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P. Manuel Barbosa, scj
Como continuar o Ano da Vida Consagrada?
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Situemo-nos. Estamos quase a terminar a celebração do Ano da Vida Consagrada, daqui a uma semana; estamos em plena vivência do Jubileu extraordinário da Misericórdia, iniciado há mês e meio; estamos em pleno decorrer do Sínodo do Patriarcado de Lisboa, prevendo-se interpeladoras sessões conclusivas no próximo mês de novembro; estamos em semana de oração pela unidade dos cristãos.

Questionemo-nos. Como se situam os consagrados e consagradas em tudo isso? Este ano dedicado pelo Papa Francisco à vida consagrada foi realmente de toda a Igreja? Todos nos sentimos envolvidos pelo dinamismo que foi proposto ou ficamo-nos por meros arejos, quantas vezes confinados apenas a alguns mosteiros, conventos e comunidades de institutos de vida consagrada?

Nunca é demais recordar os três objetivos que o Papa traçou para este ano na alusiva Carta Apostólica: olhar com gratidão o passado, viver com paixão o presente, abraçar com esperança o futuro. É de gratidão, paixão e esperança que se trata, radicalmente para todos os seguidores de Jesus Cristo, especialmente para os consagrados e consagradas.

É igualmente importante recordar as expetativas que o Santo Padre colocou para este ano: fazer da alegria a marca das nossas vidas; levar a vida consagrada como autêntica profecia para despertar o mundo; viver de modo prático a comunhão em todas as comunidades como sinal do que deve ser toda a Igreja; estar sempre em atitude de saída para as periferias, mais existenciais e culturais do que geográficas; deixar-se interrogar continuamente sobre o que nos é pedido por Deus e pela humanidade de hoje. «Que espero eu, em particular, deste ano de graça da vida consagrada?»: era a pergunta inicial do Papa Francisco. «Que levo eu, pessoal e comunitariamente, do que foi celebrado e vivido ao longo deste ano?»: poderá ser esta a questão a motivar novos dinamismos de presença significativa dos consagrados em toda a Igreja.

Num terceiro apartado da mesma Carta Apostólica para anunciar o Ano da Vida Consagrada, o Papa apontava horizontes para este ano: envolvência dos leigos na partilha de ideais, espírito e missão dos consagrados; acolhimento de toda a Igreja e consciência de todo o povo cristão no dom que é a presença de tantos consagrados e consagradas; relevância ecuménica e inter-religiosa da vida consagrada; acolhimento cordial, jubiloso e solícito dos bispos pela vida consagrada que, situada no próprio coração da Igreja, é elemento decisivo para a sua missão.

Como continuar todos estes dinamismos? Só pode ser em atitude de fidelidade criativa, de modo profundamente renovador de todos os carismas, como apelava o Papa Francisco a um instituto nos inícios de setembro: «A fidelidade, o manter puro o carisma, não significa de nenhum modo fechá-lo numa garrafa selada, como se fosse água destilada, de modo que não seja contaminado a partir do exterior. Não, o carisma não se conserva pondo-o aparte; é preciso abri-lo e deixar que saia, para que entre em contato com a realidade, com as pessoas, com as suas preocupações e os seus problemas. E assim, neste encontro fecundo com a realidade, o carisma cresce, renova-se e também a realidade se transforma, se transfigura através da força espiritual que o carisma traz consigo».

A fidelidade dinâmica aos carismas só pode exercer-se enquanto inseridos numa Igreja em saída, sempre a caminho, numa Igreja que se realiza plenamente em Igreja local, como a que somos em Lisboa. A graça de estarmos em sínodo é mais um especial incentivo para todos os consagrados presentes nesta Diocese, na constante procura, em sintonia com as outras formas de existência cristã, de caminhos de renovação e de concretização do sonho missionário de a todos chegar...

Que isso aconteça em Igreja, nas pessoas, famílias e comunidades, todas chamadas a ser oásis da misericórdia de Deus.