Lisboa |
Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa
Cardeal-Patriarca apela a “simbiose total” entre palavra, oração e caridade
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“A qualidade cristã duma comunidade mede-se pela sua sensibilidade aos vários tipos de pobreza e pela resposta que concretamente lhes dê”, definiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa, no Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa, que decorreu a 15 de maio. No Centro Pastoral de Torres Vedras foi também apresentado um ‘retrato’ deste sector e alguns exemplos daquela que tem sido a ação da Igreja em diferentes periferias.

 

Na conferência de encerramento do Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa, o Cardeal-Patriarca de Lisboa reafirmou a opção pelos mais pobres como prioridade da ação da Igreja, enunciando três pontos que resultaram da reflexão sinodal na diocese: “Não há mudança social sem uma formação que ultrapasse, mental e praticamente, situações de carência grave e persistente; a qualidade cristã duma comunidade mede-se pela sua sensibilidade aos vários tipos de pobreza e pela resposta que concretamente lhes dê; e é preciso estar atento à reorganização social que a mobilidade populacional acarreta”. “Sem a devida atenção a cada um destes pontos, não encontraremos a resposta certa aos desafios sócio-caritativos que enfrentamos”, alertou D. Manuel Clemente, propondo a continuidade das Jornadas Vicariais da Caridade. “Será uma sinodalidade caritativa em que todos crescerão, de facto”, argumentou.

Nesta iniciativa que assinalou o culminar de dois anos pastorais que tiveram como tema ‘Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias’ (CSL 53), o Cardeal-Patriarca pediu às “famílias” e às “comunidades cristãs” uma “simbiose total entre a palava ouvida, a oração filial e fraterna e a caridade realizada”. “Temos sempre de progredir neste rumo, não separando uma dimensão das outras. Trata-se, afinal, de ampliar em Igreja, e reforçar em Cristo, o que já sabemos das relações humanas, que não se realizam sem escuta mútua, sem entreajuda espiritual e sem resposta concreta às necessidades do outro”, prosseguiu.

Nesta intervenção que teve como tema ‘As periferias como lugar privilegiado da presença da Igreja’, D. Manuel Clemente destacou ainda o papel das comunidades e instituições nas “respostas às necessidades acrescidas da população” durante a pandemia, mas alertou para que esta ação caritativa não seja diminuída. “A pandemia vai passar, como sempre acontece – e tanto mais depressa quanto mais cautelosos e solidários formos –, mas esta ação redobrada não pode atenuar-se, não só porque muitas necessidades permanecem e muitas periferias subsistem, mas também porque só assim seremos, para nós e para os outros, sinal eloquente e experiência viva de Cristo no mundo”, sublinhou.

 

 

Em rede

Na primeira conferência deste congresso, o Bispo Auxiliar de Lisboa D. Américo Aguiar apelou a respostas sociais em rede e rejeitou “concorrência” entre instituições paroquiais. “Temos de ter consciência que o ‘orgulhosamente sós’ não nos leva a lado nenhum. Se a paróquia ao lado tem a valência X, eu não devo ter, ou podemos partilhá-la. Devemos ser capazes de, no território, espalhar valências para que as necessidades do terreno se cumpram e não os objetivos da direção da instituição”, afirmou o prelado que acompanha a Pastoral Sócio-Caritativa no Patriarcado.

Na conferência ‘Quem somos e o que fazemos’, D. Américo Aguiar traçou os atores e as ações da pastoral caritativa na diocese. “Das 285 paróquias, muitas têm ação caritativa organizada, centros sociais. Recebemos respostas de ‘não temos’, mas isso não é verdade, e se fosse, seria grave. Mas não é uma fotografia verdadeira e justa para o que acontece no Patriarcado”, reconheceu.

 

“Saber dizer os números”

Na sua intervenção no Centro Pastoral de Torres Vedras, D. Américo Aguiar lamentou a “falta de oxigénio” das instituições para enfrentar as despesas, em áreas “não mediáticas” como o acompanhamento dos idosos, “em higiene, em cuidado”. “Ao olhar para o futuro, haverá muita necessidade de responder ao estado de vida dos irmãos e irmãs. Fiquei perplexo ao saber que a nossa resposta a esta franja anda à volta dos 6%. Há muita procura e necessidade. O número de respostas é muito reduzido. Quando abraçamos estas oportunidades de construir edifícios e aumentar valências, porque ‘sim’, temos de ter consciência que não o podemos fazer, por muita que seja a pressão dos ciclos eleitorais autárquicos”, avisou. “Temos cerca de 15 mil profissionais nesta área da pastoral sócio-caritativa: o que significa de emprego, de encargos das instituições para responderem às expetativas dos trabalhadores, à dignidade e retribuição do trabalho”, afirmou. “Precisamos de saber o valor dos encargos totais. A Igreja faz caridade, mas temos de saber dizer os números dos encargos que não são cobertos pelo apoio do Estado e que as instituições têm de inventar para os cobrir. Temos de saber o terreno que pisamos. Precisamos olhar com naturalidade a partilha da informação”, acrescentou o Bispo Auxiliar de Lisboa.

 

Periferias

No início da tarde, o painel ‘A Igreja no centro das periferias’, moderado por Raquel Abecasis, apresentou o trabalho sócio-caritativo de algumas pastorais diocesanas. Manuela Mendonça, da Pastoral dos Ciganos do Patriarcado de Lisboa, afirmou que, este trabalho, que começou nos anos 70, tem aberto “caminhos”, mas dá conta de “autoestradas” que necessitam ser percorridas. Os objetivos deste serviço pretendem ir ao encontro de todos, “valorizar todos”, para serem “respeitados como pessoas, porque todos somos portugueses”. A aposta é na “relação pessoa a pessoa”, procurando fazer, com a comunidade cigana, “um encontro com os valores evangélicos”.

Por sua vez, Carmo Diniz, do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, e que, mais tarde, também deu a conhecer o trabalho de preparação da JMJ Lisboa 2023, frisou que a integração e a acessibilidade ultrapassa a existência de rampas [de acesso aos locais de culto ou outros], pois quando se fala de “pessoa com deficiência” deve-se entender uma variedade de diferenças: “Pode ser um filho que nasceu com limitação motora; pode ser um irmão que não consegue ouvir e por isso tem dificuldade em comunicar; um amigo que foi abandonado e que alguém não acreditou no seu potencial; uma mãe que cuidou e perdeu a sua capacidade de cuidar”.

Luís Palha, da Pastoral da Mobilidade e da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), afirmou que o apelo do Papa Francisco a que cada comunidade acolhesse uma família de refugiados foi fortemente aceite em Portugal, mas que este acolhimento é mais do que uma “assistência técnica”. A PAR apela a uma ajuda pessoal, de amizade, ao refugiado para aprender português, a olhar a cultura portuguesa, a valorizar o acolhimento, e a “um conhecimento das instituições anfitriãs”, para colaborações.

O padre José Luís Costa, coordenador diocesano da Pastoral Penitenciária, traçou um quadro da realidade prisional, mencionando 4.524 reclusos na diocese, num total de 11.412 reclusos a nível nacional; de 50 estabelecimentos em Portugal, 12 estão no território da diocese, dez deles com “complexidade elevada”. O sacerdote lamentou que os cidadãos “não tenham proximidade com os estabelecimentos prisionais”, apesar de estes estarem próximos da sua realidade. “Havia sempre um capelão fixo, hoje temos 10 padres – nenhum deles a tempo inteiro –, a colaboração de quatro diáconos e 160 voluntários, mas acredito que sejam mais”, afirmou.

 

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“O grande legado do cristianismo é a conceção da pessoa humana”

Na conferência ‘Caridade e profecia: uma reflexão para o presente’, D. José Tolentino de Mendonça sublinhou o valor e a atualidade incontornável da Doutrina Social da Igreja, desde Leão XIII até aos dias de hoje. “Aquilo que está na chave, como motor da Doutrina Social da Igreja, seja no final do século XIX, em que houve uma mudança epocal, seja nesta nova mudança de época em que vivemos – porque também nós estamos no olho do furacão –, o que está no centro é o legado do cristianismo à humanidade, ou seja, é a conceção da pessoa humana”, referiu o cardeal português, na intervenção online no Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa. “Esta conceção nasce com o cristianismo. Nasce do impacto da pregação de Jesus, da sua mensagem e do aprofundamento que as primeiras gerações de cristãos, de teólogos, de pensadores fazem acerca do significado da pessoa humana”, acrescentou.

O bibliotecário e arquivista da Santa Sé refletiu como a Igreja, com a sua doutrina social, “ganhou um direito de cidadania” e que “cada geração deve renovar permanentemente o percurso deste cristianismo social”. Por isso, a Doutrina Social da Igreja “não é um mero apêndice, mas está no coração da própria Igreja”, sublinhou. D. Tolentino recordou como os diferentes Papas, desde Leão XIII, têm estimulado a Igreja. “Basta pensar que o Papa Francisco já escreveu duas encíclicas sociais” (Laudato si’ e Fratelli tutti) e, como existe “um grande chamamento à mobilização social, não podemos ver a pastoral sócio-caritativa como um departamento apenas, mas como uma corrente, um sopro transversal, uma responsabilidade de todos, um domínio da pastoral que percorre todas a áreas”. “Sem este compromisso, sem esta resposta, o cristianismo corre o risco de ficar desencarnado e teórico”, alertou.

texto por Renascença

 

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“Fazer destes dois anos, até à JMJ, um grande exercício de misericórdia”

Na Missa que concluiu o Congresso Diocesano da Pastoral Sócio-Caritativa, o Cardeal-Patriarca definiu o objetivo para a caminhada da diocese até ao verão de 2023 – data de realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). “Vamos fazer destes dois anos, até à jornada – e já só faltam 27 meses, o que quer dizer: é depois de amanhã –, um grande exercício de misericórdia! E, depois, quando a jornada se desmontar, fica montada, ali mesmo, onde nunca passará: no coração daqueles que a viverem, de verdade”, apontou D. Manuel Clemente, na homilia da celebração que decorreu no Centro Pastoral de Torres Vedras.

Ainda sobre o caminho de preparação até à JMJ Lisboa 2023, o Cardeal-Patriarca de Lisboa pediu “uma atenção muito especial àqueles em quem Cristo se fixou e nos fixa também”. “Aí sim, aí podemos ter o coração para que a jornada não seja um festival, mas uma ascensão. E para que, com todas essas atividades, nós cresçamos com Jesus e ao modo de Jesus, e no Espírito de Jesus para o coração do Pai – o único lugar onde nos podemos encontrar todos”, salientou.

 

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No período da manhã, foram apresentadas quatro experiências vicariais que apoiaram a resposta às consequências da pandemia, nomeadamente da paróquia de Cascais, da Cáritas Paroquial de Famões, da paróquia da Lourinhã e da paróquia de São Mamede.

 

texto por Filipe Teixeira, com Ecclesia; fotos por Diogo PB e José Neves
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