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A história dramática de um rapaz cristão forçado a fugir do Afeganistão
A angustiante viagem de Ali
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Ali Ehsani tem 38 anos, é advogado e coordenador de uma rede de solidariedade para refugiados. Há três décadas, assistiu ao assassinato dos pais pelos talibãs. Tinha 8 anos quando foi forçado a fugir do país. Na companhia de um irmão, fez-se ao caminho. Foi uma longa e penosa viagem que só terminou em Itália. O irmão não sobreviveu. Em entrevista à Fundação AIS, Ehsani contou a sua história.

 

O regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão trouxe este país para o centro do mundo. Os telejornais mostraram cenas de pânico no aeroporto de Cabul com milhares de pessoas aterrorizadas procurando fugir, procurando um lugar num avião. O medo estava espelhado em praticamente todos os rostos, estava presente nos olhares, nas lágrimas, nos gritos de quem pedia ajuda. Ali Ehsani foi seguramente uma das pessoas que viu essas imagens quando o Afeganistão abriu os noticiários das televisões, quando a tomada de poder pelos talibãs foi a manchete dos jornais em todo o mundo. Ali sabia bem o significado daquele medo.

 

Fé na clandestinidade

O regresso dos talibãs ao poder avivou memórias dolorosas da vida de Ali Ehsani, dos tempos em que a sua família vivia a fé em Cristo na clandestinidade. Tinha 8 anos. “Um dia cheguei a casa, vindo da escola, e descobri que os talibãs tinham destruído a nossa casa e matado os meus pais. O meu irmão e eu fomos forçados a fugir do Afeganistão.” Os pais tinham sido denunciados por um vizinho. Denunciados por serem cristãos. “Foi uma viagem angustiante que nos levou do Afeganistão ao Paquistão, Irão, Turquia e Grécia, até chegarmos a Itália. O meu irmão morreu pelo caminho…”

 

Intolerância religiosa

A família de Ali vivia a sua fé no maior dos segredos. O Afeganistão é um país maioritariamente muçulmano com uma tolerância muito reduzida para as minorias religiosas, para os não sunitas. Com uma visão muito rigorosa do Islão, as mulheres são obrigadas a usar burca, os homens têm de deixar crescer a barba, num mundo de proibições que torna a vida sufocante para a esmagadora maioria da população. Os pais de Ali sabiam disso e nunca falaram abertamente sobre a religião porque receavam que ele, ainda criança, os traísse inadvertidamente. Um dia, os seus amigos perguntaram-lhe por que razão o pai não ia à mesquita para as orações como todos os outros homens, como todos os muçulmanos. “Fui para casa e perguntei-lhe. Ele pediu-me para não dizer a ninguém que éramos cristãos…” Mas o segredo foi descoberto e acabou em tragédia.

 

Bóia de salvação

Ali tinha 8 anos. O irmão era mais velho. Tinha 16. A viagem até Itália, uma verdadeira odisseia, durou cinco anos. “Foi angustiante”, diz agora, como se fosse possível reduzir tudo a duas palavras. Já passaram muitos anos, mas ainda é difícil lembrar a morte do irmão. Tinham apanhado um barco para chegar à Grécia. O mar agitado acabou por ser a sepultura do seu irmão. Ali agarrou-se a uma botija de gasolina que transformou numa bóia de salvação. “Se Jesus existe, Ele salvar-me-á de morrer afogado”, foi o que pensou. Sobreviveu. Tinha 11 anos quando chegou a Itália com ideias muito concretas sobre o que queria fazer na sua vida: estudar Direito, ser advogado para defender os mais fracos, os que estivessem em dificuldades, os que ficassem órfãos, como ele. E nunca se esqueceu das suas raízes, do seu país. Nunca se esqueceu de tentar ajudar outros que pudessem estar a viver também clandestinamente a sua fé no Afeganistão.

 

Salvar famílias cristãs

E foi assim que descobriu uma família que precisava de ajuda. Uma história incrivelmente parecida com a sua. A televisão ligada via satélite a um domingo a transmitir a Missa foi suficiente para que um vizinho os denunciasse. “O pai foi preso e não mais ouviram falar dele. A família foi forçada a fugir e escondeu-se numa espécie de abrigo, pagando a um guarda para protegê-los. Graças às autoridades italianas e do Vaticano, conseguimos tirá-los do país. Vivem agora em Itália….” Ali Ehsani conta como esses primeiros dias em liberdade foram vividos intensamente por esta família que ajudou a retirar do Afeganistão. “A primeira vez que puderam assistir à Missa, ficaram tão emocionados que só choravam. Foi profundamente comovente…” Um dos elementos da família confessou que depois de tantos anos a viver a fé na clandestinidade, sentia-se como que a renascer. Depois desta família já se seguiram outras três. Ao todo, foram oito mulheres, seis homens e sete crianças. Ali Ehsani sabe bem o que significa essa palavra. Também ele teve de aprender a respirar em liberdade. Ali tinha apenas 8 anos quando fugiu do Afeganistão.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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