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Henrique Joaquim
“Porque acolher é amar”
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Quando em junho escrevi sobre o assunto na altura emergia, mas nos últimos dois meses explodiu de tal forma que já não conseguimos ser indiferentes – os milhares de pessoas que procuravam uma nova vida junto de nós.

Retomo por isso o último parágrafo do anterior texto:

“Hoje temos outro grande desafio. Apesar do contexto difícil que vivemos a nível interno temos de certeza a capacidade de ir mais além. É nas alturas da necessidade que do pouco se faz muito porque com o pouco de cada um, solidariamente partilhado, transcendentemente acreditado, o milagre pode sempre acontecer.”

Embora o contexto se tenha agudizado de forma dramática, tragicamente demonstrada pela imagem de Aylan, a criança que morreu ao tentar chegar à Turquia, é bom ver como entre nós a solidariedade nos está a mobilizar.

Em pouco tempo, o que começou por ser um pequeno grupo de organizações é hoje uma Plataforma muitíssimo bem organizada para que possamos de facto ser acolhedores com dignidade, das pessoas que necessitem e aceitem refazer a sua vida em Portugal. Tem sido extraordinário o trabalho generoso de tantos, que juntos numa mesma visão e para uma mesma missão, se tem preparado para que saibamos ser organizadamente solidários e acolhedores mas que procura também o apoio para criar as condições nos países de origem.

Aylan Kurdi é também o nome da caravana humanitária recentemente organizada e que já enviou cerca de 5 toneladas e bens essenciais para os campos de refugiados.

Neste momento o problema não é político nem religioso, é humanitário pois é a dignidade humana que está em causa. A de milhares de Pessoas que procuram salvar a vida mas também a nossa dependendo das respostas que demos perante o grito da mãe capaz de nos deixar a sua filha se ela e o marido não puderem ficar.

Infelizmente é no desentendimento político e nos processos burocráticos e tecnocráticos que muito tem estado a emperrar.

Por outro lado, não tardaram a surgir as vozes preocupadas, ou até mesmo contra, colocando o enfoque nas situações de necessidade que temos junto de nós. Se cada um de nós apenas se disponibilizasse para os outros se tivesse todos os seus problemas resolvidos quando o faria? Nunca?

A este respeito gostaria de sublinhar que, por exemplo, no que se refere ao apoio às pessoas em situação de sem-abrigo, nada deixou ou deixará de ser feito, antes pelo contrário. Pelo país, e designadamente em Lisboa, continuamos arduamente a procurar, em conjunto com cerca de duas dezenas de organizações (públicas e privadas) a procurar resolver as necessidades diárias mas ao mesmo tempo a trabalhar estrategicamente para erradicar estas situações.

O que está em causa não é deixar de ajudar os que nos são próximos mas sim ir além do que fazemos e acreditar que é possível superarmo-nos e transcendermo-nos porque acolher é um ato de generosidade mas é acima de tudo um ato de amor!

Como nos diria Sophia Mello Breyner: “Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar” mas só Seremos se formos capazes de arriscar e se arriscando formos capazes de nos dar, em suma, só Seremos quando formos capazes de acolher e de amar.