Lisboa |
Igreja paroquial de Olivais Sul assinala 30 anos
Uma igreja que se prolonga
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou a Paróquia de Olivais Sul a prolongar a Palavra de Deus para fora das paredes da igreja. D. Manuel Clemente presidiu à Missa que assinalou os 30 anos da bênção e dedicação da igreja paroquial.

 

A Eucaristia dos 30 anos da bênção e dedicação da igreja paroquial de Olivais Sul, celebrada na noite do passado dia 17 de abril, ficou marcada pelo convite do Cardeal-Patriarca à comunidade para “dar correspondência” à Palavra de Deus, a partir da igreja. “Há 30 anos que, nesta casa de Deus, se proclama a sua Palavra. Mas esta Palavra tem depois de fazer eco nas nossas próprias palavras que dissermos aos outros. Tantas palavras e tanto gestos que aqui se dizem, que aqui se celebram, que aqui se repetem, porque é o Corpo de Cristo, é o templo de Deus contido nestas paredes, mas sobrando muito delas pela correspondência que cada um de nós lhe der”, lembrou D. Manuel Clemente.

No início da celebração, o Cardeal-Patriarca garantia que participava “com muito gosto” nas comemorações do 30º aniversário da igreja de Olivais Sul. “Estamos a recordar o que aconteceu há 30 anos atrás. Parece que foi ontem, mas quando nós celebramos estas realidades, elas eternizam-se e, por isso, são de ontem, são de hoje, são de amanhã. Demos graças a Deus por tudo quanto aqui aconteceu, em 30 anos de vida cristã, sobretudo quanto daqui saiu, em testemunho evangélico da vida, nas famílias, na sociedade, nos trabalhos de cada um”, apontou.

Nesta celebração, onde participou a presidente da Junta de Freguesia de Olivais, Rute Lima, o pároco de Olivais Sul agradeceu a presença do Cardeal-Patriarca. “É sempre com muita alegria que o recebemos nesta casa e agradecemos o seu estímulo para construirmos a Igreja se prolonga na família, na escola, no trabalho, na rua, onde quer que Jesus nos indique, a partir desta igreja”, manifestou o padre Bruno Machado, no final da celebração, enaltecendo também a presença, na Eucaristia, do cónego António Janela, pároco de Olivais Sul quando a igreja paroquial foi dedicada. “A vida do cónego Janela está muito comprometida com a construção desta igreja. Deixou aqui as suas forças, deixou aqui muito da sua marca, não só na construção deste templo, mas sobretudo na construção desta comunidade”, recordou o atual pároco.

 

O crescimento da solidão

Criada em 1967, pelo Cardeal Cerejeira, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Olivais Sul é uma das três paróquias da freguesia de Santa Maria dos Olivais, no termo oriental da cidade de Lisboa. Uma freguesia que é a mais populosa da cidade, com mais de 50 mil habitantes, segundo os Censos de 2011, e que está dividida em três áreas distintas: a zona histórica mais perto do rio (Paróquia de Santa Maria dos Olivais), Olivais Norte e Bairro da Encarnação (Paróquia de Santo Eugénio) e Olivais Sul (Paróquia de Nossa Senhora da Conceição). “Os Olivais Sul é a zona mais populosa da freguesia, com cerca de 40 mil habitantes”, descreve ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de Olivais Sul. Foi nos anos 60, do século passado, que o bairro de Olivais Sul começou a ser construído. “Na altura, este foi um bairro piloto, que acolheu não só a população do interior, como também muitas pessoas que trabalhavam nas cooperativas. Tínhamos o prédio dos professores, o dos polícias, o dos juízes, algo que tinha a ver com as caixas de previdência. Chegou também uma grande população da zona de Lamego e das Beiras e o crescimento do bairro coincidiu com a construção da ponte 25 de Abril. Muitos bairros da zona de Alcântara e da Ajuda foram destruídos, por causa dos pilares da ponte, e essa população veio viver para os Olivais Sul”, conta o padre Bruno, frisando que, “nos dias de hoje, os Olivais Sul têm uma população muito envelhecida”. “Temos alguns problemas de isolamento de pessoas. Nós estamos na cidade de Lisboa, mas não estamos no centro da cidade, ou seja, não temos uma população idosa como por exemplo em Arroios, onde os idosos vivem num quarto, completamente desintegrados. Aqui, a maioria dos idosos ainda tem um suporte familiar, mas há cada vez mais problemas de solidão”, expõe.

 

Apostas pastorais

Há 13 anos, quando chegou como pároco aos Olivais Sul, a aposta do padre Bruno foi a catequese. “Investi muito na formação os catequistas. A catequese, nos Olivais Sul, funciona sobretudo durante a semana e é quase como uma miniempresa – temos 44 catequistas e perto 400 miúdos –, mas o problema é que a grande maioria das crianças e dos adolescentes da catequese não são residentes na paróquia. Estão aqui durante a semana, nas escolas e com os avós, mas, para além da catequese, é difícil interagir em outras atividades que impliquem a presença deles ao fim-de-semana”, lamenta, destacando, contudo, “a presença do agrupamento de escuteiros, com cerca de 80 elementos, que foi fundado aquando da criação da paróquia”. “Não temos muita juventude na paróquia, o grupo de jovens é pequeno, mas é muito fiel e está envolvido em muitas atividades”, aponta.

Outra aposta pastoral foi nos serviços de apoio aos batizados e aos matrimónios. “Estava tudo entregue a pessoas com muito boa vontade, mas todos a chegar à casa dos 80 anos. Foi, por isso, necessário começar a trabalhar as famílias mais novas para assumirem esta missão. Tem sido uma aposta na evangelização, quer na catequese, quer no apoio à família”, destaca o pároco, sublinhando que em termos de caridade a paróquia tem o Banco Alimentar, que apoia cerca de 150 famílias, e a cantina social, “que está a ficar residual, mas que, na altura do pico da crise, há cerca de 10 anos, ajudou muito aquelas famílias que, de repente, ficaram sem nada”.

Os movimentos com maior expressão na paróquia são o Caminho Neocatecumenal, com duas comunidades, e o movimento dos Reformados. “O resto é muito residual. Os Vicentinos, por exemplo, são do início da paróquia e não têm tido renovação, pelo que têm agora os elementos muito envelhecidos”, frisa o sacerdote, que tem a colaboração, há dois anos, do padre Fernando António e, desde 2009, do diácono Laurentino.

A população mais idosa é também uma preocupação desta paróquia da cidade. O Centro Social Paroquial, por exemplo, tem centro de dia e apoio domiciliário, que auxilia 35 utentes em cada uma das valências, havendo ainda a Academia Sénior. “Um projeto interessante nos Olivais Sul, criado no tempo do padre Hélder, há mais de 20 anos, é a Academia Sénior, uma espécie de universidade da terceira idade que funciona como extensão do centro social. Tem quase 300 alunos, com disciplinas que vão da História às Línguas, dos trabalhos manuais aos artesanatos. Além de ter sido uma aposta no envelhecimento ativo, tem sido muito importante para resolver questões do isolamento e da solidão. As pessoas vêm às aulas, tomam um café juntas, têm passeios e visitas a museus e acaba por ser um serviço muito importante para esta população que vive mais resguardada, digamos. Tem sido um projeto importante para a paróquia”, salienta.

 

Nova igreja?

Além da igreja paroquial, que assinala três décadas, a Paróquia de Olivais Sul tem ainda um outro templo, a Igreja de São José, construído em 1968, logo após a criação da paróquia, e que era para ser um templo provisório. “Quando foi inaugurada a igreja paroquial, em 1988, a Igreja de São José nunca foi desativada e é lá que funciona praticamente toda a vida da paróquia, os grupos, a catequese, as salas, as reuniões, o centro social… Por isso, o coração da paróquia ainda bate na Igreja de São José, que fica no centro do bairro, na zona nobre, mesmo em frente ao shopping”, frisa o padre Bruno Machado, lembrando que “entre a comunidade cristã houve sempre a consciência de que a Igreja de São José era provisória, sobretudo pela construção que é muito precária”. “Hoje, até chove lá dentro”, refere o pároco.

Entre a comunidade cristã, há o sonho de construir uma nova igreja onde atualmente está situada a Igreja de São José. “Estamos a trabalhar para isso. A comunidade já há alguns anos que está motivada para o sonho de uma nova igreja e a fazer aquelas coisas próprias, como as festas e os arraiais para angariar fundos. A igreja paroquial não vai deixar de o ser – não vamos demolir essa igreja –, mas esta possível nova igreja terá que ser um polo da paróquia. O que é necessário não é tanto um lugar de culto, mas os espaços de apoio à comunidade. É muito difícil, para nós, ‘arrumar’ as crianças todas nas salas de catequese ou fazer atividades, porque de facto não temos espaços, nem na igreja paroquial nem na Igreja de São José”, observa o padre Bruno Machado, salientando que “a possível nova igreja, mais do que um desejo, é uma necessidade na vida da comunidade”. “Mas não é um projeto para dois ou três anos”, avisa o pároco de Olivais Sul.

 

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Aproximar a comunidade da igreja paroquial

O 30º aniversário da dedicação da igreja paroquial de Olivais Sul pode contribuir para aproximar a comunidade cristã do templo. Pelo menos, é esse o desejo do pároco. “Queremos aproveitar esta efeméride dos 30 anos da igreja para aproximar a comunidade da igreja paroquial e ajudá-la a ver o lado bom do templo. A ideia é trazer a comunidade à igreja paroquial”, manifesta ao Jornal VOZ DA VERDADE o padre Bruno Machado, destacando igualmente a presença do Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, nas comemorações. “É sempre importante a presença do senhor Patriarca, o Pastor. É importante também para mostrar à comunidade que a igreja paroquial, embora não seja uma obra perfeita, é uma obra da Igreja, é um espaço que congrega a Igreja e, portanto, nada melhor do que ter a cabeça da Igreja de Lisboa para congregar a paróquia”, deseja o sacerdote.

Com capacidade para cerca de 500 pessoas sentadas, a igreja paroquial de Olivais Sul foi dedicada por D. António Ribeiro, então Cardeal-Patriarca de Lisboa, em 1988. “A paróquia não tem uma relação muito pacífica com a igreja paroquial”, assume o pároco. “Além das questões subjetivas do ‘gosto’, ‘não gosto’, em relação à estética, houve uma dificuldade com o projeto: o projeto foi tão monstruoso em termos financeiros que acabou por não terminar e, portanto, a igreja paroquial não tem os espaços próprios da comunidade. Ou seja, não tem salas para a catequese, não tem espaços de convívio, tem somente o espaço do culto, o cartório, as capelas mortuárias e um bom salão”, explica o sacerdote, de 43 anos.

O padre Bruno refere ainda que “a população está muito envelhecida” e, em termos geográficos, a paróquia é “muito grande”, estando a igreja paroquial situada num ‘canto’ da paróquia. “As pessoas da comunidade que vivem no canto oposto onde está a igreja dificilmente vão à igreja paroquial. Só mesmo quando são ‘obrigadas’”, salienta o sacerdote, nascido nos Olivais, que é pároco de Olivais Sul desde que foi ordenado sacerdote, em 2005. “Em termos arquitetónicos, de facto, é difícil... Para mim, que sou dos Olivais, entrar na igreja paroquial é o mesmo que entrar em casa, porque estou habituado, mas a maioria das pessoas sente-se desconfortável, não convive bem com o betão e com outras questões da construção da igreja, mas os arquitetos que a visitam com alguma regularidade elogiam sempre o trabalho arquitetónico do templo”, garante.

 

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30º aniversário assinalado com diversas iniciativas

Depois da abertura das comemorações dos 30 anos da igreja paroquial de Olivais Sul, com a Eucaristia presidida pelo Cardeal-Patriarca, neste sábado, 21 de abril, às 21h00, vai ser inaugurada uma exposição fotográfica, com o tema ‘30 Anos, 30 Imagens, 30 Olhares’. Para julho, no dia 17, às 21h00, está marcada uma conferência e debate com o arquiteto Gonçalo Byrne e no dia 21 do mesmo mês, à mesma hora, tem lugar a apresentação do documentário ‘Igreja dos Olivais Sul - 30 Anos’. Finalmente, dia 17 de outubro, acontece o lançamento do livro ‘Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Olivais’ e, três dias depois, no final das comemorações dos 30 anos desta igreja paroquial, realiza-se um concerto com o Coro Regina Coeli.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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