
Quando o Espírito Santo foi enviado por Deus aos apóstolos, línguas de fogo desceram dos céus e os apóstolos começaram a falar várias línguas. Não sabiam como, mas Deus trouxe-lhes a capacidade de comunicar com todos os povos para espalhar a Boa Nova que Jesus lhes havia trazido. Antes dissera-lhes: permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor (Jo 15, 9b-10). Que é o Pentecostes senão Deus a ensinar-nos como falar d’Ele na única linguagem comum a todos os povos? A linguagem do Amor!
O Espírito Santo permite-nos estar em sintonia com qualquer pessoa, de qualquer canto do planeta. É através d’Ele, deste terceiro elemento da Trindade Santa, que somos capazes de falar todos na mesma língua: o Amor de Deus é reconhecido em qualquer latitude, quando deixamos que o nosso coração se deixe habitar por Ele.
Creio que só com esta leitura e vivência do Pentecostes fui e sou capaz de viver a minha missão de batizada. Ao longo da minha vida, tive a graça de me cruzar com pessoas cheias do Espírito Santo e que falando esta linguagem do Amor me foram dando a conhecer o Amor de Deus e a transformação que traria à minha vida. E não é que tinham razão?
Chamo-me Raquel, tenho 30 anos, e a minha primeira paróquia é a de Rio de Mouro. Entretanto com várias mudanças de casa, já passei pela Paróquia de Telheiras, de Nossa Senhora do Amparo em Benfica, e agora Santa Maria dos Olivais em Olivais Velho. Mas casei-me com um moço nascido e criado na Benedita (Alcobaça), e por isso muitos dos nossos fins-de-semana são passados lá, onde frequentamos a Paróquia da Benedita. Não temos morada fixa, como diz a música, mas acho que temos o coração no sítio certo.
Com cerca de 18 anos entrei nos Jovens Sem Fronteiras (JSF), movimento juvenil católico fundado em 1983 pelos Missionários do Espírito Santo. Este movimento, tão completo para mim, mudou a minha vida. Fé, formação cristã e missão, são pilares importantes nos JSF que me tornaram em quem sou hoje. Participei em várias semanas missionárias de norte a sul de Portugal, desde o interior ao litoral, em contexto de cidade e contexto de aldeia. Fiz várias Peregrinações a Santiago de Compostela (inclusive na minha lua de mel), e participei em alguns intrarails missionários. Parti até à Guiné-Bissau e Cabo Verde, e por trabalhar na Sol sem Fronteiras (ONGD fundada em 1993 por este movimento), fui também até ao Paraguai numa missão de levantamento de necessidades para um projeto que lá desenvolvemos. Em cada missão que abraço, em cada partida, pergunto-me sempre: o que me move? A resposta é sempre a mesma. Sem sombra de dúvida o Amor de Deus. O Espírito Santo que me interpela e não me permite ficar parada, o mesmo Espírito Santo que me coloca alerta, e com o coração a bater ao mesmo ritmo que o do outro. Mas este mesmo Espírito Santo também me tem trazidos muitas aprendizagens ao longo da vida.
Quando em 2014 parti pela primeira vez para a Guiné-Bissau, ia convencidíssima que grande parte da minha missão passava por evangelizar os jovens que iria conhecer. A língua seria uma barreira certamente, já que a maior parte das pessoas falava mais crioulo do que propriamente o português… Mas a verdade é que estava completamente enganada. A evangelizada fui eu, ao conhecer tantas histórias de fé marcantes, num país com tão poucos cristãos católicos. Quanto ao idioma, também não o percepcionei como uma barreira. A nossa presença na paróquia de Nossa Senhora da Ajuda em Bissau fez com que os jovens praticassem mais o português e perdessem a vergonha de o falar, e também permitiu que nós - grupo de jovens de Portugal - tivéssemos aulas de crioulo, conseguindo assim criar pontes com a comunidade que tão bem nos acolheu. Éramos 13 quando em agosto de 2014 chegamos a Bissau. Acredito ter sido das experiências de Deus mais transformadoras que vivi em toda a minha vida, e que me deixou amigos para a vida (não só os que levei daqui, como os que conheci em Bissau).
Vivi muitas outras experiências, mas tudo, em suma, se deve à entrada nos JSF. E sinto que aos JSF devo tudo: este movimento trouxe-me amigos importantes, o amor da minha vida, o meu trabalho (que apesar de ser um trabalho, é uma causa que me move e, por isso, posso dizer que sou muito feliz todos os dias na Solsef!). Entre estes amigos que o movimento me trouxe, estão também incluídos alguns padres e irmãs que me marcaram profundamente. Deram-me a conhecer a vida religiosa, com o seu testemunho, numa entrega total a Deus e à Sua missão, através de um carisma muito específico. Ensinaram-me a rezar, através da oração e do serviço, deram-me a conhecer o dom da gratuidade e da abnegação, através da sua disponibilidade, entrega total e escuta ativa. Ensinaram-me a amar, como Jesus amou, através do Espírito Santo que habita em nós e nos guia para onde faz sentido. Mas talvez o mais importante que tenha aprendido com os Espiritanos é que a missão é aqui e agora, independentemente do lugar ou de quem me acompanha, e que neste caminho nunca estou sozinha, porque Ele está sempre comigo. E como? Através da linguagem do Amor: um Pentecostes contínuo que nos leva ao encontro, de braços abertos, manifestando a alegria de se ser cristão.
Sinto que deixo muitas palavras escritas neste testemunho, mas o mais importante talvez seja que o Amor de Deus fala todas as línguas, e é nesse Pentecostes que somos chamados a viver todos os dias!