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P. Manuel Barbosa, scj
Para uma Igreja sinodal

«Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão». É o tema do processo sinodal para toda a Igreja, convocado pelo Papa Francisco. O Documento Preparatório e o Vademecum dão orientações, insistindo sobretudo na fase diocesana e de cada conferência episcopal, de outubro de 2021 a abril de 2022, antes da fase continental e da Assembleia dos Bispos em Sínodo, em outubro de 2023.

Cada Bispo Diocesano fará a abertura do processo sinodal numa celebração litúrgica a 17 de outubro de 2021 (o Papa iniciará em Roma nos dias 9 e 10 de outubro) e nomeará uma Pessoa de Contacto e uma Equipa Sinodal Diocesana para coordenar e dinamizar o processo. No final desta fase, cada Diocese fará uma síntese de 10 páginas, a ser enviada à Conferência Episcopal (CEP) até finais de março; também até finais de março, cada Diocese realizará uma Reunião Pré-Sinodal, centrada na celebração da Eucaristia, divulgando nessa altura a síntese preparada. A partir das sínteses diocesanas, a CEP elaborará a síntese final, também de dez páginas, a ser enviada à Secretaria Geral do Sínodo, e uma Reunião Pré-Sinodal da CEP na Assembleia Plenária de abril de 2022.

A 18 de setembro, no discurso que endereçou aos fiéis da sua Diocese de Roma, o Papa Francisco abordou o sentido do processo sinodal quase a iniciar-se, de que saliento aqui algumas passagens.

O processo sinodal deve acontecer «num dinamismo de escuta recíproca a todos os níveis da Igreja, envolvendo todo o povo de Deus. Os Bispos devem escutar-se uns aos outros; os sacerdotes devem escutar-se uns aos outros; os religiosos devem escutar-se uns aos outros; os leigos devem escutar-se uns aos outros. E depois, escutar-se todos uns aos outros. Escutar-se uns aos outros; falar uns com os outros e ouvir-se uns aos outros. Não se trata de recolher opiniões, não. Não é um inquérito! Trata-se de escutar o Espírito Santo…».

Sendo a Igreja toda sinodal, «o tema da sinodalidade não é um capítulo de um tratado de eclesiologia; muito menos, uma moda, um slogan ou um novo termo para usar ou instrumentalizar nas nossas reuniões. Não! A sinodalidade exprime a natureza da Igreja, a sua forma, o seu estilo, a sua missão».

Todos são protagonistas no caminhar juntos em processo sinodal, sempre na escuta do Espírito, que é o protagonista principal. «Se o Espírito não estiver presente, será um parlamento diocesano, mas não um Sínodo. Não estamos a fazer um parlamento diocesano; não estamos a fazer um estudo sobre isto ou aquilo. Não! Estamos a fazer um caminho de nos escutarmos uns aos outros e de escutarmos o Espírito Santo, de discutir e também de discutir com o Espírito Santo, que é uma maneira de rezar».

Tudo acontece numa Igreja peregrina sempre a caminho e em atitude orante, caso contrário a Igreja será apenas «uma bela associação piedosa, porque engaiola o Espírito Santo». É preciso «conservar o fogo do Espírito e não as cinzas da Igreja, de cada associação ou grupo».

O processo sinodal ultrapassa as fronteiras dos habituais espaços eclesiais. Todos os descartados fazem parte do Sínodo e da Igreja, todos têm voz e devem ser escutados. «Encorajo-vos a levar a sério este processo sinodal, o Espírito Santo precisa de vós. E isto é verdade: o Espírito Santo precisa de nós. Escutai o Espírito escutando-vos uns aos outros. Não deixeis ninguém de fora ou para trás… É preciso sair dos 3-4% que representam os mais próximos e ir mais longe para escutar os outros, que por vezes vos hão de insultar, vos hão de expulsar, mas é necessário ouvir o que eles pensam, sem querer impor as nossas coisas: deixar que o Espírito nos fale».

Que o dinamismo sinodal nos leve a caminhar juntos, fazendo com que a Igreja seja sinodal na comunhão, participação e missão.