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Fundação AIS ajuda os refugiados cristãos em Lampedusa
Tesouro escondido
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Dia 8 de Julho, fez agora 4 anos. O Papa foi a Lampedusa na primeira viagem do seu pontificado. Foi lá denunciar. Foi lá rezar. Todos os refugiados que se encontram nesta ilha italiana trazem consigo histórias de violência, de medo. Todos foram obrigados a fugir. Todos já choraram. Os cristãos refugiados em Lampedusa são uma minoria. Mas não estão esquecidos.


Abril de 2015. Um bote insuflável abarrotado com cerca de uma centena de refugiados avança pelo Mediterrâneo desde a costa da Líbia rumo à ilha italiana de Lampedusa. Durante a viagem, de súbito, estala uma discussão. Quase todos os que seguem a bordo são muçulmanos. Alguns são radicais. Falam em ‘jihad’, em ‘guerra santa’. Mas entre os que estão a bordo há também um pequeno grupo de cristãos. São apenas 12 homens. Nigerianos e ganeses. De repente, a discussão sobe de tom. Os gritos dão lugar a empurrões e murros. Os cristãos são rodeados, agredidos e atirados borda fora. São assassinados nas águas do Mediterrâneo. Quando o barco chega a Itália, alguns dos que iam a bordo resolveram contar tudo à polícia e 15 homens oriundos da Costa do Marfim, Mali e Senegal foram presos, acusados de “homicídio agravado pelo ódio religioso”. Os 12 cristãos morreram engolidos pelo Mar Mediterrâneo, que se tornou, nos últimos anos, num verdadeiro cemitério para milhares de homens, mulheres e crianças.

 

Um abraço especial

Todos os dias, ou quase todos os dias, chega algum barco à Europa com refugiados a bordo. A ilha italiana de Lampedusa é como que um ponto de passagem para quem se faz ao mar oriundo de algum país do Norte de África ou do Médio Oriente. Tal como no bote insuflável carregado de refugiados, entre a multidão dos que arriscam essas viagens em condições assustadoramente precárias, há cristãos. São uma minoria. Talvez por isso quase nunca se fale deles. Agosto de 2015. No final de uma audiência-geral de quarta-feira, no Vaticano, o Papa Francisco aproxima-se de um grupo de jovens e abraça-os, um a um. São 10 nigerianos. Também eles são refugiados, também eles se fizeram ao mar, fugindo, neste caso, da violência do grupo terrorista Boko Haram. Estes 10 jovens tiveram mais sorte do que os 12 homens atirados borda fora durante a travessia do Mediterrâneo. Mas a história das suas vidas, desde a fuga da Nigéria até ao abraço do Papa, no Vaticano, está cheia de episódios de horror que provavelmente nunca mais conseguirão esquecer. Como será possível não lembrar as horas, os dias angustiantes da travessia do deserto ou os seis meses de trabalhos forçados a que estiveram sujeitos na Líbia, às mãos de traficantes que lucram com a vida miserável de milhões?

 

Chorar os mortos

Julho de 2013. O Papa Francisco decide ir a Lampedusa para a primeira viagem apostólica do seu pontificado. Será sempre uma viagem simbólica. Ficará para a história também por isso, por ter sido a primeira. Francisco decidiu ir a Lampedusa para “chorar os mortos que ninguém chora”, para “despertar consciências”. Para combater a “globalização do mal”. Entre os que decidiram doar o seu tempo em favor dos refugiados que se acotovelam em Lampedusa está um sacerdote. É o Padre Carmelo La Magra. Ouvir, rezar, ajudar. Todos os dias o Padre Carmelo vai procurando minimizar o sofrimento dos que, fugindo de situações terríveis, se encontram ali como que encurralados entre um passado de violência e um futuro que escapa das suas mãos dia após dia. Alguns são cristãos. Quase ninguém se interessa por eles. Mas o Padre Carmelo não desiste. Todos estes migrantes forçados precisam de apoio material. Mas precisam também de ajuda espiritual. Por isso, o Padre Carmelo decidiu contactar a Fundação AIS. Era preciso fazer alguma coisa por estes cristãos que fugiram das guerras e da violência do Médio Oriente e de África, assim como da miséria e da perseguição religiosa. São pessoas que deixaram as suas casas, tudo o que tinham, e que se encontram ali, em Lampedusa, de mãos vazias. No entanto, estar de mãos vazias não tem de significar abandono espiritual.

 

Pequeno milagre

Foi a pensar neles que o Padre Carmelo La Magra decidiu pedir ajuda à Fundação AIS. Entre todos os Cristãos, quem mais preocupa o Padre Carmelo são as crianças. Se nada se fizer por elas vão perder por completo as suas raízes. É preciso que mantenham os laços com o seu país de origem, a sua cultura, a sua religião. Que fazer? A primeira resposta chegou com o envio de meio milhar de exemplares da “Bíblia para Crianças” em inglês, árabe e francês para as crianças refugiadas, e também, claro, para todos os migrantes cristãos. Este livro, sonhado pelo fundador da AIS, o Padre Werenfried van Straaten, em 1979, como um instrumento de evangelização, continua a ser, dia após dia, quase 40 anos depois, um verdadeiro sucesso editorial com mais de 55 milhões de exemplares em 187 línguas. No campo de refugiados em Lampedusa, começa-se agora a ouvir cada vez mais orações cristãs. Para muitos desses refugiados, para muitas dessas crianças, agora há um pequeno livro que guardam com orgulho como se fosse um verdadeiro tesouro. Um tesouro que é só deles. Um tesouro escondido. É um livro que lhes fala de Amor. Para quem fugiu da guerra, da violência, da perseguição, não haverá tesouro maior. Este livro é um pequeno milagre tornado possível apenas graças à generosidade dos benfeitores e amigos da Fundação AIS.

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