Lisboa |
Investigação ‘A Azulejaria do Mosteiro de São Vicente de Fora - estudo para um guião’ vence Prémio ‘SOS Azulejo’
“O reconhecimento do valor deste património”
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Sabia que no Mosteiro de São Vicente de Fora há mais de 100 mil azulejos? E que este é o segundo monumento do mundo com mais azulejos no local original? Estas e outras curiosidades estão expostas na investigação ‘A Azulejaria do Mosteiro de São Vicente de Fora - estudo para um guião’, que venceu o Prémio ‘SOS Azulejo’. “Uma visita ao mosteiro acaba por ser também uma visita à história do azulejo em Portugal”, refere uma das investigadoras premiadas.

 

“Este prémio é o reconhecimento do valor do património que nós temos no Mosteiro de São Vicente de Fora. Ao mesmo tempo, esta distinção serve também para divulgar o nosso património”. É desta forma que Joana Santos Coelho, coordenadora do Museu do Mosteiro de São Vicente de Fora e uma das investigadoras galardoadas, reage, ao Jornal VOZ DA VERDADE, à atribuição do Prémio ‘SOS Azulejo’ 2019-2020, na categoria Prémio ‘Investigação e Divulgação em História de Arte’, à investigação ‘A Azulejaria do Mosteiro de São Vicente de Fora - estudo para um guião’. O trabalho foi desenvolvido por Joana Santos Coelho e Catarina Macedo, técnicas superiores da equipa do Mosteiro de São Vicente de Fora, formadas em História da Arte e História, respetivamente. “Este prémio acaba por ser uma atribuição de mérito ao trabalho que é feito aqui no mosteiro, ou seja, é o premiar os funcionários da casa”, acrescenta esta responsável.

Os Prémios ‘SOS Azulejo’ (www.sosazulejo.com) são um projeto promovido pelo Museu da Polícia Judiciária – em parceria com diversas universidades de Lisboa (Faculdade de Letras, Universidade Nova, entre outras), além de uma série de investigadores – e visa premiar trabalhos na área da azulejaria. Os vencedores da edição 2019-2020 foram divulgados no passado dia 6 de maio, Dia Nacional do Azulejo, e os galardões vão ser entregues no dia 9 de novembro, no Palácio da Fronteira, em Lisboa. Na comunicação com a informação da atribuição do prémio aos azulejos do Mosteiro de São Vicente de Fora, o júri salientou “o excecional nível da candidatura” e o “contributo para a valorização do património azulejar português”. “Uma coisa importante, para nós, é que o júri deste concurso foi composto pelos ‘gurus’ da azulejaria em Portugal”, frisa Joana Santos Coelho.

 

Visita à história do azulejo

O Mosteiro de São Vicente de Fora é o segundo monumento do mundo com mais azulejos no local original, ou seja, azulejos in situ. “Olhamos para o azulejo e vemos que ele foi feito especificamente para aqui. Basta olhar para as molduras. Claro que se formos ao Museu do Azulejo, com certeza que encontraremos mais, mas não foram feitos propositadamente para aquele espaço”, observa.

Além de ter azulejos de diferentes épocas e estilos, nos dias de hoje existem cerca de 100 mil azulejos no Mosteiro de São Vicente de Fora. “Os azulejos são um ex-libris do museu do mosteiro. São eles que trazem muitos dos visitantes que cá veem”, assume esta responsável. “Temos uma coleção muito grande de azulejos, com muita variedade, e sabemos que é um dos pontos que mais atrai turistas a este local. Ao longo do tempo, temos feito alguma investigação nesse sentido, para descobrirmos mais sobre os azulejos do mosteiro. Já tínhamos uma investigação feita, mas, tendo em conta que havia este prémio, decidimos compilar esse trabalho de investigação, já feito, para concorrer a este concurso”, explica a investigadora.

Joana Santos Coelho revela que este mosteiro “teve ainda mais azulejos”, mas que, “ao longo dos séculos, foram sendo levados”, nomeadamente “na extinção das ordens religiosas, em 1834, e na implantação da República, em 1910”. “Comprovadamente, havia mais de 120 mil azulejos no Mosteiro de São Vicente de Fora no final do século XIX. Para além da quantidade, temos a variedade. Temos azulejos desde o século XVII, até ao século XIX. Temos desde azulejos avulso, azulejos do ciclo dos mestres, azulejos de produção joanina, azulejos neoclássicos, azulejos de diferentes ateliers. Portanto, uma visita ao Mosteiro de São Vicente de Fora acaba por ser também uma visita à história do azulejo em Portugal”, considera esta investigadora. “O trabalho que nós fizemos foi um bocadinho mostrar isto. Dar a conhecer a história da azulejaria em Portugal, dando exemplos do que se pode encontrar, de cada um dos períodos, aqui no mosteiro”, acrescenta.

 

Continuar este trabalho

A investigação ‘A Azulejaria do Mosteiro de São Vicente de Fora - estudo para um guião’, que concorreu ao Prémio ‘SOS Azulejo’, juntou, então, estudos recentes a outros mais antigos. “Compilámos a investigação já existente, parte feita por nós, e outra parte tivemos de fazer um estado da arte, para saber os estudos que já tinham sido feitos. Há investigadores da área da azulejaria em Portugal que fizeram estudos intensivos sobre, por exemplo, os azulejos da portaria, outros sobre os azulejos dos claustros, mas há outro conjunto sobre o qual não há nada escrito e que nós tivemos de fazer essa investigação, como por exemplo os azulejos sobre a História de David, sobre a História de Jacob ou a História de José”, expõe a investigadora, revelando que “a parte da compilação e de preparação do trabalho para o prémio demorou cerca de três meses”. “Neste trabalho, concentrámo-nos na parte visitável do mosteiro. Quem sabe, um dia, possamos continuar este trabalho, falando um pouco e investigando os azulejos do lado da Cúria, onde também existem conjuntos muito interessantes”, deseja.

A título pessoal, Joana Santos Coelho refere que, para si, os azulejos mais significativos são os da portaria. “São os azulejos do ciclo dos mestres, são painéis únicos, não há iguais em mais lado nenhum do mundo, que nos contam histórias, que passam não só pela história de Portugal, como pela história do mosteiro. Temos painéis onde estão retratadas as reconquistas cristãs, os cónegos de Santo Agostinho em Santa Cruz de Coimbra e alguns Reis da história de Portugal. É um conjunto que me interessa muito”, partilha.

 

Conhecer os azulejos

Além de toda a azulejaria, o museu tem diversas ofertas aos visitantes, permanentes e itinerantes. “A pandemia trouxe um decréscimo acentuado de visitantes, mas, para os visitantes, a pandemia acabou por trazer alguma vantagem, visto que não podemos fazer visitas para grupos muito grandes, pelo que as nossas visitas são particulares. Pode vir uma pessoa, ou uma família, que queira a visita, e nós fazermos a visita. Não existe lotação mínima, apenas lotação máxima, que é de 10 pessoas”, revela.

A coordenadora do Museu do Mosteiro de São Vicente de Fora convida, por isso, a uma visita a este monumento. “Deixo o convite, a todos os que me estão a ler, para visitarem o mosteiro, conhecerem todos os nossos azulejos e muito mais. Para além destes mais de 100 mil azulejos, temos o Panteão Real, temos uma vista deslumbrante sobre Lisboa, temos uma sacristia com mármores embutidos, uma cisterna medieval… Estamos abertos de terça-feira a Domingo, das 10h00 às 18h00. São todos bem-vindos!”, termina Joana Santos Coelho, a coordenadora do Museu do Mosteiro de São Vicente de Fora e uma das investigadoras galardoadas com o Prémio ‘SOS Azulejo’ deste ano.

  

Mosteiro de São Vicente de Fora

www.mosteirodesaovicentedefora.com

 

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Visita temática ‘A Azulejaria do Mosteiro’

Quando: de 15 a 27 de junho, entre as 10h-18h

Duração: 90 minutos

Para quem: público em geral

Participantes: 1-10 pessoas

Inscrições e informações: museu@patriarcado-lisboa.pt (indicar o dia e hora mais conveniente, assim como o número de participantes, e aguardar a confirmação)

 

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Conjuntos de azulejos no Mosteiro de São Vicente de Fora

- Azulejos da escadaria dos Cardeais | Os mais antigos do mosteiro (1690); mistura de temas religiosos e profanos

- Azulejos avulso | Na antiga sacristia da capela do Cardeal Neto (atual exposição dos Patriarcas); azulejo habitualmente aplicado em cozinhas ou outras zonas mais práticas

- Azulejos da Portaria | Produzido no período do Ciclo dos Mestres (1710), por Manuel dos Santos; painéis únicos e historiados; representações de reis, de cónegos agostinianos e de cenas da Reconquista Cristã

- Azulejos dos Claustros | Produzidos no período da Grande Produção Joanina (1736), pelo atelier Valentim de Almeida; exclusivamente (e curiosamente) cenas do quotidiano da elite francesa no século XVIII

- Azulejos com cenas bíblicas (3 conjuntos, no 2.º piso) | Produzidos no período da Grande Produção Joanina, pelo atelier Valentim de Almeida, com uma banda desenhada em azulejo; proporcionam ótimas sessões de catequese, com a História de Jacob, a História de David e a História de José do Egipto

- Azulejos de padrão | Do século XVIII, no terraço poente; repetição regular como se de um tapete se tratasse, a cobrir a parede

- Azulejos com as Fábulas de La Fontaine | Cada painel conta uma fábula, existindo 38 fábulas em azulejo, de 1773, em exposição no 2.º piso; aplicados originalmente nas paredes erguidas entre os arcos dos claustros no piso 1; tema insólito neste contexto; autoria talvez de Francisco Jorge da Costa

- Outros conjuntos de azulejos | Ainda no Mosteiro, mas na parte não visitável (ocupada pela Cúria Diocesana), encontram-se outros conjuntos de azulejos, como por exemplo policromados do século XIX

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