A Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima deixou a Vigararia de Cascais. Após uma semana de visita às nove paróquias, a Imagem da Senhora partiu, deixando um “revigoramento da fé” aos cristãos e um “refrescar da fé aos muitos que andam na fronteira das comunidades”.

 

Depois de alguns dias em que a chuva marcou presença na região de Lisboa, o sol raiou, esplendoroso, na manhã de Domingo, 20 de outubro, na vila de Cascais. Logo de manhã cedo, uma enorme multidão aglomera-se, junto à igreja paroquial daquele lugar, para acompanhar a procissão de despedida da Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima. Em marcha lenta, uma viatura da corporação dos Bombeiros Voluntários de Cascais transporta a Senhora até ao Estoril, onde pelas 12h00 vai ser celebrada Eucaristia nos jardins do Casino. Na noite anterior, na igreja paroquial de Cascais, houve vigília de oração, também com os jovens da vigararia.

Entretanto, no Estoril está tudo pronto para acolher a Imagem peregrina. O altar, colocado de frente para o Casino, em cima de uma estrutura elevada, permitiu a conceção de um ‘cenário’ de beleza natural. Enquanto o coro, constituído por coralistas da Vigararia de Cascais e orientado pelo padre Pedro Lourenço, vai ensaiando os cânticos da celebração e ajudando o povo que chega a criar ambiente celebrativo, nos primeiros lugares, junto a uma baia de segurança, está Dona Maria. De idade avançada, chega de Murches, no concelho de Cascais, e com grande emoção refere à reportagem do Jornal VOZ DA VERDADE que vem junto de Nossa Senhora para “pedir saúde e paz para todos”. Explicando que por não ter um dos membros inferiores não teve possibilidade de se deslocar a qualquer dos lugares onde a Imagem da Senhora de Fátima passou durante a semana, garante: “Tenho muita fé e por isso estou hoje aqui”.

A acompanhar Dona Maria está a sua filha, que afirma vir ao Estoril “para pedir as melhoras” da sua saúde. “Tive três AVC’s e fiquei afetada de um dos lados. Tenho também dificuldade na visão”, aponta, lamentando o facto de nunca ter ido a Fátima em dias de grande celebração. Por isso, salienta: “Estando aqui tão perto, vim ver!”.

 

Renovar a fé

Foram cerca de doze mil, segundo números da organização, os que foram ver Nossa Senhora de Fátima ao Estoril. Um momento que serviu, também, de renovação da fé. “Vim para renovar a minha fé”, refere Raquel Oliveira que, acompanhada pela neta, não quis deixar de estar presente na celebração. “Eu não participei em nenhum momento durante a semana, mas a minha neta, que frequenta a catequese, participou”, observa.

Ao longo de uma semana, a Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima visitou as nove paróquias da Vigararia de Cascais (Abóboda, Alcabideche, Carcavelos, Cascais, Estoril, Parede, São Domingos de Rana, São Pedro e São João do Estoril e Tires). Um acontecimento que, segundo declarações do vigário, padre Ricardo Neves, ao Jornal VOZ DA VERDADE foi, nos últimos anos, “o grande acontecimento que envolveu toda a Vigararia de Cascais”. Por isso mesmo, o balanço é “muito positivo e muito feliz”, salienta.

Segundo este sacerdote, pároco do Estoril, esta visita veio “ajudar a crescer no caminho da unidade vicarial, da aproximação das comunidades e do conhecimento mútuo das pessoas”, sobressaindo no impacto desta visita uma marca divina. “O impacto que a presença da Imagem peregrina de Nossa Senhora teve nas comunidades, nas instituições e no coração de tanta gente foi uma surpresa do Céu, uma maravilha descida do Céu”, sublinha.

 

Testemunho de fé

No meio da assembleia desta celebração de encerramento da visita da Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima à Vigararia de Cascais está Elaine. Mulher originária da Irlanda, acompanhada por uma amiga, aguarda o início da celebração. De férias na região, não tem conhecimento do motivo daquela grande festa naquele local. Não sabe que celebração vai acontecer, mas percebe que vai haver Missa nos jardins do Casino e, por isso mesmo, espera o seu início. Dizemos-lhe que se aguarda a chegada da Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima e que a Missa vai ser presidida pelo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Os seus olhos arregalam-se de alegria e afirma: “Este é, então, um grande dia!”. Perguntamos-lhe: ‘Que significado tem para si Nossa Senhora?’. Em reposta, tira da sua mala de tiracolo um postal, onde se lia em inglês: ‘Oração a Nossa Senhora’. Sorri e depreendemos: ‘Está tudo dito’. Coincidência ou não, pelo acontecimento naquele dia, o testemunho de fé foi demonstrado.

Aquela manhã de Domingo, no Estoril, foi o culminar de “dias maravilhosos que comoveram a todos e certamente renovarão o nosso caminho”, frisa o padre Ricardo Neves. “Em tempo de crise, quando os corações se abrem à presença do divino e à vida uns dos outros, tudo é possível e tudo é melhor!”, acrescenta.

 

Aos pés da cruz, junto a Maria

Na celebração presidida pelo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, dirigindo-se às muitas dezenas de crianças que estavam aos pés do altar, junto a Maria, observa: "Vocês parecem-se com os pastorinhos de Fátima que tinham mais ou menos a vossa idade e que, quando Nossa Senhora lhes apareceu, ouviram com muita atenção. Com tanta atenção que depois foram eles, os pastorinhos, que nos ensinaram como nós havíamos de escutar Nossa Senhora e a Deus que a mandava”. “Estamos aos pés da cruz e a receber de Cristo aquilo que os primeiros discípulos receberam: o seu novíssimo e eterno testamento. Jesus deu-lhes a sua vida e continua a dar. Deu a sua vida por nós e entregou-nos a sua vida também. A vida de Jesus e o seu Espírito transmitem-se e nós recebemos para vivermos desta oferta constante. Ofereceu-nos o seu Espírito. O Espírito Santo que é a alma da Igreja. Mas oferece, muito especialmente, na cruz, sua Mãe. Jesus Cristo repartiu connosco na cruz”, explica.

 

Insistir diante de Deus

Apontando o exemplo de Maria, a Mãe de Jesus, o Patriarca de Lisboa lembra que Maria “vai seguir Jesus até ao fim”. “Vai segui-l’O até ao calvário, onde depois nos receberá, do próprio Cristo, e a todos como filhos, para continuar junto de nós esta lição de oração, de conversão a Jesus que é justiça de Deus”. Neste sentido, apela: “Temos que aprender de Maria isto mesmo. Olhar para aquela Imagem como ela apareceu aos pastorinhos em Fátima. Maria está de mãos postas, porque está a ensinar-nos a rezar e a insistir muito. ‘Insistam diante de Deus!’, dirá. Não podemos olhar para esta Imagem sem aprender dela esta atitude fundamental de oração, de insistência. Nós não chegamos para a nossa vida, quanto mais para a vida dos outros e para a vida do mundo...”, sublinha.

Concretizando e apontando como exemplo os tempos que correm, D. Manuel Clemente afirma: “Estamos num momento difícil da nossa sociedade, em que há imensos problemas para resolver. Dependências externas que parecem incomensuráveis; tanto sonho que alimentámos e agora não realizamos; tanta gente que quer trabalhar e não tem; tanto estudante que chega ao fim do seu curso e não vê como... Mas estamos com Maria, que estava diante de Deus, insistente e disponível para que a justiça divina se realizasse através dela. E a justiça divina realizou-se e teve o nome de Jesus, que significa: ‘Deus salva’”.

Neste sentido, o Patriarca recorda que “Maria compromete” a Igreja e os cristãos e deixa outros apelos: “Sermos mais solidários, fraternos, em que ninguém fique de fora porque no coração de Deus, de Maria e de Jesus, cabem todos”. Uma garantia que, segundo o Patriarca de Lisboa, já fez história também há cem anos atrás. “Há quase cem anos, em Fátima, Nossa Senhora disse estas coisas às crianças. Portugal estava numa situação muito difícil e Maria disse aos meninos: 'Vamos resolver isto com Deus. Portanto insistam, rezem, mantenham-se unidos à fonte, de onde a vida brota’”. “Não há nenhum de nós que não possa abrir o coração a Maria e comprometer-se. Deus está à espera que o ‘Sim’ de Maria e dos pastorinhos seja o nosso ‘Sim’ também”, sublinhou D. Manuel, referindo que “a passagem de Nossa Senhora por esta vigararia há-de renovar a esperança, mas uma esperança preenchida, garantida”.

 

Esperança

Foi este mesmo sentido de esperança que Álvaro, residente em Cascais, colheu desta celebração, pelo que, ao partir leva consigo uma mensagem: “Que Nossa Senhora ajude a melhorar esta vida, esta esperança. Que nos ajude a ajudar os outros a serem melhores. Como diz o senhor Patriarca, que haja mais obras e menos palavras”, observa ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Para a Vigararia de Cascais, segundo o vigário, padre Ricardo Neves, esta visita da Imagem peregrina permitiu, também, “o revigoramento da fé, para aqueles que já são das comunidades” e um “refrescar da fé, um apelo de fé para muitos que andam na fronteira das comunidades ou até longe, e que nesta circunstância se deixaram inquietar por Deus através da ternura da Virgem Mãe”. Ao longo da semana, as reações perante Nossa Senhora foram as mais diversas. “Se uns se reaproximaram, outros interrogaram-se de forma mais profunda, outros ainda abeiraram-se à distância, como o Zaqueu em cima da árvore, e outros ficaram espantados com o impacto que um fenómeno religioso é capaz de provocar e, também com isso, abriram o coração a uma nova interrogação”, salienta este sacerdote.

Agora, ao terminar este “tempo de graça” ficam alguns desafios para a vigararia: “Prolongar a memória deste acontecimento; ter, em etapas próprias, acontecimentos de encontro com Deus e com a sua Igreja que provoquem um impacto especial e ajudem e favoreçam a abertura das pessoas; e reforçar a formação dos cristãos ajudando a uma fé mais profunda”. “Este acontecimento vem confirmar a intuição de que as manifestações públicas de fé têm um efeito para dentro e fora das comunidades cristãs, muito regenerador, consolador, catártico e agregador. Muito capaz de causar aproximação positiva a Deus”, destacou o padre Ricardo Neves.

 

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Patriarca de Lisboa consagra Vigararia de Cascais

D. Manuel Clemente consagrou, no passado Domingo, a Vigararia de Cascais a Nossa Senhora de Fátima. No final da celebração a que presidiu, nos Jardins do Casino, o Patriarca de Lisboa rezou, ajoelhado diante da Imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, uma oração de consagração, acompanhado pelos milhares de fiéis presentes. Nesta oração, D. Manuel Clemente consagrou as vidas de todos, as famílias, as paróquias, a vigararia e o concelho de Cascais. “A Vós confiamos o nosso futuro e consagramos o nosso presente para que cada passo seja convosco, mais de Jesus e mais ao serviço da humanidade”, conclui a oração.