
DOMINGO XI COMUM Ano B
“O reino de Deus é como um homem
que lançou a semente à terra.”
Mc 4, 26-34
Mesmo sem festas populares este domingo em Lisboa é dia de S. António. Serão próprias da sua festa as leituras nas missas da cidade, ainda que as deste domingo no resto do mundo nos lembrem a sua paixão pela palavra de Deus e a sua sementeira de pregador. Como foi possível em tão poucos anos, de 1222, na sua primeira pregação em Forli, ao dia da sua morte, a 13 de junho de 1231, ter-se tornado o pregador incansável que conhecemos? Eis uma passagem onde comenta o evangelho de hoje: “Ó pregador, lança à terra a tua semente da palavra; a tua, isto é, a que te foi confiada. E vê quão devidamente a palavra de Deus se diz semente. Assim como a semente deitada na terra germina e cresce – primeiramente, como diz o Senhor em S. Marcos, produz a erva, depois a espiga e por último o trigo maduro na espiga – também a palavra de Deus, semeada no coração do pecador. primeiro produz a erva da contrição, de que se lê no Génesis: Produza a terra, isto é, o espírito do pecador, a erva verde da contrição; depois a espiga da confissão, que se levanta ao alto pela esperança de se ver perdoado; por último o trigo maduro da satisfação.”
Encantados pelas festas (que este ano ainda não podemos retomar), pelos milagres que se lhe atribuem, pelos retratos populares e próximos que o reconhecem “santo de todos o mundo”, é pena ignorarmos a grandeza dos seus escritos, a audácia da sua vida e o testemunho da sua santidade. Bem gostaria também de o ver como patrono das JMJ de Lisboa 2023, assim como S. João de Brito, pois aqui nasceram. Mergulhar nos seus sermões é banharmo-nos na palavra de Deus e no incontável conhecimento das ciências do seu tempo com que ilustra as suas pregações. Em tudo encontrava semente para enriquecer o espírito e o conhecimento dos que o ouviam.
Nada nasce sem ser semeado. E a semente que é a palavra de Deus tem uma força irresistível, capaz de transformar tudo a partir de dentro. Nesta admirável colaboração entre Deus e o homem, a vida desenvolve-se e frutifica. A pequenez e a humildade dos inícios não são obstáculo para a abundância das colheitas. Importa dar valor ao trabalho humano, mas no princípio de tudo está a vida abundante que Deus oferece. O dinamismo da vida de Deus em nós e connosco é de crescimento, mas também de contemplação e maravilhamento. Quando nos julgamos donos da vida, numa actividade incansável e febril, a produzir para acumular e enriquecer, a pensar só no que é grande e esplendoroso, afastamo-nos de Deus e produzimos infelicidade. Ainda somos capazes de nos maravilhar com o que é pequeno e frágil e tão cheio de vida?
Sim, importa semear, com a humildade de agradecer as sementes. Com a paixão de S. António. E com a ousadia de Miguel Torga: “[…] todo o semeador / Semeia contra o presente. / Semeia como vidente / A seara do futuro, / Sem saber se o chão é duro / E lhe recebe a semente.”
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