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Camarões: Irmã Franciscana faz relato dramático e pede ajuda
“Fomos atacadas…”
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É uma carta que diz muito sobre o dia-a-dia nos Camarões, um país africano que enfrenta não só um movimento independentista como também os ataques terroristas do Boko Haram. É uma carta que diz muito, também, da coragem da Igreja, dos padres, das irmãs que estão ao lado dos que sofrem, das vítimas da violência. O que a Irmã Hedwig Vynio descreve parece retirado de um filme de terror. Infelizmente é apenas a verdade.

 

 

“As nossas irmãs também foram raptadas e levadas. Fomos atacadas em várias comunidades. Os nossos hospitais foram atacados pelas forças militares do Governo e também por terroristas…” O relato é relativamente curto. São palavras que foram escritas provavelmente com esforço, talvez mesmo com sofrimento. A Irmã Hedwig Vynio pede ajuda à Fundação AIS para a situação terrível que se vive nos Camarões, onde coexiste uma profunda crise política com um movimento que procura a independência da região onde predomina a língua inglesa, e, em simultâneo, com uma violência crescente de grupos jihadistas, nomeadamente o Boko Haram, que estando centrados na Nigéria lançam ataques também neste país. A Irmã Vynio fala numa crise de consequências “insuportáveis”. E descreve em dois parágrafos toda a tragédia de um povo, toda a miséria de uma nação. “Hoje, temos quase um milhão de deslocados internos.” Nem as irmãs escaparam. A Igreja tem uma presença assinalável nos Camarões, como em muitos países africanos, ao nível dos cuidados de saúde, mas também na educação, na promoção social. Sinal do caos que se vive neste país, relata a irmã, nem os hospitais da Igreja foram poupados. “O médico, as irmãs e as enfermeiras, todos foram espancados e forçados a percorrer longas distâncias para chegar ao convento. No momento, não só as pessoas estão gravemente traumatizadas, mas também as irmãs.”

 

O rapto do Cardeal Tumi

As regiões noroeste e sudoeste dos Camarões são as mais afectadas pela violência. Nos últimos quatro anos sucedem-se os ataques, os raptos, os assaltos, a destruição. Diz a irmã que “desde há quatro anos, homens, mulheres e crianças dessas regiões vivem em constante medo.” O medo levou à fuga das populações. As escolas estão encerradas, as portas das casas estão fechadas. As pessoas estão encurraladas no próprio medo. A pobreza que já caracterizava a região agravou-se. Os pobres tornaram-se praticamente indigentes. Ninguém imagina como seria a vida destas pessoas sem a presença da Igreja. Relata a irmã, que “mais de 80% das pessoas vivem em condições muito terríveis, com pouco ou nenhum acesso a água potável, alimentos ou medicamentos”. As pessoas estão como que encurraladas entre focos de violência. Os independentistas têm vindo a recorrer a todos os meios para forçarem à secessão do território da região anglófona. Ainda em Novembro do ano passado, homens armados raptaram o Cardeal Christian Tumi, de 90 anos. Seria libertado horas depois, mas para muitos ficou o aviso. Ninguém está a salvo nos Camarões.

 

Ataques indiscriminados

A violência independentista tem crescido desde 2016. Os números são incertos, mas calcula-se que mais de 3 mil pessoas tenham sido mortas e mais de meio milhão vive fora das suas casas, das suas aldeias, das suas comunidades. São deslocados internos. Para as autoridades a única estratégia que parece válida é a da repressão violenta. O massacre em Ngarbuh, no dia 14 de Fevereiro do ano passado, em que 21 pessoas foram mortas, incluindo 13 crianças e uma mulher grávida, não escapa ao relato da irmã. As autoridades procuraram esconder o incidente, mas a notícia galgou fronteiras. Diz a religiosa, que pertence às Irmãs Terciárias de São Francisco, que esse foi apenas um dos ataques. Houve mais, houve vários. Por exemplo, no dia “24 de Outubro de 2020, em Kumba, na região sudoeste, homens armados não identificados invadiram uma escola e abriram fogo contra crianças, matando 12 e ferindo outras pessoas. Soma-se a isso, a taxa de raptos para resgates, a brutalidade policial e a tortura…” Tudo tem vindo a crescer de dia para dia, tornando a vida insuportável. Muitos dos que fugiram destes ataques perderam as suas casas, que foram, entretanto, incendiadas. O número de órfãos e de crianças em situação de grande vulnerabilidade é já motivo de preocupação e não é incomum, descreve a Irmã Hedwig Vynio, ver “muitos desses menores desacompanhados a circular pelas ruas e pelas matas, desesperados…” A Igreja não tem mãos a medir perante tantas situações dramáticas, sendo, cada vez mais, o único refúgio para quem perdeu tudo e se sente abandonado. A Irmã Hedwig Vynio escreveu uma carta à Fundação AIS a pedir ajuda. É uma carta que diz muito, também, da coragem dos padres, das irmãs, de todos os que estão ao lado das vítimas da violência nos Camarões. O que esta religiosa descreve parece retirado de um filme de terror. Infelizmente é apenas a verdade. Ela precisa de nós, da nossa ajuda. Não a podemos desiludir.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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