Lisboa |
Corpo de Deus 2016
Eucaristia é “memória viva” revivida “agora”
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As ruas da Baixa de Lisboa voltaram a acolher, à quinta-feira, a histórica procissão do Corpo de Deus. No passado dia 26 de maio, milhares de fiéis estiveram presentes nas comemorações da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, onde o Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou os cristãos a reviverem o Sacramento da Eucaristia e a serem transformados “com Ele num corpo de resposta”.

 

Retomada a tradição de se celebrar o Corpo de Deus na quinta-feira a seguir ao primeiro Domingo depois do Pentecostes, as ruas da Baixa de Lisboa receberam milhares de fiéis que quiseram testemunhar uma das mais participadas manifestações de fé no coração da cidade. Antes, na parte da manhã do passado dia 26 de maio, na Sé de Lisboa, o Cardeal-Patriarca presidiu à Missa da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo começando por lembrar a narrativa de São Paulo sobre a ‘Ceia do Senhor’, escutada na celebração, para recordar a condição de “memória em torno de um sacramento” e a responsabilidade da “missão” que são comuns a cada cristão. Os cristãos são “a memória de quanto Jesus disse e fez, e de como se disse no que fez. A Ceia foi a última, porque já nada mais há a assinalar, quando num gesto se resume a vida inteira, com o seu significado para Deus e para todos. Aquele pão feito corpo, indicava quem o dizia assim, pois tudo nele fora oferta, não guardando para si nada do que recebera do seu Pai”, referiu D. Manuel Clemente, na homilia da celebração.

 

Para os outros

Às centenas de fiéis presentes, na Sé de Lisboa, no dia que marcou os 60 dias após a Páscoa, D. Manuel Clemente mencionou a vida de Cristo, ofertada inteiramente. “Falava para animar, calava para escutar, agia para salvar, vivia para dar vida. E assim mesmo morreu, num corpo trespassado de que mais saía sangue, ou seja vida e vida nova, do que entravam os pregos ou a lança, que lhe perfuraram pés, mãos e peito, como também os espinhos da coroa que lhe deram”, referiu o Cardeal-Patriarca, animando os cristãos para uma entrega aos outros. “A esta luz fortíssima, amados irmãos, vislumbremos hoje o que realmente somos, a partir do Corpo entregue do Senhor Jesus. Vislumbremos que, enquanto corpo, enquanto falamos e calamos, fazemos ou deixamos de fazer isto ou aquilo, é sempre e só a nós que mencionamos, uns dos outros, uns com os outros e uns para os outros”.

Na homilia, D. Manuel Clemente também alertou para a procura do significado da “corporeidade de cada um, desde a vida embrionária à vida saudável, enfraquecida, ou moribunda, que, em qualquer dos casos, é sempre manifestação da pessoa que se forma, mantém ou vai partindo. Porque «a vida não acaba, apenas se transforma» e a relação permanece, ativa ou latente”, referiu o Cardeal-Patriarca, dando como ensinamento a vida e morte de Jesus. “Na vida e na Páscoa do Senhor aprendemos o que seja a vida: é comunhão, corporalmente atuada em palavras, silêncios e gestos, que quanto mais se reparte mais acresce, na fermentação absoluta do Espírito de Cristo. Esse mesmo Espírito que compartilha com o Pai e nos faz viver em vida repartida”.  

 

Resposta

Para D. Manuel Clemente, ao fazer-se memória do Sacramento da Eucaristia, “não lembramos um gesto do passado, revivemo-lo realmente agora, alimentamo-nos hoje como então”. Esta lembrança acrescenta a responsabilidade que transforma os cristãos, “com Ele num corpo de resposta”. “Já agora, como aqui estamos uns com os outros, estejamos também uns para os outros, na atenção, na delicadeza, na oração comum. E de seguida, em casa ou na rua, no trabalho e no lazer, na escola ou no hospital, seja onde for e quando for, sejamos igualmente corpo entregue e sangue derramado, isto é, gesto solidário e vida compartilhada”, frisou. “Só assim, esta Solenidade ficará inteiramente legitimada em nós e por nós. E seremos a memória viva do Senhor Jesus, para a salvação do mundo. Esta é também a nossa identidade missionária”, concluiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na homilia da celebração da Missa do Corpo de Deus.

 

Expressão de fé

Instaurada pelo Papa Urbano IV, em 1264, a comemoração da festa de ‘Corpus Christi’ – como também é conhecida – tem “levado às ruas um gesto e expressão de fé como convite à renovação da própria fé”, lê-se num comunicado do Secretariado de Lisboa do Corpo de Deus 2016. O mesmo documento, que aponta alguns factos históricos ligados à comemoração da Solenidade, recorda as palavras de São João Paulo II na Encíclica ‘A Igreja vive da Eucaristia’: “A devota participação dos fiéis na procissão eucarística da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é uma graça do Senhor que anualmente enche de alegria quantos nela participam”. Estas palavras, segundo a nota, têm-se confirmado “ao longo dos séculos na cidade de Lisboa”. Não obstante, em Portugal, no ano de 1910, com a implantação da República, “a legislação proibiu os dias santos da Igreja e interrompeu o culto público”, fazendo com que a tradicional procissão do Corpo de Deus, em Lisboa, viesse a ser retomada, mais tarde, em 1973, pelo Cardeal D. António Ribeiro.

Neste ano de 2016, a tradição secular manteve-se e a procissão do Corpo de Deus percorreu, ao final da tarde, as ruas da Baixa de Lisboa (Largo da Sé, Rua das Pedras Negras, Rua da Madalena, Poço do Borratem, Praça Martim Moniz, Rua da Palma, Rua Dom Duarte, Praça da Figueira, Rua da Prata, Rua da Conceição, Largo da Madalena, Rua de Santo António da Sé, Largo da Sé). Com as habituais participações do Clero, Irmandades, Ordens Religiosas e outras realidades eclesiais, a procissão teve o seu momento conclusivo com a tradicional bênção, na chegada à Sé de Lisboa. Na presença de entidades públicas, institucionais e de milhares de fiéis, o Cardeal-Patriarca de Lisboa expressou agradecimentos a todos os que estiveram presentes e que contribuíram para a celebração da Solenidade do Corpo de Deus, em Lisboa. “Queria agradecer a todos e a cada um porque viestes, porque assim mesmo vos confirmastes, uns aos outros, nesta realidade que somos a partir da Eucaristia de Jesus Cristo, que somos o pão de Deus também repartido no mundo, para chegar a todos e servir a cada um”.

 

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Reposição do feriado volta a colocar Corpo de Deus “no dia certo”

Por ocasião da reposição do feriado do Corpo de Deus à quinta-feira, o coordenador das celebrações do Corpo de Deus em Lisboa, cónego Luís Alberto, manifestou-se agradado com esta alteração. “Este sacramento da Eucaristia não é por acaso que se celebrava numa quinta-feira. O grande dia da Eucaristia é a Quinta-feira Santa. Era uma forma de, já depois de terminado o tempo pascal, voltar a sublinhar a dimensão deste sacramento que é central na vida cristã: celebrar Jesus vivo no meio de nós. Regressarmos à quinta-feira é, de facto, muito importante, e também nos ajuda, do ponto de vista pastoral, a valorizar esta festa”, referiu, em declarações à Rádio Renascença.

O sacerdote lembra ainda que levar o Corpo de Deus pelas ruas da cidade é uma manifestação pública de fé e de testemunho dos cristãos. “Não é uma manifestação, no sentido de querermos mostrar que somos muitos, é mais uma manifestação de fé de quem vai. O ir e o participar têm uma dimensão fundamental de vivência pessoal e individual da fé, mas tem uma dimensão pública de testemunho, que também é importante. Não fazemos um testemunho tipo ‘propaganda’, mas mostramos o que somos, o que vivemos e o que é importante para nós. Ser sinal para os outros é uma responsabilidade e é uma das maneiras de concretizarmos o desafio da missão que este Papa tanto nos tem feito”, afirmou o cónego Luís Alberto, que acompanha “mais de perto” a procissão há 6 anos.

 

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Recorde os principais momentos das celebrações do Corpo de Deus, em Lisboa

Fotos: https://flic.kr/s/aHskxy2DKp

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