Lisboa |
Visita Pastoral a Casal de Cambra
Uma paróquia “com muita vida”
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“Uma comunidade extremamente viva, muito participativa, onde há uma estreita ligação entre a paróquia e a sociedade civil”. Foi desta forma que D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, resumiu ao Jornal VOZ DA VERDADE a Visita Pastoral de seis dias (9 a 14 de dezembro) que realizou à paróquia de Casal de Cambra, na Vigararia da Amadora.

 

Visivelmente satisfeito com os dias passados nesta paróquia, D. Joaquim Mendes agradeceu, na Missa de encerramento da Visita Pastoral à paróquia de Casal de Cambra, “o acolhimento, as atenções recebidas, o afeto fraterno da comunidade, que manifesta o sentido de Igreja e de comunhão com os seus Pastores”. “Agradeço ao Senhor o testemunho de generosidade e de fé, assim como o testemunho de solicitude e preocupação de uns pelos outros e por todos, que recebi nos variados contactos que tive”. Nesta celebração na igreja paroquial, na manhã do passado Domingo, 14 de dezembro, último dia de Visita Pastoral, o Bispo Auxiliar de Lisboa convidou ao anúncio do Evangelho: “O Senhor mandou-nos semear, sem a pretensão de colher. A colheita é Ele que a faz. Por isso, semeemos com generosidade, com amor e até com sacrifício. Semeemos a Palavra do Senhor e cultivemo-la com o testemunho da nossa vida. Semeemos no coração das crianças, dos adolescentes e dos jovens. Esta é uma paróquia rica de crianças, adolescentes e jovens, que garantem o futuro da Igreja e da sua missão. Mostremos-lhes que é belo ser cristão, que o amor de Deus e de Jesus nos fazem felizes, que o Evangelho é fonte de alegria”.

O padre Luís Alves é pároco de Casal de Cambra há 18 anos e salienta que durante a Visita Pastoral procurou apresentar ao Bispo Auxiliar de Lisboa “o cunho próprio da paróquia”, para que D. Joaquim Mendes “pudesse conviver com as pessoas”. “Ao longo da semana de Visita Pastoral, as refeições que o senhor Bispo foi tendo foram sempre em ambiente partilhado, com os grupos de ação social, os vários grupos de apostolado e nos vários lugares da paróquia”, relata ao Jornal VOZ DA VERDADE o padre Luís Alves. “Os paroquianos viveram a Visita Pastoral com muito interesse, intensamente, sobretudo os agentes da pastoral. Todos estiveram atentos à palavra que o senhor Bispo lhes pôde dar ao longo dos dias. Casal de Cambra é uma paróquia com muita vida, em que a vida flui muito fortemente, e eu tenho feito o esforço de estar presente nas diversas iniciativas que as pessoas têm”, assegura este sacerdote que é o primeiro, e até agora único, pároco desta paróquia, que anteriormente estava integrada na paróquia de Belas.

 

Crescer a partir de Belas

Casal de Cambra é uma freguesia do concelho de Sintra que tem, segundo os Censos de 2011, pouco mais de 12 mil habitantes. O pároco, contudo, acredita que este número é superior, chegando mesmo às 15 mil pessoas. “A maioria dominante da população é portuguesa, de toda a parte de Portugal, mas a seguir vêm os imigrantes dos PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, em especial de Cabo Verde, mas também angolanos e depois guineenses, são-tomenses e o grupo minoritário é o moçambicano”, descreve este sacerdote, de 50 anos.

As pessoas começaram a chegar a Casal de Cambra nos anos 70. “Era gente que vinha à procura de emprego na cidade. Nessa altura, havia aqui somente duas casas habitadas, que dão nome ao lugar: eram os Casais de Cambra. Eram duas casas rurais, para fazer a lavoura, sobretudo de cereais”, conta o padre Luís Alves, revelando ainda uma curiosidade: “Esta zona recebeu o nome ‘Cambra’ por ter sido aqui a Câmara da Infanta D. Beatriz, mãe de D. Manuel I”. A história mais recente de Casal de Cambra conta que aquando da chegada da primeira população foi feito “um loteamento da zona agrícola e a propriedade foi ilegalmente parcelada”. “Este é um bairro de génese ilegal, cujo alojamento teve de ser feito em condições muito especiais”, observa este sacerdote, frisando que “nos anos 80 este bairro já era considerado o maior de génese ilegal da Europa, ‘titulo’ esse que ‘roubou’ à vizinha Brandoa, que o era nos anos 70”.

Foi também nessa época, dos anos 70, que os primeiros católicos, “sobretudo os que tinham a experiência dos Cursilhos de Cristandade e estavam fervorosos na fé”, tomaram a iniciativa de reunir em Casal de Cambra uma comunidade cristã. “As pessoas que eram praticantes iam à Missa à paróquia vizinha do norte, Caneças; como a metade sul de Casal de Cambra ficava mais distante de Caneças e ao Domingo não havia autocarro, perguntaram ao pároco de Belas, padre António Aguiar, que resposta podia dar. Foi então reativada a celebração da Missa dominical numa capela de um colégio de freiras”. Ao tempo, foi também descoberto um edifício que teria servido de ermida dos paroquianos de Belas. “Depois de muitos anos de obras, o templo foi inaugurado e aberto somente em 1999”, frisa.

 

Pastoral pelo testemunho

A paróquia de Santa Marta de Casal de Cambra tem, segundo o pároco, dois polos: o polo da igreja paroquial e o polo da ermida de Santa Marta, o que permite “duas formas de pastoral diferente”. “Na igreja paroquial a forma de uma pastoral normal como em qualquer igreja paroquial da diocese e na ermida uma pastoral mais missionária, e para isso estão lá três irmãs missionárias, da Congregação das Servas Missionárias do Espírito Santo – que não são Espiritanas, mas da família Verbita –, com uma comunidade missionária, a fazer uma pastoral de cariz mais evangelizador para pessoas dos bairros de realojamento”.

O Casal da Mira, com pessoas vindas sobretudo de Cabo Verde, é também um lugar que pertence à paróquia de Casal de Cambra e que tem tido a intervenção da comunidade Aliança de Misericórdia. “No Casal da Mira existe uma capela, construída pelos paroquianos. O senhor D. Joaquim também fez uma visita a esta zona da paróquia, onde contactou, na manhã de sábado, dia 13 de dezembro, com as crianças da catequese”, conta o padre Luís. Esta paróquia da Vigararia da Amadora tem ainda um quarto lugar de culto, a capela em A-da-Beja, que recebeu também a Visita Pastoral do Bispo Auxiliar de Lisboa.

Chegado em 1996 a Casal de Cambra, o padre Luís Alves viu ser dedicada a igreja paroquial no ano anterior, apesar de, na altura, não imaginar sequer que aquele templo passaria a ser o ‘seu’. “A igreja foi dedicada a 24 de junho de 1995, com o suor do povo. Como tinha feito o diaconado em Belas, estive presente na inauguração da igreja, mesmo não sabendo que viria para Casal de Cambra nomeado como pároco. Nos anos 70 começou logo o sonho de construir uma igreja, nos anos 80 iniciou-se a angariação de fundos e quando o padre Robson Cruz chegou à paróquia de Belas lançou a construção, uma vez que o trabalho prévio já estava feito pelo seu antecessor, o cónego Eduardo Coelho, que tinha conseguido o terreno e o projeto”, relata o padre Luís Alves.

Natural da freguesia de Marvila, em Lisboa, este sacerdote, ao chegar a Casal de Cambra, em 1996, constatou a realidade da Igreja nesta terra. “A catequese paroquial estava organizada desde o tempo em que se fazia nas garagens das moradias dos cristãos; a evangelização concretizada para adultos era uma realidade pelo fomento dos Cursilhos de Cristandade, do Curso Bíblico e do Caminho Neocatecumenal, que se tornou rapidamente na realidade mais importante da vida paroquial e que tem atualmente sete comunidades”. O Renovamento Carismático mantém “cerca de 20 irmãos que fazem semanalmente oração de louvor” e entretanto foram fundados “dois presidia [nome dado aos grupos] da Legião de Maria, um adulto e um juvenil, que se juntaram ao presidia adulto no Casal da Mira e ao recente presidia juvenil”. “Estamos muito satisfeitos com esta fecundidade pastoral, que tem havido pelo trabalho intenso dos crentes, dos evangelizadores, de pessoas que estão muito motivadas para evangelizar e que vão em frente!”, reconhece o padre Luís.

 

Chegar a todos

Em termos de catequese, Casal de Cambra é a paróquia da vigararia que tem mais crianças e adolescentes inscritos, com perto de 800 catequizandos. “O ‘segredo’ está em que uns meninos atraem os outros. Isso acontece muito visivelmente na pastoral ligada aos bairros sociais. Por exemplo, na ermida ou no Casal da Mira, faz-se muito isso, enquanto na igreja paroquial segue-se o esquema padrão das inscrições no início do ano. Nos bairros, o grupo vai engrossando. No início do ano pastoral até costumo desafiá-los: ‘No próximo sábado, tragam mais um amigo!’”, conta o pároco.

Durante a Visita Pastoral, D. Joaquim Mendes encontrou-se com todos os grupos de catequese e celebrou a Eucaristia, numa igreja paroquial completamente lotada pelas crianças. Na sua homilia, nesta celebração no Domingo III do Advento, o Bispo Auxiliar de Lisboa lembrou o tempo natalício e expressou um desejo: “Será um bom Natal se Jesus entrar nos vossos corações e nos corações das vossas famílias”.

Em Casal de Cambra, quem quer ser escuteiro tem de andar na catequese. “Esta é uma condição, até ao nível das chefias. Só pode ser chefe deste agrupamento uma pessoa que seja católica praticante e que tenha a iniciação cristã completa”, salienta o padre Luís Alves. O agrupamento 1369 de Santa Marta de Casal de Cambra do CNE – Corpo Nacional de Escutas está filiado desde 2012. “Desejamos construir uma nova sede, que nos permita ter um espaço melhor, e mais adequado, para receber mais crianças”, expressa o pároco.

Na tarde do passado sábado, após a Eucaristia com as crianças da catequese e os elementos deste agrupamento, D. Joaquim Mendes encontrou-se com os escuteiros de Casal de Cambra, no salão paroquial, lembrando que “o escutismo é um grande movimento da Igreja, é uma escola de valores, é uma grande família”. “A casa natural do escutismo é a comunidade cristã, é a paróquia”, realçou o Bispo Auxiliar de Lisboa, destacando “a parceria das atividades da catequese com os escuteiros” que acontece em Casal de Cambra.

 

A ajuda de um supermercado

Ao nível da caridade, a paróquia conta com o centro social paroquial, que é uma resposta social que o padre Luís Alves quis efetivar desde que chegou a Casal de Cambra, mas que apenas em 2005 foi ativado. “No início abriu com a valência de sala de estudo, para as crianças da primária, e também com jardim-de-infância. Temos ainda atualmente o centro de convívio da terceira idade e atividades de animação comunitária, como as aulas de informática, inglês, ginástica e dança”.

A população de Casal de Cambra é, maioritariamente, de classe média e média-baixa. Devido à crise económica e financeira que se faz sentir no país, têm aumentado o número de pessoas que batem à porta da Igreja a pedir a ajuda. Casal de Cambra não é exceção. “Muito cedo, depois de eu chegar à paróquia, conseguimos um acordo com o Banco Alimentar de Luta Contra a Fome. Primeiro só com acordo de frescos, depois também um acordo de mercearias. Isso tem sido a nossa intervenção mais importante: evitar a fome, evitar que houvesse fome no bairro. Depois, partimos daí para fazer também outros serviços. Com os supermercados Pingo Doce, ao abrigo do programa ‘Zero Desperdício’, temos um acordo para que nada do que eles deixam de poder ter na loja seja para o lixo e possa ser consumido por pessoas carenciadas, devido aos prazos de validade que os lojistas usam. Temos voluntários que vão recolher e fazem a entrega às famílias, para consumo quase imediato”, explica o pároco, apontando também uma nova parceria com esta mesma cadeira de supermercados: “Estamos também agora habilitados a um novo serviço, que é o das refeições. Já estabeleceram um contacto connosco, mas ainda não efetivámos porque estamos a tentar arranjar voluntários que façam a ida ao Pingo Doce diariamente, depois das 9 da noite, para buscar refeições já confecionadas que servirão para dotar famílias que já não têm capacidade de cozinhar”.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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