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P. Manuel Barbosa, scj
Sonhos, memória e oração

Celebramos hoje o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, intenção que o Papa Francisco quer sempre presente no quarto domingo de julho. Na belíssima mensagem que nos oferece, o Papa deseja estar ternamente solidário com os avós e os idosos, recordando a dureza com que a tempestade inesperada e furiosa da pandemia os atingiu na doença, na morte, na solidão e no isolamento.

Esta celebração está associada ao exemplo de Ana e Joaquim, avós de Jesus, cuja memória se celebra a 26 de julho, os quais são referidos quer pela sua experiência de afastamento e de solidão, quer pela presença consoladora que receberam da parte do anjo enviado do Senhor. “Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis celebrado pela primeira vez precisamente neste ano, depois de um longo isolamento e com uma retoma ainda lenta da vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo! Este anjo, algumas vezes, terá o rosto dos nossos netos; outras vezes, dos familiares, dos amigos de longa data ou conhecidos precisamente neste momento difícil. Neste período, aprendemos a entender como são importantes, para cada um de nós, os abraços e as visitas, e muito me entristece o facto de as mesmas não serem ainda possíveis nalguns lugares”.

O Santo Padre destaca três pilares que os avós e os idosos podem oferecer como precioso contributo para construir o mundo de amanhã na fraternidade e na amizade social: os sonhos, a memória e a oração. Pilares que são autênticos caminhos a percorrer por todos nós, inspirados pelas pessoas mais idosas.

Os sonhos são explicitamente acentuados na promessa do profeta Joel: “Os vossos anciãos terão sonhos e os jovens terão visões” (3,1). A garantia do futuro, com os jovens a concretizar os sonhos dos idosos, está precisamente na fecunda aliança entre jovens e idosos. Sonhos que nunca deveriam findar: “é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro”.

A memória entrelaça-se com os sonhos. “Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros”. Como exemplos, o Papa evoca a paz e o acolhimento. A paz ganha valor quando se apreende a dolorosa memória das guerras. O horror do Holocausto, que dizimou com extremo horror milhões de vida nos campos de concentração durante a segunda guerra mundial, deve permanecer como memória viva, para que no mundo se construa apenas a paz e nunca a guerra. O Papa refere ainda que a convivência e o acolhimento do outro adquirem força com a memória dos difíceis tempos de emigração à procura de um futuro mais humano. “Sem a memória, não se pode construir; sem alicerces, tu nunca construirás uma casa. Nunca. E os alicerces da vida estão na memória”.

A oração é um pulmão para a sociedade e para a Igreja, sobretudo nestes tempos extremamente difíceis de pandemia, a exigir de todos oração de intercessão solidária, plenificada de serena confiança. Neste ponto, a mensagem cita Bento XVI, considerado como um idoso santo, que continua a rezar e trabalhar pela Igreja: “a oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o talvez de modo mais incisivo do que o esforço de tantos”.

Na sua vocação de “salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos” e pelo seu testemunho de vida, os avós e os idosos são verdadeira missão em dinamismo evangelizador, apontando a todos nós, discípulos missionários de Jesus Cristo, renovados caminhos na alegria do Evangelho.

Que este dia especial seja de agradecimento aos nossos avós e idosos pelos sonhos, memória e oração que assumem nas suas vidas e que fecundamente transmitem aos mais jovens.