Ucrânia, mas é filha de pai vietnamita. “Sou metade-metade”, brinca esta ucraniana, de 36 anos, que chegou a Portugal apenas há três anos. Falando num português já muito claro, Olena esteve na entrevista do Jornal VOZ DA VERDADE ao padre Illya Oleh Fihol para ajudar na tradução. Algo que não é estranho para Olena. “Ajudo os ucranianos aqui da igreja a falarem Português e Inglês. As pessoas trabalham muito e não têm tempo para ir à escola aprender… comigo, é mais fácil porque podemos escolher o tempo e o horário. Aqui, posso ajudar os outros, e isso é importante”, justifica.

Solteira e a residir em Alcântara, Olena trabalha numa multinacional, e foi através da sua atividade profissional que chegou ao nosso país. “Comecei a trabalhar na Nestlé, na Ucrânia, durante dois anos, e depois fui transferida para cá. Abriram um escritório em Linda-a-Velha e precisavam de pessoas com experiência. Antes, já tinha vivido nos Estados Unidos e em Singapura”, partilha. Assumindo que “não conhecia muito de Portugal”, Olena diz, “honestamente”, que pensou vir “só por um ano ou dois”, para “ganhar experiência e ter melhor currículo”. “Quando voltasse à Ucrânia, com experiência em diferentes países, estando na mesma empresa, isso é melhor para crescer na tua posição”, salienta.

A verdade é que a colaboração na Capelania da Igreja Greco-Católica Ucraniana em Lisboa parece ter-lhe mudado os planos. Olena refere que, quando estava na Ucrânia, ia à igreja somente na Páscoa e no Natal, mas em Portugal passou a ir “uma vez por semana”. “Com o tempo, comecei a participar mais nas Missas, a falar mais com os padres e tudo mudou. A vida em Lisboa mudou-me no sentido religioso, de Igreja, dos padres… sinto-me muito mais feliz aqui, em Portugal, do que era em Singapura ou nos Estados Unidos, e até mesmo na Ucrânia. A Igreja faz parte da minha vida”, observa, dizendo-se “muito agradecida aos padres e à comunidade”. “A Igreja é o meu sentido para estar aqui. Não é tanto o trabalho, mas a Igreja e os padres. Faz um sentido maior de vida, agora, muito diferente do que antes”, manifesta. O futuro? “Acho que vai ser por aqui… A minha vida aqui é muito melhor e sou feliz”, garante Olena Fan, uma ucraniana de sangue vietnamita, que colabora com os padres da Ucrânia em Lisboa.

 

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Capelania da Comunidade Grego-Católica Ucraniana

Rua Quirino da Fonseca, 2A, 1000252 Lisboa

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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