
O diretor do Sector da Catequese de Lisboa considera que a carta apostólica do Papa Francisco que institui o ministério do catequista é “o reconhecimento” do “valor” e da “importância da missão” dos catequistas. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Tiago Neto assume que este ministério “não irá ser generalizado a todos os catequistas”, e destaca a importância do “discernimento eclesial” que tem de ser feito.
Na carta apostólica, sob forma de ‘Motu proprio’, ‘Antiquum ministerium’, o Papa Francisco instituiu o ministério de catequista. O que isto significa?
Significa que a Igreja reconhece, oficialmente, aquilo que é o valor e o papel que os catequistas desempenham, ou seja, a importância da sua missão na Igreja. No fundo, acho que há aqui um reconhecimento, e um agradecimento, por parte da Igreja, aos catequistas. Um facto evidenciado, já, em muitos documentos, desde o Concílio Vaticano II, em que aparece esta referência à valorização dos catequistas e do seu ministério na comunidade cristã. O novo diretório, e os diretórios anteriores, no fundo destacaram aquilo que é a importância do catequista e penso que este ministério vem destacar a identidade e a missão do catequista na comunidade cristã como alguém que é chamado para desempenhar um ministério fundamental naquilo que é o anúncio da fé. Portanto, tem a ver com essa importância que o catequista tem na comunidade cristã e na transmissão da fé.
Em termos práticos, o que vai diferir estes catequistas instituídos dos restantes? O que se espera destes catequistas?
O ministério do catequista não irá ser generalizado a todos os catequistas. Em primeiro lugar, é importante dizer que é um ministério ligado à condição dos leigos no mundo e à tarefa dos leigos naquilo que é a sua missão de evangelização. O Papa Francisco tem valorizado esta dimensão, de que o cristão é, por natureza, missionário e que todo o batizado tem, em si, a capacidade de anunciar o Evangelho. Portanto, tem a ver com a situação do catequista, como leigo, no meio do mundo e ao serviço da comunidade cristã. Penso que este ministério tem mais a ver com o reconhecimento eclesial do percurso feito por uma pessoa que é catequista, do que propriamente um itinerário para aceder ao ministério. Tem mais a ver com um processo de discernimento eclesial, um processo de discernimento feito no conjunto da comunidade cristã, diocesana e paroquial, mas não vai haver propriamente um itinerário para ser ministro ou para aceder ao ministério. Tem mais a ver com o reconhecimento do percurso feito e a Igreja, no fundo, é capaz de reconhecer naquela pessoa que exerce uma determinada função, seja ela paroquial ou mais diocesana, as qualidades humanas e de estabilidade no ministério que lhe permitem, no fundo, esse reconhecimento como ministro deste serviço.
Nesse sentido, como se vai processar a escolha dos catequistas que vão aceder a este ministério instituído? Será uma escolha do pároco?
Não sei se será uma escolha do pároco… acho que tem que ser uma escolha que envolva diversos intervenientes. Penso que tem de haver um processo de discernimento comunitário, em que interajam diversas entidades, diversas pessoas, nomeadamente o pároco, a comunidade cristã, os serviços diocesanos ligados à catequese e, em primeiro lugar, sempre o Bispo. Tem que haver um processo de discernimento comunitário no global, que permita reconhecer que aquela pessoa, no fundo, é catequista e sempre foi catequista, e a sua presença, como cristã, no mundo, passa pelo exercício da catequese. Portanto, aqui é preciso garantir não só aquilo que é a estabilidade no exercício da catequese, como um percurso formativo e de crescimento humano e espiritual e das suas competências a nível do desempenho da missão de catequista, que permita, no fundo, ver que esta pessoa é catequista. Não basta ser catequista um ou dois anos para aceder a este mistério. É preciso reconhecer que a pessoa foi chamada àquele serviço, e que aquela é uma vocação específica dentro da Igreja e da concretização da sua condição laical de batizado, no meio do mundo, e ao serviço de uma comunidade cristã.
Terá de ser feito um maior investimento na formação dos catequistas que vão ser instituídos?
Penso que tem que ser feito um investimento na formação de todos os catequistas. É na base daquilo que é um processo formativo, em que as pessoas estão envolvidas, em processo de crescimento humano e espiritual, que se virá a reconhecer que essa pessoa pode receber este ministério. Claro que a formação é essencial para todos os catequistas, mas nem todos os catequistas que fazem formação estão em condições de poderem ser instituídos catequistas. De qualquer modo, faz parte do caminho para esse reconhecimento um processo formativo sério e de envolvimento na paróquia e a nível da diocese. Por isso é que é importante o reconhecimento e o discernimento comunitário para se poder dizer que essa pessoa, no fundo, é catequista.
Na dimensão universal do reconhecimento deste ministério é muito diferente pensarmos naquilo que é a função do catequista em determinados contextos sociais, como em África, por exemplo, onde o catequista tem um papel determinante na organização da comunidade. Muitas vezes, é o catequista que é o líder da comunidade – porque o pároco ou o sacerdote vão muito poucas vezes – e assume um papel muito forte naquilo que é a liderança e a organização da comunidade cristã. Isso é diferente daquilo que é o conceder o ministério em situações como a nossa, em que o catequista tem uma outra função, não tanto na organização comunitária, mas que não quer dizer que não se possa valorizar e conceder esse ministério a catequistas. Mas não será à totalidade dos catequistas.
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos vai providenciar a publicação do Rito de Instituição e as Conferências Episcopais vão estabelecer os passos necessários. Quando poderemos então ter os primeiros catequistas instituídos?
Isso, não sabemos… Nós alegramo-nos com este passo, agora é preciso aguardar por aquilo que são as diretrizes da Conferência Episcopal para, no fundo, se poder chegar a esta concretização. Não se trata apenas de realizar um rito por si só – claro que o rito é fundamental e é necessário –, mas trata-se de um outro conjunto de circunstâncias e de avaliação do percurso das pessoas e de critérios. O documento refere esses critérios básicos para se poder eleger alguém para aquilo que é este ministério, mas de facto, em termos práticos, nós não sabemos como é que isso vai ser, nem como é que isso vai ser pensado a nível de Igreja em Portugal.
Considera que esta decisão do Papa Francisco mostra como os catequistas são centrais, hoje em dia, na transmissão da fé?
Sim. A nível mundial, são milhões de pessoas que dedicam grande parte da sua vida ao anúncio da fé. Trata-se de um reconhecimento necessário e legítimo, que peca por tardio. No fundo, é algo que se falava já há algumas décadas. Basta referir a [exortação apostólica] Evangelii Nuntiandi, do Papa Paulo VI, já na década de 70. Portanto, é algo que no fundo peca por tardio, neste sentido. De qualquer modo, é um passo muito importante naquilo que é o reconhecimento da missão dos catequistas junto daqueles que precisam de aceder à fé e daqueles que são evangelizados, tanto a nível de crianças, como de adolescentes ou adultos. O documento faz questão de salientar a importância dos párocos como catequistas, e dos bispos e dos próprios pais, no caso das crianças, mas destaca o papel essencial que tem o catequista, seja ele homem ou mulher, naquilo que é este serviço. Nós sabemos que, nas nossas paróquias, muito daquilo que é o serviço de transmissão da fé e de anúncio da fé está vinculado a ser um serviço específico. Trata-se de um carisma que terá de ser conhecido, mas terá de ser reconhecido na medida em há estabilidade na função, no exercício dessa missão e, sobretudo, eclesialidade. O catequista tem que ter uma dimensão de pertença à Igreja, não só a Igreja local, mas a Igreja universal. Não se trata apenas de um catequista da paróquia, mas a sua relação com toda a diocese. É importante frisar este ponto.
Claro que estamos ainda numa fase muito incipiente, embrionária, desta questão. Ela será trabalhada nos meios próprios, como refere o ‘Motu Proprio’ do Papa, mas, de qualquer modo, alegramo-nos com isso e nós, em Lisboa, certamente teremos muitos bons catequistas a quem o reconhecimento deste ministério será uma mais valia até para a própria vida diocesana e para a construção da Igreja.
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Conferência Episcopal recorda “papel central” dos catequistas na transmissão da fé
O presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé considerou que a carta apostólica ‘Antiquum ministerium’, que institui o ministério do catequista, é “um justo reconhecimento da missão” de homens e mulheres comprometidos na transmissão da fé. “Sendo certo que os pais são os primeiros educadores, não deixa de ser evidente o papel central que os catequistas ocuparam e ocupam na transmissão da fé aos mais novos. É bom que a Igreja reconheça, no ministério da palavra, a vocação dos catequistas e que consigne este papel na vida das paróquias”, sublinhou D. António Moiteiro, em declarações à Renascença.
O prelado, que é Bispo de Aveiro, referiu ainda que a carta apostólica que institui o ministério de catequista “vem na linha do [Concílio] Vaticano II” e dos “vários pronunciamentos posteriores, desde o Santo Padre Paulo VI até ao Santo Padre João Paulo II”. “Os vários pontífices têm deixado claro o papel central dos catequistas no processo de evangelização da Igreja. Este ministério de catequista lança as suas raízes na teologia e na eclesiologia do Concílio Vaticano II e alarga o ministério aos leigos. Já não temos a sua raiz apenas no sacramento da Ordem, mas radica no Batismo e na Confirmação”, acrescentou.
À espera das normas que, “por certo”, a Conferência Episcopal Portuguesa “há de emanar”, o presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé defendeu ainda “critérios formativos para o acesso ao ministério” e um “carácter estável para que ele seja instituído”, admitindo que “nem todos os agentes de catequese estarão em condições de assumir o ministério de catequista”. “O itinerário formativo que iniciámos recentemente, o ‘Ser Catequista’, pode ser ajuda e suporte para ajudar a clarificar quais os critérios para o exercício do ministério de catequista”, apontou.
D. António Moiteiro alegrou-se, ainda, por a Igreja em Portugal ter tido intuições de mudança que vão sendo confirmadas pela Igreja universal. “Em boa hora iniciámos este processo de formação de catequistas e de alteração no modo de transmitir a fé. Esta metodologia querigmática vai sendo confirmada com as orientações da Igreja, com o pensamento do Papa e com as necessidades reais da catequese, hoje”, finalizou.
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