Catequese |
Diretório para a Catequese
A identidade da catequese: a força transformadora do querigma
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A problemática da identidade da catequese constitui um dos contributos mais relevantes do Diretório para a Catequese, não só porque apresenta uma visão renovada do processo de evangelização, mas também por retomar alguns princípios enunciados pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica A alegria do Evangelho. Sendo «um ato de natureza eclesial» que brota do mandato missionário de Jesus aos seus discípulos (cf. Mt 28, 19-20), a catequese tem como missão fazer ressoar o anúncio da Páscoa de Jesus na vida de cada pessoa, para que escutando a palavra de Deus e mediante um exercício contínuo de conversão possa transformar-se e configurar-se com Cristo (cf. DC 55).

No que diz respeito a uma nova visão do processo de evangelização, o Diretório sustenta que, na atual conjuntura social e eclesial, já não é possível estabelecer uma nítida separação entre as diferentes etapas do caminho catecumenal: pré-evangelização, primeiro anúncio, catequese e formação permanente. Tal facto é justificado pela consciência de que a dinâmica da fé é mais complexa do que esse quadro concetual estabelece. Ou seja, muitos daqueles que pedem para aceder aos sacramentos ou frequentam a catequese não tiveram nenhum tipo de iniciação à fé cristã, nem conhecem a sua força e o seu calor, ou porque muitas famílias não são lugares de primeiro anúncio, no caso das crianças, ou porque a chegada à fé resulta de um processo itinerante de múltiplas buscas, no caso dos adultos.

Por estas e outras razões, a catequese deve, hoje em dia, assumir um traço acentuadamente querigmático. Se a catequese se compreendia, tradicionalmente, como um momento de acompanhamento de uma fé inicial rumo a uma maturidade crescente, hoje em dia, a catequese não pode dar a fé por pressuposta. Este facto leva a que se considere como desadequada a consideração, defendida nas últimas décadas, de que o objetivo fundamental da catequese seja «desenvolver a fé inicial e levá-la à sua maturidade». À catequese compete a missão do primeiro anúncio, do despertar e da gestação da fé. Neste sentido, «o anúncio já não pode ser considerado simplesmente como a primeira etapa da fé, prévia à catequese, mas como a dimensão constitutiva de cada momento da catequese» (DC 57).

Por isso, o Diretório não só estabelece uma íntima relação entre querigma e catequese, como propõe que a catequese seja querigmática. A este respeito salienta que o querigma é, simultaneamente, «um ato de anúncio e o próprio conteúdo do anúncio» (DC 58). Enquanto ato de anúncio, o querigma é obra do próprio Jesus que se torna presente na vida das suas testemunhas, daqueles que experimentaram a salvação de Deus e a anunciam com a própria vida. Enquanto conteúdo do anúncio, o querigma é a própria pessoa de Jesus. Assim, «na boca do catequista volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: “Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar”» (EG 164). A relação entre conteúdo e ato de anúncio requer que os catequistas sejam os primeiros ouvintes do Evangelho que proclamam, os primeiros a viver a alegria do encontro com Jesus e a beleza do Evangelho que propõem.

A explicitação do querigma com as acentuações próprias para cada pessoa e situação reclama uma encarnação desse anúncio primordial como expressão da salvação trazida por Jesus. Numa importante nota de rodapé, enumeram-se algumas fórmulas bíblicas do querigma que alargam a nossa compreensão do seu significado e da exigência de fazer surgir, hoje, «anúncios credíveis, confissões de fé vitais, novos hinos cristológicos para narrar a cada um a boa nova». (DC 58, cf. nota 76). Em concreto, a catequese é chamada transformar o seu rosto, acentuando as seguintes dimensões: o caráter de proposta do evangelho e da mensagem cristã, a força narrativa da sua linguagem, a qualidade relacional e afetiva, a atenção à pessoa e à sua situação, a relevância do testemunho credível da própria fé, a dimensão salvífica do anúncio e os sinais concretos que pode realizar na promoção da dignidade da vida humana, da justiça social e do cuidado da criação. Estas qualidades da catequese podem favorecer algo de realmente sublime, a possibilidade do encontro com o Deus vivo e a transformação da vida na fé, esperança e caridade.

É a esta luz que se compreende o continuado enfoque da inspiração catecumenal da catequese. Tendo sido restaurado com o Concílio Vaticano II, o catecumenado não só se estabeleceu como o caminho cristão de iniciação dos adultos que desejam ser cristãos, como constitui a matriz inspiradora da catequese. Tendo surgido igualmente num tempo de grande afastamento da proposta cristã, o facto de hoje não se poder «dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos, ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho» (EG 34), reclama a necessidade da catequese adotar alguns dos seus elementos que se colocam numa clara linha mistagógica: a) o caráter pascal, b) o caráter iniciático; c) o caráter litúrgico, ritual e simbólico, d) o caráter comunitário, e) o caráter de conversão permanente e de testemunho, d) o caráter de progressividade da experiência formativa.

Estes elementos configuram uma catequese de iniciação à vida cristã caracterizada por uma forte dimensão existencial, acentuadamente querigmática e catecumenal. É nesta linha que se situa o novo itinerário de iniciação à vida cristã com as famílias, as crianças e os adolescentes aprovado na generalidade pelos nossos Bispos e cujos primeiros frutos aparecerão dentro de um ano e meio.

texto pelo P. Tiago Neto, diretor do Setor da Catequese de Lisboa
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