Lisboa |
Três jovens de Lisboa professam na Aliança de Santa Maria
Pertencer a Deus totalmente
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As irmãs Andreia Ferreira (Ameixoeira) e Sophie Alves (Silveira) fizeram os votos perpétuos e a irmã Filomena Santana (Algés) professou os primeiros votos na Aliança de Santa Maria, no passado dia 5 de setembro. Estas três jovens de paróquias do Patriarcado de Lisboa sentiram-se tocadas “pela alegria” das religiosas e querem agora “entregar a vida a Deus”.

 

Uma guitarra. A história de vocação da irmã Sophie Alves, de 28 anos, está muito ligada a este instrumento musical. “Com 13, 14 anos, eu tocava guitarra e, na altura, estava na catequese e, meio na frivolidade, comecei a ajudar o grupo de jovens a tocar na Missa dominical. Foi assim que começou, até um retiro paroquial no Gerês, em 2007, onde conheci uma irmã da Aliança de Santa Maria que me fez a pergunta que me acompanhou durante muito tempo na minha vida: ‘E porque não ser freira?’ Foi uma pergunta curiosa. Recordo-me que queria ser fuzileiro na Marinha, e de repente surge a questão… Pensei que ela não tinha visto bem quem eu era. Foi um choque, mas a pergunta ficou durante três anos e eu procurava enterrá-la”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE a religiosa da paróquia da Silveira, em Torres Vedras, que professou os votos perpétuos na Aliança de Santa Maria (ASM), a 5 de setembro, em Fátima.

Nascida em França, Sophie veio para Portugal com três anos. “Só na adolescência é que conheci Jesus Salvador da minha vida, da minha história. Antes, era Jesus e Deus num patamar e eu noutro lugar. Quase um Deus que me observava, mas que não me tocava”, assume. Cerca de três anos após a pergunta, Sophie é convidada, pelo padre Filipe Santos, para um campo de férias do Patriarcado de Lisboa, o primeiro inter-congregacional, preparado por diversas religiosas. “Foi aí que surgiu de novo a questão sobre a vocação. Fui ao campo vocacional com o espírito de ‘vamos animar a malta’, mas ao falar com uma irmã – que percebo que era da mesma congregação que tinha conhecido três anos antes – fez-se um clique. Comecei com acompanhamento, com oração, a perceber qual era a vontade de Deus para mim”, conta a agora religiosa, destacando outro “momento fulcral” na sua história. “A minha família queria decidir o meu casamento e, num almoço, respondi: ‘Então e se eu não me casar?’ Fui para o quarto revoltada com Deus e fiz-Lhe um ultimato: ‘Deus, tens de me dizer se é vida religiosa ou não’. E ultimatos com Deus não funcionam, porque Ele responde mesmo”, assegura. “Nessa altura, abri a Bíblia ao acaso e pedi para Ele me responder. A primeira frase que vejo foi: ‘E deixaram tudo e seguiram Jesus’. A partir daí, foi cada vez mais séria a resposta que ia dando. Obviamente, com dúvidas, porque há sempre, porque é uma vida completamente diferente do normal, quase contra a corrente, mas foi a presença de Deus, este sinal de Deus concreto na minha vida, que me fez dar passos decisivos”, acrescenta.

A entrada na ASM acontece em 2011, no dia 30 de setembro. Sophie tinha então 18 anos e tinha acabado o 12.º ano. “Recordo, no início, um certo medo – o deixar tudo e seguir Jesus, viver os votos de pobreza, castidade, obediência e unidade –, mas depois também uma grande alegria, que se foi cimentando ao longo do tempo. Muita presença de Deus, quer na alegria, quer no sofrimento, que me fazem dizer este ‘sim’, hoje, e que me fazem, cada vez mais, ter a certeza de que Deus me ama e me quer como sua esposa até final da vida”, salienta. Os primeiros votos foram no dia 21 de novembro de 2015 e os votos perpétuos no passado Domingo. “Para explicar este dia, uso apenas uma frase, do Cântico dos Cânticos, que foi a frase do nosso convite: ‘Eu pertenço ao meu amado e o seu desejo impele-o para mim’. O que nós queremos perpetuar para o resto da nossa vida é este desejo, entre Deus e o homem – que vamos vendo na humanidade e que nós queremos também hoje antecipar com a nossa vida –, que é a pertença a Deus. Pertencer a Deus totalmente e perceber que Ele me deseja verdadeiramente”, termina a irmã Sophie Alves, que vai agora continuar a residir na comunidade de Lisboa da ASM e a colaborar no departamento de comunicação e na pastoral vocacional e juvenil desta congregação e também na pastoral vocacional do Patriarcado de Lisboa.

 

“Única palavra possível é alegria”

Andreia Ferreira era uma jovem que tinha uma vida “muito ativa”, com “muitos amigos”, até que alguém do seu grupo a convida para um retiro de irmãs. “Pensei que iria conhecer mais gente e disse que sim. Cheguei lá e era um retiro de silêncio! Mas foi onde ouvi pela primeira vez uma palavra que eu desconhecia existir no dicionário: vocação”, conta, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Estávamos em 2010, a (agora) irmã Andreia, então com 19 anos, queria “ser cristã a sério” e pergunta a Deus qual a sua vocação. “Fiz asneira, porque Ele começou a responder e eu não gostei da resposta. Comecei a identificar-me demasiado com a vida daquelas religiosas da Aliança de Santa Maria, que eram jovens, muito parecidas comigo, super alegres. Uma ou outra religiosa até tinha amigos em comum comigo! Comecei a não achar muita piada e percebia que Deus me conhecia melhor, que tocava a minha vida e me convidava a algo mais: para entregar a minha vida a Ele”, acrescenta.

Natural da paróquia da Ameixoeira, na cidade de Lisboa, esta religiosa sublinha que nasceu “numa típica família cristã não praticante”. “Os meus avós maternos eram católicos e a minha mãe colocou-nos na catequese, mas nunca obrigou. A minha irmã e eu sabíamos que no dia em que não quiséssemos ir, podíamos sair”, partilha. Chegou ao Crisma – antes ainda do tal retiro – e começa a perceber que o grupo de jovens “era interessante”. “Dava para conhecer pessoas e fazer atividades giras, mas claro que na adolescência passei pela crise do ‘será que eu acredito nisto?’”. Assumindo que sentia “um vazio forte” dentro de si, Andreia teve depois “uma experiência forte” em Taizé, impulsionada pela irmã mais velha, naquele que considera ser o seu “primeiro encontro com Deus”. Foi na Páscoa de 2009. “A partir daí houve um conhecimento de Deus a sério. Percebi um Deus que me tocava, que me amava e deixei de ver aquele Deus longe, teórico, para perceber que, afinal, Ele existe”, conta.

Acontece então o retiro de silêncio e o “período de discernimento, em que se pesam os prós e os contras”. “Não me identificava com nenhuma profissão em concreto e Deus foi-me respondendo. Entrou aqui a questão da vocação, no momento em que estou nas escolhas, e houve um momento em que deixei de resistir à questão, através do acompanhamento espiritual. Comecei a sentir a necessidade de frequentar os sacramentos com maior frequência e, a partir daí, começou a ser tão claro, tão evidente, que não resisti”, assume.

Sobre os quase dez anos na congregação da Aliança de Santa Maria, onde entrou em janeiro de 2012, esta religiosa que agora vai para a comunidade de Estarreja salienta que “a única palavra possível é alegria”. “É todo um percurso que se vai fazendo, de altos e baixos, de dúvidas e de certezas, é um caminhar dia-a-dia com o Senhor e ir crescendo. É muito difícil exprimir por palavras o dia dos nossos votos perpétuos. É um sentimento de união incrível entre o Céu e a terra, entre a vontade de Deus e a entrega de vida, e é também um fazer memória de todos os momentos em que Deus se foi manifestando ao longo de todo o percurso, de perceber uma presença viva e real que fala através das coisas mais pequenas, que fala através das coisas humanas”, manifesta a irmã Andreia.

 

Vocação aos… 10 anos

Se as irmãs Sophie e Andreia fizeram os votos perpétuos, a irmã Filomena Santana, de 24 anos, professou os primeiros votos na mesma celebração. “A primeira vez que pensei ser religiosa tinha 10 anos. Foi depois de ter falado com uma irmã da Aliança de Santa Maria, da Comunidade do Anjo de Portugal, aqui em Fátima, durante um passeio com a família. Estive com os meus pais e com a minha irmã a conversar com essa religiosa que nos recebeu, e o amor a Deus desta irmã, a sua alegria e bondade tocaram-me tanto que naquele dia pensei: ‘Também quero ser como ela!’. Disse então aos meus pais, que aceitaram bem a ideia, e era um desejo sério, mas que desapareceu com o passar do tempo…”, conta a jovem religiosa, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Natural da paróquia de Cristo-Rei de Algés, a irmã Filomena diz ter crescido “numa família muito cristã”. “Rezávamos juntos todas as noites, íamos à Missa ao Domingo e considero esse um dos maiores dons na minha vida. Foi em família que recebi o dom da fé, que eu aprendi a rezar, a amar a Deus”, frisa. Na paróquia, andou na catequese, no grupo de jovens e também nos escuteiros. “Sinto que foram grupos mesmo muito importantes para crescer no sentido da vivência da fé num contexto comunitário, ou seja, crescer no sentido de pertença à Igreja”, destaca. Na adolescência, Filomena começa “a sentir aquele vazio interior”. “Tinha uma boa família, bons amigos, à partida nada me faltava; mas, não me sentia, mesmo, preenchida. Faltava alguma coisa”, recorda. Com 16 anos, acontece o “ponto de reviravolta”. “Comecei a rezar diariamente o terço e encontrei aquele sentido que procurava. Foi no mês de maio e comecei a ficar muito mais próxima de Jesus”, lembra.

No segundo ano da faculdade, conheceu (novamente) a congregação religiosa que vai “despertar de novo a questão vocacional”. “Eu andava mesmo inquieta sobre o que Deus queria de mim. Estava disposta a seguir o que o Senhor quisesse, quer fosse pelo matrimónio, quer fosse pela vida religiosa, precisava era de saber o quê”, pensava, então. Andou “sozinha” à procura da vontade de Deus, mas “não estava a resultar”. “Percebia que precisava de ajuda e um sacerdote amigo, ao saber disso, encaminhou-me para uma irmã da Aliança de Santa Maria. Claro que me recordei do encontro quando tinha 10 anos! Comecei a ser acompanhada, a rezar mais, a ter mais amor à Palavra de Deus e à adoração eucarística e percebi que o Senhor me chamava. Foi bonito, porque aquilo que me cativou nas irmãs foi aquilo que me tinha cativado quando tinha 10 anos: a seriedade de vida das irmãs, o grande amor à oração, mas também a proximidade e a alegria. E isso cativava-me”, sublinha.

A pesar na decisão de entrar, ou não, na vida religiosa estava o falecimento da mãe. “O que me custava mais nem era tanto o deixar o mestrado ou não ir trabalhar, mas era mesmo a questão da família, porque a minha mãe faleceu cerca de um ano antes de eu entrar na congregação. Não queria deixar sozinha a minha família, mas foi uma grande graça a forma como o meu pai e a minha irmã reagiram à decisão. Deus sabe as circunstâncias em que chama. Por isso, disse ‘sim’ e o apoio deles foi muito bom e fortaleceu muito”, assegura a irmã Filomena, lembrando que entrou na ASM, “com muita alegria”, no dia 21 de novembro de 2017. “Estes quatro anos foram muito bons, sobretudo para conhecer qual o estilo próprio de seguir Jesus na Aliança de Santa Maria, que é muito marcado pela figura de Nossa Senhora. Foram anos essenciais para conhecer melhor quem é Deus, quem eu sou na sua luz, quem eu sou n’Ele”, resume.

Sobre a celebração de primeiros votos, a irmã Filomena destaca a palavra “alegria”. “É bonito dar o nosso ‘sim’ em Igreja. É uma grande alegria sentir que o Senhor conta connosco para amá-l’O e servi-l’O na Igreja”, responde a jovem religiosa.

 

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Caminho conjunto

A história de vocação da irmã Andreia cruza-se com o da irmã Sophie, que refere: “Nós somos amigas desde antes de entrarmos na congregação!”. A irmã Andreia concretiza como nasceu a amizade: “A primeira vez foi num encontro de Taizé, no Porto, em que no meio de uma roda de 20 ou 30 jovens está alguém de cabelos loiros, compridos, e uma guitarra na mão, a animar a malta. Mais tarde, em maio de 2010, aquando da visita do Papa Bento XVI a Portugal, no autocarro do ‘Eu Acredito’ para Fátima, encontra-se novamente alguém de cabelos loiros, compridos, de guitarra na mão a tocar a mesma música. Nesse verão, acontece o campo vocacional para raparigas e ao chegar a Penafirme vejo uma rapariga loira, de cabelos compridos e guitarra na mão, com todo o grupo à volta, a cantar. Era novamente a Sophie! Trocámos então os contactos e, nesse mesmo ano, fomos juntas ao campo de férias da Aliança de Santa Maria. A partir daí, começou toda uma amizade”. Sophie entrou na congregação em setembro de 2011 e Andreia em janeiro de 2012. A irmã Sophie destaca como fizeram “juntas” todo o percurso. “Apoiámo-nos uma à outra, mesmo no período de discernimento, nas dúvidas, nos sinais e nas ‘Deuscidências’. Fomos a ‘bengala’ uma da outra. Quando temos alguém a ajudar e a fortalecer, não desanimamos. São 11 anos de caminho juntas, é bonito!”, partilha.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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