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P. Duarte da Cunha
Desafios para o Sínodo sobre a família
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A Igreja universal prepara-se para a Assembleia Ordinária do Sínodo dos bispos em Outubro. Será a segunda fase desta reunião em que bispos de todo o mundo têm estado envolvidos para debater questões relacionadas com a família.

Em Roma estão agora a preparar o documento que servirá de base para o debate inicial dos bispos quando se reunirem em Outubro. A partir dos ecos do primeiro Sínodo (Outubro 2014), que chegaram de todo o mundo, alguns especialistas estão encarregados de preparar uma proposta de esquema de reflexão. Contudo, vemos que a família e a pastoral da família continuam a ser objecto de reflexão um pouco por todo o lado. A expectativa é grande e os efeitos já são visíveis. Ninguém na Igreja é indiferente e isso é já uma grande vitória deste Sínodo.

Entre os desafios mais urgentes, julgo que é importante uma antropologia adequada à realidade do homem que não esteja dependente de ideologias ou modas e que não esqueça nenhuma dimensão da pessoa humana. Mas não menos importante é uma sã explicação do amor. Precisamos de uma teologia do amor, que siga claramente o que Jesus Cristo ensina. Dizendo isto não penso apenas em Tratados a ser estudados – ainda que seja fundamental ter ideias claras – mas estou a pensar em tantos testemunhos de vida. Precisamos de santos – e existem muitos. Estes não são ideias mas exemplos que mostram a verdade do que Jesus nos veio ensinar e convidar a seguir. Estes são aqueles que fazem ver a antropologia adequada à verdade! E mostram nas suas vidas o que é amar como Jesus nos ama.

Tendo isto claro, é importantíssimo compreender o que são realmente os sacramentos e, especificamente, qual é a graça do sacramento do matrimónio. Isto é fundamental para se compreender a missão dos cônjuges que vivem no Senhor. Como todos os sacramentos, o casamento é um diálogo entre o ser humano e Deus. É uma realidade humana que requer a liberdade e consciência dos noivos que se dão e acolhem reciprocamente diante dos homens e de Deus. Mas é ultimamente algo que Deus faz e que não podia ser feito apenas por criaturas. Deus, de um homem e uma mulher decididos a casarem-se, cria uma nova realidade: "já não são dois, mas um só". Deus não se limita a dar uma bênção no ponto de partida, ou instruções para o caminho, mas realiza algo de novo e assegura a Sua presença e companhia. Aos esposos, que se tornam pela acção de Deus uma realidade nova, pede-se que permaneçam também eles fiéis a Deus, ao outro e à palavra dada. Para isso eles contam com a graça de Deus. O casamento corresponde profundamente ao coração humano e empenha completamente os esposos, mas é um milagre.

O Sínodo irá também e, talvez sobretudo, procurar formas actuais para a Igreja – pastores mas não só – acompanhar todas e cada uma das famílias. Para isso terá de fazer uma avaliação da cultura actual, tentando ver a realidade à luz de Deus, tendo claro que o objectivo é levar todos à plenitude da alegria, sem nunca desistir de ninguém, mesmo quando isso implicar remar contra a maré que domina a cultura actual.

Vai ser necessário falar da pastoral nas diferentes fases da vida, da catequese infantil e da pastoral juvenil, cujo objectivo é fazer dos jovens adultos com maturidade e capazes de tomar decisões; da preparação e da celebração do sacramento, que é ocasião de um diálogo sobre tantas dimensões da vida; do acompanhamento de casais e famílias, especialmente nos primeiros anos de vida e nos momentos de crise ou nas situações mais complicadas; da educação contínua das famílias; da castidade; da transmissão da fé e dos valores aos filhos; da atenção aos idosos; da espiritualidade conjugal e familiar; das comunidades ou grupos de famílias; e de muitas outras questões que dizem respeito à família e que Igreja, como "Mater et Magistra", quer ajudar a perceber e a viver melhor.

Finalmente, a Igreja, que está presente no mundo, e sabe que a Boa Nova que recebeu do Senhor é para todos, quer apoiar aqueles que estão empenhados na vida pública dedicados à promoção e defesa da família, do amor e da vida. São esses que chamam a atenção da nossa sociedade para os desafios da educação; para a necessidade de políticas que garantam a harmonia entre família e emprego; para a necessidade de uma definição justa de pessoa e de família; e para as exigências de uma economia com um rosto humano e uma cultura de acolhimento do outro.

Para todos nós, este é um tempo essencial para rezar. Com o objectivo de nos colocarmos todos: bispos que vão estar no Sínodo e todo o Povo de Deus, em sintonia com o Espírito Santo.