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P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Pedro e Paulo, fundadores da Igreja romana
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São Pedro e São Paulo são os fundadores da Igreja romana, embora o protagonismo desta fundação é geralmente atribuído apenas ao que foi Bispo de Roma e primeiro Papa. Liturgicamente, contudo, o dia 29 de Junho continua a ser a solenidade de São Pedro e de São Paulo.
Como em tempos escreveu Joseph Ratzinger, na altura Bento XVI, “desde o princípio que a tradição cristã considerou Pedro e Paulo inseparáveis um do outro, embora tenham tido diferentes tarefas para realizar: Pedro foi o primeiro a confessar a sua fé em Cristo, e Paulo recebeu o dom de poder aprofundar a riqueza dessa fé. Pedro fundou a primeira comunidade de cristãos proveniente do povo eleito, e Paulo tornou-se o Apóstolo dos gentios. Com carismas diferentes, trabalharam para a mesma causa: a construção da Igreja de Cristo”.
Que também Paulo esteja associado, pelo seu martírio, à fundação da Igreja que preside à Cristandade é, decerto, um sinal de que a Igreja romana, assentando sobre aquele que o próprio Senhor escolheu como seu fundamento, alterando até o seu nome originário, Simão, para o de Pedro, ou pedra, deve ser gerida em comunhão com todos os seus irmãos no episcopado e que, com Pedro e sob Pedro, partilham a solicitude pela Igreja universal.
Neste sentido, o governo ‘monárquico’ da Igreja universal é sui generis, na medida em que o exercício dessa sagrada potestade, embora tenha no romano pontífice o seu único titular, não reside apenas na sua pessoa, mas em todo o colégio episcopal, a que pertence e a que preside.
Graças ao Concílio Vaticano II, foi reforçada a colegialidade eclesial, quer ao nível do governo da Igreja universal, quer também das próprias dioceses. Os sínodos são uma feliz expressão dessa colegialidade da Igreja católica, quer quando se realizam em Roma, sob a presidência do Santo Padre, quer quando ocorrem a nível diocesano, sob a autoridade do Bispo correspondente.
É muito salutar que estes eventos sinodais, universais ou particulares, reforcem a comunhão eclesial, nomeadamente no que respeita a novas formas pastorais de acometer a missão evangélica e missionária da Igreja. Não se trata já de definir novas verdades de fé, como aconteceu nos primeiros concílios ecuménicos, nem muito menos de reformular as bases doutrinais sobre as quais assenta o anúncio cristão, mas descobrir novas formas de a Igreja universal e particular desempenhar a sua missão evangelizadora.
A questão da sinodalidade eclesial, agora suscitada pelo Papa Francisco, parece augurar uma nova etapa na história do pontificado romano e inaugurar uma nova perspectiva ecuménica. É certo que, desde tempos imemoriais, foi reconhecido ao Bispo de Roma uma especial autoridade eclesial, ao ponto do próprio Santo Agostinho, a propósito de uma polémica que tinha oposto vários bispos, ter concluído que a questão estava resolvida a partir do momento em que a Sé Apostólica se tinha pronunciado: Roma locuta, causa finita, ou seja, se Roma falou, o assunto está decidido.
O reconhecimento desta jurisdição universal da sede romana é também o que, caracterizando a Igreja católica, a distingue de outras confissões cristãs. A primazia jurisdicional do Bispo de Roma, que preside à caridade, é fundacional e, portanto, indisponível, na medida em que pertence ao núcleo irreformável da constituição eclesial.
Contudo, é possível encontrar novas formas de exercício desse serviço pastoral, que não apenas valorizem a colegialidade, mas também possibilitem a reunificação de todas as igrejas cristãs. De facto, durante o primeiro milénio cristão, embora tenha havido dissidências pontuais, foi possível a unidade das principais igrejas cristãs, sob a égide romana. Assim tendo sido, não é temerário supor que também agora é possível encontrar novas formas de exercício da potestade petrina, em que se possam rever e integrar as igrejas ditas ortodoxas, bem como as confissões cristãs nascidas da reforma evangélica.
Vale a pena rezar para que o aprofundamento da sinodalidade eclesial não apenas favoreça a comunhão eclesial, mas também abra novas perspectivas ecuménicas, em ordem à realização do ideal de que todos os cristãos sejam uma só Igreja.
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