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À procura da Palavra
É preciso
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DOMINGO XIII COMUM Ano B

“Pegou-lhe na mão e disse: «Talita Kum»,

que significa: «Menina, Eu te ordeno:

Levanta-te».”

Mc 5, 41

 

Um dos efeitos nefastos desta pandemia é o receio de tocar. Tocar nas superfícies, nos objectos, no próprio corpo e nos de outros. Tocar para cuidar e por afecto, tocar para comunicar carinho e alegria, para consolar uma dor e estar presente não só por palavras, mas de corpo inteiro. Como se tornou difícil e raro o abraço e o beijo, e a simples mão estendida, passou a toque de cotovelos ou punhos fechados que parecem murros. E quando o toque se dá, é urgente higienizar com o máximo de álcool gel. Mas é preciso o cuidado e a responsabilidade, e quem poderá esquecer os abraços tornados possíveis naquele lar que inventou uma parede de plástico para abraçar pais e avós?

 

Precisamos dos toques humanos como de pão para a boca. Pois o próprio Deus na pessoa do Filho se fez Deus connosco, em corpo tocável e tocante, divino na nossa humanidade, até nos dar o seu corpo ressuscitado como alimento. E dos primeiros toques recebidos de Maria e José e a eles dados, a todos os outros como os do evangelho de hoje, Jesus revela o sagrado que o nosso corpo é, expressão profunda de vida e de amor. É verdade que tocamos de muitos modos: há palavras que não só tocam, mas mobilizam tudo o que somos para uma vida maior; há olhares e sorrisos (capazes de atravessar as máscaras!) que acendem fogueiras e fazem brotar nascentes nos desertos da alma; há música que desperta danças no nosso corpo; há silêncios que oferecem paz e confiança. Mas como não precisarmos deste toque de pele com pele, como o dedo estendido de Deus a dar vida ao homem pintados por Michelangelo no tecto da Capela Sistina?

 

Uma mulher, doente há 12 anos, com perdas de sangue que ninguém conseguia curar (o sangue que é vida, quando sai do corpo torna-se símbolo de morte, e isso excluía-a da comunidade, como um vírus que obrigava a ritos de purificação), não hesita em estender a mão para tocar Jesus, na confiança de ficar curada. E fica. E Jesus procura-a, para apresentá-la como modelo de fé e dizer-lhe com a maior das ternuras: “Minha filha, a tua fé te salvou”. Quantos tocaram Jesus naquele percurso e nada mudou na sua vida? Quantos “tocamos Jesus” há tantos anos, ouvintes habituais da sua palavra e “comungantes” frequentes da sua mesa e a nossa vida também não se transforma? Precisamos d’Ele?

 

Uma menina, com 12 anos também (símbolo do povo de Israel, necessitado de cura e vida nova), acabada de morrer, que Jesus, contra todos os que já desistiram, pega-lhe pela mão e diz: “Menina, levanta-te!”. Precisou apenas da fé dos presentes. Pois, para quem acredita n’Ele, não há situações irrecuperáveis.

 

Andei há volta da expressão “é preciso” porque me tocou a última canção de Miguel Gameiro composta nestes tempos difíceis. É bom ouvi-la: “É preciso / Abrir os braços em par /Voltar de novo a abraçar / E sentir o calor // É preciso / Dar esse beijo imperfeito / Que ferve cá dentro do peito / Nós somos feitos de amor // É preciso / Seguir que o caminho é em frente / Fugir não é coisa da gente / É preciso estender a mão // É preciso / Dar o melhor que nós temos / Todo o amor é de menos / É preciso levantar do chão.

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