Lisboa |
50 anos da dedicação da igreja paroquial de Vale Côvo
“Saciar com a água viva que Cristo oferece com a sua palavra e sacramentos”
<<
1/
>>
Imagem

A Paróquia de Vale Côvo, na Vigararia da Lourinhã, comemorou os 50 anos da dedicação da igreja, com o Cardeal-Patriarca a convidar os cristãos a saciarem-se com a “água viva que Jesus Cristo oferece”, tornando-se “missionários, mensageiros da sua presença e da sua conversa que nunca mais acaba”.

 

Desagregou-se, há 50 anos, da Paróquia do Bombarral. “Quando fizeram esta igreja de Vale Côvo, com grande qualidade artística, o senhor Cardeal Cerejeira elevou-a a paróquia e dedicou-a. Mas foi sempre uma comunidade pequena no número de paroquianos”, destaca, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Sérgio Mendes, pároco de Vale Côvo.

Esta paróquia da Vigararia da Lourinhã recebeu, no passado Domingo, 19 de março, a presença do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, para assinalar os 50 anos da dedicação da igreja. “As pessoas ficaram contentes, com a presença do senhor Cardeal-Patriarca”, relata o sacerdote, de 39 anos, apontando o “empenho e participação” da população para que agora fosse possível pintar a igreja, no exterior e interior. “Retomaram-se, há cerca de um ano e meio, festas antigas: a festa de Santo Antão, em janeiro, e a festa de Nossa Senhora dos Aflitos, em julho”, explica.

 

Iniciação cristã

A realidade social desta terra do concelho do Bombarral é marcada por uma população envelhecida que tem na agricultura a sua ocupação principal. Nesta Paróquia de Vale Côvo, muito próxima da autoestrada, a população local aproxima-se das 1500 pessoas, sendo que apenas cerca de 150 participam habitualmente na vida paroquial. “Na catequese, do 1º ao 10º volume, estão 50 crianças. É uma terra envelhecida, também com muita gente que emigra. Os jovens, por exemplo, vão para Leiria, Caldas, Lisboa e não se fixam na terra”, descreve o padre Sérgio Mendes que tem como coadjutor o padre Manuel Charumbo. Na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Vale Côvo, os dois sacerdotes têm o apoio de “um grupo que se ocupa da caridade”. “Os jovens, os que ficam, estão inseridos no grupo dos acólitos e cantores”, aponta o padre Sérgio. Ao Domingo, a Missa reúne cristãos da paróquia, mas também de fora. “Há gente de perto, porque como a Missa é às 10h30 e a igreja fica perto da autoestrada, as pessoas param ali para depois irem almoçar, passear em família”, salienta.

Situada a cerca de 40 minutos de Lisboa, esta paroquia tem como principal desafio “ajudar as pessoas a terem uma iniciação à vida cristã”. “A tradição é a de ir à Missa, não havendo necessidade de muito mais. Por isso, conseguir suscitar o desejo de crescer um pouco mais na vivência da fé, é um dos desafios”, aponta o pároco, padre Sérgio Mendes.

 

A conversa continua

Na celebração que assinalou os 50 anos da dedicação da igreja paroquial de Vale Côvo, o Cardeal-Patriarca de Lisboa refletiu, a partir do evangelho da Samaritana, escutado na celebração, sobre a surpresa da “conversa” de Jesus, que “nunca mais acaba”. “Um gesto tão simples de ir ao poço buscar água transformou-se, para aquela mulher, numa revelação completamente inesperada, de que estava diante d’Aquele que há tantos anos era o Messias, o Cristo. E que conhecia tanto sobre a vida dela. (...) Jesus dá-lhe uma resposta que a deixa a pensar: ‘Se tu soubesses quem te está a pedir água, tu é que pedirias água e ficavas com água e nunca mais precisavas de ir ao poço’. Jesus está a elevar a conversa. Jesus não a deixa nunca no ponto onde a colocamos”, observou D. Manuel Clemente, recordando uma história com um seu colega de catequese. “Há um par de anos perguntei a um antigo colega meu da catequese: ‘Porque é que tu continuas católico ‘praticante’, ao contrário de muitos outros que deixaram de praticar e foram para outra terra?’ Ele deu-me uma resposta que foi das mais certas que ouvi sobre o que é ter fé, sobre o que é ser cristão: ‘É porque com Jesus, a conversa nunca mais acaba! Eu tenho ouvido muitas conversas ao longo da vida, mas acabam. Tanto hoje, como quando eu comecei a ouvir esta conversa, indo à Igreja, lendo a escritura, estou convencido de que há mais coisas para perceber nesta conversa de Jesus. A vida vai-se desenrolando e a conversa vai continuando’”, memorou.

 

Água viva

Para o Cardeal-Patriarca de Lisboa, a figura da mulher samaritana que se abeirou do poço para procurar água é também atual para todos os cristãos e, em particular, para os paroquianos de Vale Côvo. “A história não acaba assim, mas continua connosco”, garante D. Manuel Clemente. “Estamos aqui por causa dos 50 anos da dedicação desta igreja. Se quisesse definir esta Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Vale Côvo, e o que tem sido esta igreja – e tem sido para muita gente daqui e de fora – direi que é o poço de Samaria. Onde, como aquela mulher, também nós vimos buscar água, aquilo que nos mata a sede do corpo e do espírito. Tantas vezes, a tantos de vós, se vem aqui – não pela água, mas pela saúde de alguma familiar, de algum conhecido, pela resolução de um problema que nos ultrapassa... Vimos buscar água, no sentido pleno que a palavra pode ter”, assegurou o Cardeal-Patriarca, na homilia da Missa.

Na mesma celebração, que foi animada também pelos coros das paróquias vizinhas, Bombarral e Roliça, o Cardeal-Patriarca de Lisboa referiu que, para que o Evangelho se torne presente na vida de cada cristão, é preciso procurar mais do que ‘simplesmente’ água. “Quantos e quantas, ao longo destes 50 anos, receberam aqui aquela água que é sinal do Espírito que Jesus nos transmite, que Ele recebe do Pai e nos transmite a nós, e que nos faz viver de outra maneira, que nos dá outro alento e que nos dá outras respostas, com esta tal conversa de Jesus que nunca mais acaba”. Na igreja de Vale Côvo, “aqui O ouvimos”. “Quantas vezes O ouvimos falar?”, questionou D. Manuel Clemente. “Naquele poço e naquela conversa, Jesus prometeu uma água para a vida eterna, que nunca mais deixa de correr. Naquela pia batismal corre essa água. Quantos e quantas receberam aquela água, que é sinal do Espírito de Jesus, e começaram uma vida eterna… porque a vida que se recebe no Espírito de Jesus, leva-nos tão longe, como a Ele. E a lonjura de Deus é infinita”, garantiu o Cardeal-Patriarca, concretizando que, nesta comunidade paroquial, o Evangelho escutado “salta inteirinho para esta igreja que tem o nome de Jesus, no seu Sagrado Coração, no amor que tem por nós, e continua a ser a nossa vida e esta conversa, a ser a nossa conversa”. “É isto uma Igreja: padres, catequistas, todos os que colaboram na liturgia, onde Jesus se oferece como alimento e pão. Cada sacramento aqui celebrado é aquela água viva – prometida no Evangelho – a acontecer. A brotar e a tocar a vida das pessoas”, particularizou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na igreja de Vale Côvo, que considerou ser “o poço de Jacob, o poço da Samaria, onde nós podemos e devemos vir saciar-nos com a água viva que Jesus Cristo nos oferece com a sua palavra, sacramentos, para depois nos transformar em missionários, mensageiros da sua presença e da sua conversa que nunca mais acaba”.

 

_______________


Uma igreja evangelizadora

Natural de Vale Côvo, António Ventura esteve presente na dedicação da igreja, em 19 de março de 1967. “O padre Alberto Teixeira Dias era o nosso pároco e eu era um jovem de 21 anos! Foi uma alegria para a terra termos uma igreja desta natureza. Ficámos muito contentes porque não tínhamos condições na capela que é relativamente pequena, para apenas quarenta a cinquenta pessoas”, recorda ao Jornal VOZ DA VERDADE. Hoje com 71 anos, este leigo não tem dúvidas de que a obra da autoria do arquiteto Veloso Reis Camelo foi evangelizadora para esta terra do concelho do Bombarral. “O novo templo chamou muito mais pessoas à Igreja. Depois da inauguração, a igreja começou-se a encher com frequência, com mais de duzentas pessoas”, acrescenta.

António destaca o empenho dos cristãos para construir a nova igreja. “Foi uma luta muito grande. O povo começou a fazer récitas em 1952-53. Nós, os jovens, fazíamos rifas e íamos vendê-las para as feiras e para tudo quanto era sítio. Foram anos e anos disto…”, lembra este leigo, recordando-se também “dos cortejos de oferendas”. “Arranjou-se muito dinheiro com os cortejos de oferendas, onde as pessoas davam tudo, davam obras, davam batatas, davam milho, davam tudo para ser leiloado. Os caçadores iam à caça para depois também os coelhos serem leiloados em favor da construção”, conta António, recordando-se ainda: “Durante o cortejo, as pessoas daquele tempo tiveram astúcia e nós íamos no cortejo e levávamos a nota pendurada na lapela do casaco. Conclusão: se um dava 100 escudos, o outro não ficava atrás – e 100 escudos era muito dinheiro, eram dois dias de trabalho; se um dava 500, havia também quem quisesse dar 500…”, refere, lembrando que “com todas as iniciativas foi possível pagar logo a nova igreja, que custou, salvo erro, entre três e quatro mil contos”.

Antigo encarregado-geral da Adega Cooperativa do Bombarral, António Ventura integra o Conselho Económico da paróquia e salienta que, por ocasião dos 50 anos da dedicação da igreja de Vale Côvo, o templo foi pintado por fora – “tal como tinha sido aquando dos 25 anos da dedicação” – e, desta vez, também por dentro, “com as cores originais”. “Foram obras que custaram mais de 50 mil euros, mas que a paróquia conseguiu pagar. O povo há mais de um ano que começou a juntar dinheiro, com festas, rifas, a cozer o pão – cada fornada rendeu mais de mil euros! – e foi possível agora embelezar a igreja”.

texto por Diogo Paiva Brandão

texto por Filipe Teixeira; fotos por Diogo Paiva Brandão
A OPINIÃO DE
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Conta-nos São João que, junto à Cruz de Jesus, estava Maria, a Mãe de Cristo, que, nesse momento, foi...
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Foi muito bem acolhida, pela generalidade da chamada “opinião pública”, a notícia de que...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES