O Cardeal-Patriarca apresentou a Palavra e a Oração como alimento do “ministério profético” dos quatro novos sacerdotes do Patriarcado de Lisboa e alertou para o risco de “popularidade fácil” na missão sacerdotal. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, os familiares e “irmãos na fé” dos novos padres destacam a “felicidade” do caminho percorrido por estes jovens até à ordenação.
Foi “um momento muito esperado” pelos familiares e irmãos de caminhada dos quatro novos sacerdotes do Patriarcado de Lisboa que estiveram presentes na celebração. No Mosteiro dos Jerónimos, no último Domingo, 4 de julho, a capacidade reduzida, ditada pela pandemia, não restringiu a alegria da irmã do agora padre António Ribeiro de Matos. Teresa partilha memórias de infância dos dois, onde sublinha o “carinho” que todos sentiam pelo seu irmão e a sua entrega, desde cedo, às coisas de Deus. “Lembro-me sempre do meu irmão acolitar na Missa no colégio, que decorria à hora do almoço e apenas para quem quisesse”, recorda esta jovem que, enquanto criança, nunca lhe “passou pela cabeça” ver o irmão padre. “Quando ele me contou [que ia entrar no seminário], foi uma alegria muito grande e acho que tem sido um privilégio enorme vê-lo crescer na sua relação com Deus e poder presenciar e beber dessa alegria e desse Amor. Isso também me ajuda a crescer na relação com Deus”, salienta.
Para os pais do padre João Silva, a ordenação do filho é motivo de “felicidade”. “Ele está feliz com o caminho que escolheu e nós, como pais, sempre o apoiámos neste caminho. Agora, cá estamos nesta etapa que é a concretização do sonho dele”, referiu o pai. Luís está seguro que a formação, a educação e, em especial, a “passagem pelos escuteiros” do seu filho serão “um contributo” para o ministério. Por sua vez, a mãe, Ana, sente “orgulho pela coragem” do filho ao “seguir aquilo em que acreditava”. “Espero que ele seja um sacerdote que vive o caminho dele com verdade e que possa contribuir para trazer uma lufada de ar fresco” à Igreja, desejou.
Para o padre Patrice Nikiema, natural do Burkina Faso, o calor da presença da “família de sangue” não foi possível. No entanto, a sua “família na fé” – a 7.ª Comunidade Neocatecumenal da Brandoa – esteve presente e testemunhou a integração deste jovem desde a sua chegada a Portugal, há nove anos. Dessa altura, o seu primeiro responsável de comunidade, Alexandre Silva, recorda a “timidez e humildade” do então seminarista. “Lembro-me também de muitos combates, muitas dúvidas, muitas lutas, mas sempre vi nele, depois das lutas, um desejo de querer entrar na vontade do Senhor”. Já Joaquim Sousa, atual responsável da comunidade, confirma a importância do “testemunho e da oração” do jovem sacerdote para toda a comunidade e garante que o padre Patrice está “tranquilo e pronto a aceitar esta missão que o Senhor lhe quer conceder”.
Para os pais do padre Pedro Figueiredo, a “lealdade e entrega” vão ser as principais características do ministério sacerdotal do filho. “A Igreja precisa deste sangue novo e o Pedro representa muito bem essa necessidade”, sublinha o pai, que partilha o nome com o filho. O momento vivido “é uma grande alegria, é a confirmação do chamamento”. “Uma mãe e um pai, ao verem um filho tão feliz, num momento destes, só podem ficar felizes, sem dúvida”, assegura o pai. Para a mãe, Mónica, o “sacramento maior” recebido pelo seu filho é um momento de “entrega, luz para nós e para ele ainda mais”.
“Não há lugar para ilusões”
Na homilia da celebração, o Cardeal-Patriarca de Lisboa começou por alertar os sacerdotes do risco da “popularidade fácil” na sua missão que, geralmente, é “sinal de infidelidade grande”. “Ser profeta implica viver positivamente o facto de ser divinamente garantido”, frisou D. Manuel Clemente, salientando que esta disposição não deve ser “motivo de tristeza”. “É antes sinal de que se encontrou a perfeita alegria, qual seja a de nos pronunciarmos segundo Deus e para salvar a todos, mesmo e sobretudo quanto tal implica verdadeira conversão, própria e alheia”, prosseguiu.
Na sua intervenção, o Cardeal-Patriarca, dirigindo-se aos ordinandos, lembrou-os que a vocação implica “exigência e contraste” em relação a uma “mentalidade difusa que desconhece ou distorce o Evangelho e o que ele propõe de verdadeiro, bom e belo”. Ser profeta “é uma aprendizagem que durará toda a vida e vos há de preencher o ministério”. “Neste ponto não há lugar para ilusões, apenas para convicções. Só tereis de estranhar se parecer fácil”, afirmou, perentoriamente.
Nesta celebração que foi presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa e onde estiveram presentes os Bispos Auxiliares bem como outros sacerdotes, D. Manuel Clemente apresentou o testemunho de alguns profetas bíblicos e confirmou que ser profeta, hoje, continua a significar “ver as coisas pelos olhos de Deus e proferir palavras que d’Ele venham”. “Como sabemos, a doçura não provinha de anunciar coisas fáceis, mas sim de ser palavra divina”, realçou. Perante as “contradições exteriores e resistências interiores” com que se vão deparar os novos sacerdotes, o Cardeal-Patriarca apontou-lhes como alimento a “Palavra divina” e a “Liturgia das Horas”. “Com a Palavra sabereis o que dizer e fazer a partir de Deus, nas circunstâncias que aparecerem. Sem ela, vivemos só por nós e pouco ou nada servimos o seu povo”, salientou.
Reafirmar princípios
Nos Jerónimos, o Cardeal-Patriarca voltou a reafirmar alguns dos “princípios de vida e convivência” que merecem, atualmente, uma atenção por parte de toda a sociedade, em especial por parte dos ordinandos. “A começar pelo que respeita à vida humana e à dignidade intrínseca de todo o seu percurso, do ventre materno à morte natural. Percurso cuja realidade essencial e evolutiva a ciência demonstra hoje como nunca, ainda que a prática o contradiga tanto. E lembrando que, por ‘natural’, continuamos a referir o que nos define em comum, como aparecemos no mundo e nos garantimos em conjunto, na humanidade de todos”, observou.
Também sobre a objeção de consciência dos profissionais de saúde, no caso da prática de aborto ou eutanásia, o Cardeal-Patriarca pediu o respeito por essa decisão contra enquadramentos legais que a ameacem. “No que toca à consciência – falo de ‘consciência’ como saber refletido e não mero sentimento ou reação imediata –, que tanto se manifesta na ação como na objeção e tem de ser respeitada e não lesada por qualquer pressão exterior, ‘legal’ que fosse – como sucederia, por exemplo, obrigando-se um profissional da saúde a colaborar contra vontade na prática do aborto ou da eutanásia”, sublinhou.
Por último, na sua homilia, D. Manuel Clemente alertou também para que o ‘novo normal’, que se espera atingir após a pandemia, atenda à “justa repartição dos bens” não mantenha e, “muito menos”, amplie o “fosso – quase precipício – entre os pouquíssimos que têm quase tudo e os muitos que não têm nada, ou quase nada”. “Como não poderá substituir sem mais a atividade humana pela tecnologia em avanço, pondo em causa o presente e o futuro de trabalhadores e famílias. Tudo isto ofende a Deus e ‘brada aos céus’”, observou o Cardeal-Patriarca, sublinhando que “os tempos e os modos mudam certamente; mas são maus ou bons na exata medida em que lesam ou favorecem as pessoas, todas e cada uma”.
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As fotografias da celebração estão disponíveis em www.flickr.com/patriarcadodelisboa
A transmissão em direto da celebração teve cerca de 9.000 visualizações em direto e está disponível em https://youtu.be/7Oydh4t2iyQ
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