Doutrina social |
Dia de Jejum e de Oração pela Paz
A paz também depende de nós
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Quando no passado dia 11 de Fevereiro o Papa rezou pela paz na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul, apelou à vivência de um “Dia de Jejum e de Oração pela Paz” a 23 de Fevereiro. Está seguro de que “o Nosso Pai celeste sempre escuta os seus filhos que chamam por Ele quando envolvidos na dor e na angústia”.

 

Os demónios que nos vigiam

Jesus tinha respondido aos discípulos que lhe perguntavam a razão de eles não terem conseguido expulsar o “demónio” de um jovem: “Esta casta de espíritos só pode ser expulsa à força de oração”. Ainda hoje há demónios que só com a força de Deus nos poderemos ver livres deles. Não me refiro àquelas figuras de chifrudos do imaginário, mas sim às incontáveis situações que limitam os anseios da pessoa e lhe provocam sofrimento. Por isso, encontramos na literatura religiosa e não religiosa nomes em abundância para identificar essa triste companhia na vida de qualquer pessoa; nem precisamos de trabalhar com a imaginação; basta abrir os olhos ao que se passa com demasiada frequência e em demasiados lugares para ficarmos surpreendidos com a nossa falta de poder para as enfrentarmos. Por isso, Ele insiste no jejum, uma atitude feita de humildade, determinação, despojamento, desabrochando em solidariedade e compromisso.

 

Os sinais da morte que espalham

Ao apelar ao jejum e à oração pela paz ele tinha diante de si uma pequena multidão de congoleses da diáspora que se juntaram em Roma para manifestarem a dor e preocupação pelo seu povo, tão martirizado por forças internas e externas.

A história vem de trás com a não realização das eleições legislativas e presidenciais previstas para 2016. Depois de uma primeira cimeira entre partidos da oposição, não bem sucedida, o presidente Joseph Kabila pediu a mediação da Igreja para uma segunda cimeira, sendo-lhe apresentado o compromisso de organizar eleições dentro de um ano, o que não aconteceu e que levou a manifestações nas ruas e a Igreja a afirmar que o povo tem de assumir a sua responsabilidade e o Governo, se não aceita os compromissos, tem de cair; o Cardeal Mosengwo, Arcebispo de Kinshasa, apelou a que os medíocres deixem o lugar para aqueles que têm capacidade para dirigir o país. Acabara-se o tempo de graça para ambas as partes; curiosamente, ao recordar o aniversário da morte do pai, Kabila neste ano não foi ter com a Igreja Católica, mas sim com  outra Igreja cristã. O Pastor Ekofo foi muito mais longe no seu comentário à situação ao afirmar que ali não existe Estado; teve a sorte de forças da segurança da ONU acompanharem o evento, após o qual, o retiraram para lugar seguro.

 

Viver em cima da desgraça dos outros

Foi esta uma frase repetida num dos encontros da Semana de Estudos da Vida Consagrada, realizada em Fátima entre os dias 10 e 13 de Fevereiro. As vagas de refugiados, não só dos países do Médio Oriente, mas também, com igual dramaticidade, dentro dos próprios países ou para os países vizinhos, são o pão de cada dia nalgumas regiões de África. A 21 de Junho de 2017, a Nunciatura Apostólica na República Democrática do Congo denunciava 3.383 mortes verificadas desde Outubro de 2016, com estruturas danificadas ou encerradas, como o que se refere a 60 paróquias, 34 casas religiosas, 31 centros de saúde da Igreja, 141 escolas católicas e 5 seminários, incluindo a destruição de um bispado e de 20 aldeias. Por sua vez, a ONU refere a descoberta de 42 valas comuns.

São alguns exemplos do que vai acontecendo, partindo de dentro ou de fora. E sempre, para conseguir objetivos de poder político e de controle estratégico para exploração das riquezas naturais. A febre da riqueza, o comércio das armas como moeda de troca e o alheamento perante as agressões ao ambiente, mostram à saciedade como o interesse de alguns se constrói sobre a ruina dos outros e se alimenta do seu sangue; é a tal economia de morte de que fala Francisco na ‘Evangelii Gaudium’ e que ecoa na Mensagem desta Quaresma: “A própria criação é testemunha silenciosa deste resfriamento do amor: os mares, também eles poluídos, devem infelizmente guardar os despojos de tantos náufragos das migrações forçadas; os céus – que, nos desígnios de Deus, cantam a sua glória – são sulcados por máquinas que fazem chover instrumentos de morte”. Não imagino como seremos julgados num futuro próximo nós os que acompanhamos a conquista do espaço e toleramos tal desumanidade. E porque somos parte do problema, temos de ser parte da solução, com a ajuda de Deus.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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