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Isilda Pegado
Porquê a Cruz?

1. Faleceu no passado Domingo de Páscoa o Presidente da Câmara Municipal de Viseu. Almeida Henriques era daquelas pessoas com quem não é possível ficar indiferente, depois de nos termos cruzado a nível político e cívico. Não me traz aqui os atributos deste político que sobejamente já foram enunciados pela imprensa.

2. Mas sim, um concreto confronto ideológico que Almeida Henriques soube travar, por virtude de um símbolo religioso – A Cruz de Cristo – que orgulhosamente mantinha na parede do Salão Nobre da Câmara Municipal e que é uma lição de Política.

Tal Cruz, tinha sido muito contestada atento o argumento de que o Estado é laico e por isso, não admitiria símbolos religiosos no espaço público, como seja o São Nobre da Câmara. Nestes quase 8 anos de mandato Almeida Henriques foi questionado, foi intimidado, foi atacado publicamente por manter no Salão Nobre da Câmara Municipal de Viseu, na parede central, por de trás da mesa da Presidência, a Cruz de Cristo.

3. Nunca vergou a tais pressões do “politicamente correto” e das confusas “questões ideológicas” que negam a identidade de um Povo. Almeida Henriques, olhava aquela Cruz com o respeito que tinha para com todos os seus munícipes. O respeito por quem ali tinha colocado aquela Cruz e, mais, o respeito pela história que aquela Cruz trazia consigo.

4. Segundo nos contou, a Cruz de Cristo foi trazida pelos homens de Viseu que combateram na Batalha de La Lys, na I Guerra Mundial. Os homens de Viseu regressaram, acompanhados desta Cruz de Cristo, porque na sua convicção os tinha protegido em tão sangrenta e devastadora Guerra.

Durante anos essa Cruz “andou nas casas” daqueles combatentes da Guerra que a guardavam religiosamente. Porém, com a idade, iam sendo cada vez menos os ex-combatentes vivos.

Até que, os últimos destes homens de Viseu, pediram ao então Presidente da Câmara que recebesse a Cruz de Cristo e, se possível a colocasse num local visível, como sinal da entrega e serviço prestado pelos homens de Viseu e da protecção que tinham recebido daquela Cruz que os trouxera sãos e salvos à casa, a Viseu. O que foi aceite e cumprido há cerca de 80 anos. E desde então, a Cruz de Cristo manteve-se no Salão Nobre da Câmara.

5. Almeida Henriques contava com todo o gosto esta história dos homens de Viseu que combateram na I Guerra Mundial e de como se bateria sempre para que aquele símbolo fosse público, respeitado e honrado!

Com a sua boa disposição, dizia – “Só um Tribunal me pode obrigar a tirar a Cruz, mas até nesse, defenderei com os melhores Juristas do País a Cruz de Cristo no Salão Nobre”.

Era um político com Valores e que na política fazia valer os Valores do Povo que escutava, respeitava e servia.

6. A Política de cada dia, de todos os dias, não se fez só em Lisboa. Aliás, a política em Viseu, Faro, Braga, Coimbra, … e a de todos os concelhos ou freguesias, é muito mais conforme à vida das pessoas e dos valores, do que a que se faz no Terreiro do Paço ou em S. Bento. Servir uma Autarquia, um povo concreto, com rostos e nomes, é por certo a “maior das caridades” como dizia o Papa S. João Paulo II.

7. É bom viver, conhecer e reconhecer quem serve um povo e a sua história. Quem não nega a Memória dos Tempos e das Pessoas. Enche o coração e comove, pensar nestas pequenas/Grandes histórias que atravessam os tempos e tornam presentes os feitos dos homens e a Presença de Cristo na Sociedade e na Vida de cada um.         

 

foto do arquivo Jornal do Centro