Lisboa |
D. José Policarpo
Uma vida dedicada à Igreja
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Foi Patriarca de Lisboa entre 1998 e 2013. D. José Policarpo, de 77 anos, diz que a partir de agora vai dedicar o tempo à oração, à escrita e ao descanso. D. Manuel Clemente, seu antigo Bispo Auxiliar, sucede-lhe como Pastor na Diocese de Lisboa.

 

Nasceu em Alvorninha, Concelho das Caldas da Rainha, no dia 26 de fevereiro de 1936. Proveniente de uma família numerosa, a primeira vez que o pequeno José Policarpo pensou em entrar no seminário para ser padre, coincidiu com a altura em que recebeu o Sacramento do Crisma. Uma opção que vem a concretizar-se com a entrada no Seminário de Santarém e que desde cedo teve o acordo dos pais. De Santarém passa para o Seminário de Almada, onde conclui o curso secundário, e depois para o Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais, onde vai concluir a formação filosófica e teológica. A 15 de agosto de 1961, quando tinha 25 anos, o jovem Policarpo é ordenado sacerdote na Sé de Lisboa, pelo Cardeal-Patriarca Manuel Cerejeira que logo de seguida o nomeia como professor e vice-reitor do Seminário Liceal de Penafirme, nomeação que dura entre 1963 a 1968.

Sobre a formação em seminário menor considera ser um período, “não de preparação imediata para o sacerdócio, mas de maturação de uma vocação”. “A própria vocação amadurece durante esse período com a aprendizagem da fé, com a cultura, mas sobretudo com a aprendizagem da fé, com uma identificação com o modelo sacerdotal”, referiu D. José Policarpo, em entrevista concedida ao Jornal VOZ DA VERDADE, a 30 de Outubro de 2011.

 

Gostar daquilo que a Igreja pede

Embora o modelo de padre que tinha construído dentro de si fosse o de pároco da aldeia, D. José Policarpo não chegou a concretizar esse desejo, sendo sempre chamado para outras funções que diz não serem as que mais gostava. “Eu era chamado a gostar daquilo que me pediam e me mandavam. Aprendi a gostar daquilo que a Igreja me pedia”, refere. 

Neste sentido, a pedido do próprio Cardeal Cerejeira, o padre José Policarpo vai para Roma, para continuar os estudos, licenciando-se em Teologia Dogmática, em 1968, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, com a tese ‘Teologia das Religiões não cristãs’. Depois de ter feito o curriculum ad lauream, defendeu na Pontifícia Universidade Gregoriana uma tese subordinada ao título ‘Sinais dos Tempos’.

Tendo regressado de Roma, em 1970, é nomeado Reitor do Seminário dos Olivais e em 29 de junho de 1978 é ordenado bispo, com nomeação de Auxiliar de Lisboa.

De 1970 a 1997, permaneceu como Reitor do Seminário dos Olivais, até ao momento em que é nomeado Arcebispo Coadjutor do Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, com direito de sucessão. Em 24 de março de 1998 é nomeado o 16º Patriarca de Lisboa, com o título de D. José IV.

 

Feito Cardeal com o futuro Papa

A nomeação de Cardeal surge, apenas, no Consistório de 21 de janeiro de 2001, pelo Papa João Paulo II, em conjunto com o Cardeal argentino Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco. A 21 de fevereiro de 2001, é criado Cardeal-Presbítero com o título de Santo António dos Portugueses no Campo de Marte, em Roma.

Docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa desde 1970, na categoria de Professor Auxiliar (1971), de Professor Extraordinário (1977) e de Professor Ordinário (1986), D. José Policarpo foi também diretor da mesma faculdade, membro do Conselho Superior da UCP, reitor e Magno Chanceler.

No seu vasto currículo destacam-se como cargos eclesiais as funções de membro do Conselho Pontifício para a Cultura,  desde 18 de outubro de 1998; presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, eleito em 13 de abril de 1999, reeleito em 11 de Abril de 2002, e novamente eleito em 3 de maio de 2011; membro da Congregação de Educação Cristã desde 30 de abril de 2001; do Conselho Pontifício para os Leigos desde 14 de maio de 2001.

 

Marcas de um Concílio

D. José Policarpo viveu o auge do Concílio Vaticano II, um momento que fica assinalado como uma resposta à necessidade do diálogo da Igreja com o mundo. “A Igreja não se podia fechar na sua tradição, na sua realidade, mas tinha que responder e estar em diálogo com o mundo”, lembrava, na referida entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE. Sobre este Concílio, o Patriarca José Policarpo lembrou, recentemente, na Carta Pastoral que escreveu à diocese por ocasião da abertura diocesana do Ano da Fé, que “a Igreja olhou para si mesma com fé, meditou no seu mistério, na sua identificação com Cristo, pois só a essa luz ela descobrirá a sua vocação à santidade, a sua maneira de celebrar o mistério pascal, e se deixará possuir pela urgência da evangelização”.

No campo da Liturgia que o Concílio Vaticano II veio reformar, D. José Policarpo considera que houve uma reviravolta mas ainda é preciso vencer “a tentação do individualismo”. Sobre a Igreja, considera que um dos contributos que a Igreja dá a humanidade de hoje é “suscitar a esperança cristã que tem como raiz Jesus Cristo”.

Apontando a rotina como um principal vício da vida humana, D. José Policarpo sublinha que essa é também “uma grande ameaça” para a Igreja. E lembra que a própria Palavra de Deus não pode ser anunciada como uma rotina. “A Palavra de Deus é, antes de mais, algo acutilante que tem uma verdade profunda e que toca o coração dos homens!”.

 

Vigor no anúncio

Durante os 15 anos de pontificado, D. José Policarpo foi manifestando a sua preocupação pela evangelização, fazendo dela uma aposta e um desafio pastoral pedindo à diocese um novo vigor no anúncio. A missão passou pela cidade, passou pelas visitas pastorais retomadas, apontando a Diocese e a Paróquia como “a comunidade de referência para todas as outras experiências e dinamismos comunitários”, referia na Carta Pastoral de que escreveu no lançamento do Programa Diocesano de Pastoral 2001-2004.

Uma missão que com o Concílio Vaticano II foi sendo alargada aos leigos, que D. José Policarpo releva pelas experiências dos que partem em missão, motivados por uma “consciência de Igreja como Povo de Deus e não de projeto individual”, assinalava na entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Sobre os problemas que a família hoje vive, defende que a opção pelo matrimónio deve passar pelo entendimento daquilo que é uma vocação, ou seja por aquilo a que cada um é chamado por Deus a fazer. Por outro lado, considera que a pastoral familiar “deveria começar ainda antes do casamento”, na preparação de namorados e de noivos, mas também continuar num acompanhamento posterior.  

 

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26 de fevereiro de 1936: José da Cruz Policarpo nasce em Alvorninha, Concelho das Caldas da Rainha

15 de agosto de 1961: é ordenado sacerdote

1963: nomeado professor e vice-reitor do Seminário de Penafirme

1970: nomeado Reitor do Seminário dos Olivais

29 de junho de 1978: ordenação episcopal, como Bispo Auxiliar de Lisboa

27 de março de 1997: nomeado Arcebispo Coadjutor do Patriarca de Lisboa, com direito de sucessão

24 de março de 1998: nomeado 16º Patriarca de Lisboa

21 de de janeiro de 2001: nomeado Cardeal pelo Papa João Paulo II

Abril de 2005 : participa no Conclave que elege o Papa Bento XVI

Março de 2013: participa no Conclave que elege o Papa Francisco

18 de maio de 2013: o Papa Francisco aceita o pedido de resignação de D. José Policarpo, de 77 anos

  

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D. José Policarpo garante apoio ao novo Patriarca  

D. José Policarpo garante o seu apoio ao novo Patriarca, D. Manuel Clemente, manifestando disponibilidade para o “ajudar a ser um grande Pastor da Igreja”. “Quero continuar a ajudar! Não quero fazer nada que o obnubile, não quero negar-lhe nada que possa ajudá-lo a ser um grande Pastor da Igreja”, disse numa primeira declaração cedida, em exclusivo, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

O Cardeal que agora viu ser aceite o pedido de resignação enviado ao Papa Bento XVI, há dois anos atrás, afirma que esta “é uma situação normal na vida da Igreja” e lembra que os cargos de responsabilidade na Igreja “não são vitalícios”. “Ficou claro no Concílio Vaticano II que estes cargos de grande responsabilidade na Igreja não são vitalícios e supõem a disponibilidade e as forças necessárias para o exercer. Vivo este momento numa altura significativa porque o Santo Padre Bento XVI aplicou ao Papa este princípio. Foi um gesto histórico que marcará certamente o futuro e portanto não teve hesitação”, lembrou.

Sobre a nomeação de D. Manuel Clemente como novo Patriarca de Lisboa, que dia 18 de maio foi tornada pública pela Sala de Imprensa da Santa Sé, D. José Policarpo apontou que “era uma notícia esperada”, e sublinha que “é um dom de Deus ter um bispo que regressa a casa”. “Foi uma escolha que devemos agradecer vivamente a quem a fez”, observa.

Dirigindo-se à Diocese de Lisboa, a quem reconhece ter servido “com dedicação”, recorda que até ao início do mês de julho ainda irá permanecer em funções, como Administrador Apostólico, e pede a disponibilidade de todos. “Saúdo todos os diocesanos. Ainda nos vamos encontrar e ficarei ao serviço até ao início de julho. Vivam isto na fé, acompanhem-me nesta disponibilidade de servir e amar em todas as circunstâncias”.

 

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Futuro de D. José Policarpo passará por Sintra

O atual Administrador Apostólico do Patriarcado de Lisboa revelou que planeia ter uma vida com menos exposição pública, vivendo em Sintra, "onde se vai instalar um centro de iniciação à oração". No dia em que foi conhecida a nomeação de D. Manuel Clemente para suceder-lhe como Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, que admite ter já saudades da “maravilhosa Igreja de Lisboa”, revelou aos jornalistas que não irá dirigir o centro, mas espera receber quem quiser aprender a rezar. Sublinha, no entanto, que estará à "disposição de uma nova forma de servir a igreja" e adianta ainda que irá sempre "atender pessoas e grupos". Nos seus planos está, também, a escrita e o descanso.

O cardeal Policarpo sublinhou, por outro lado, que o seu cargo de presidente da Conferência Episcopal Portuguesa também cessa com esta mudança, pelo que "tem de haver eleições” para escolher um sucessor.

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