Lisboa |
Os primeiros 12 orientadores do projeto Famílias comVida
“Ajudar, encaminhar, acompanhar”
<<
1/
>>
Imagem

O Cardeal-Patriarca enviou recentemente 12 orientadores familiares do projeto Famílias ComVida, que concluíram a formação. Maria Clara Jardim e Silene Gonçalves são duas das novas orientadoras e deixam o seu testemunho, enquanto o diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado, cónego Rui Pedro Carvalho, destaca a importância desta iniciativa para a pastoral familiar nas paróquias.

 

Casada há 25 anos, Maria Clara Jardim é uma das 12 novas orientadoras do projeto Famílias comVida.  Foi desafiada pelo pároco a participar nesta formação e o facto de gostar de áreas ligadas à família fê-la aceitar o convite, não sem antes sentir algum receio sobre o que se pretendia. “No início da formação, até ia um bocadinho às escuras porque ninguém sabia muito bem o que era; mas, sendo uma proposta do pároco que tinha a ver com as minhas áreas, com a orientação de pessoas e famílias, disse que ‘sim’ e arrisquei”, conta esta enfermeira e psicóloga ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Maria Clara, que faz parte, juntamente com o marido, das Equipas de Nossa Senhora, pertence a uma das paróquias mais recentes da cidade: a Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes. No Parque das Nações, a construção da nova igreja acompanhou também a edificação de uma comunidade que “começa agora a ter algumas características comuns, na Pastoral Familiar, com outras paróquias”. “Vamos certamente encontrar aqui algumas situações de ajuda às famílias, no sentido de as encaminhar, não tanto no sentido económico, mas com ajuda na educação dos filhos adolescentes, por exemplo”, destaca.

Da formação que realizou, esta mãe de três filhos destaca a relação e o conhecimento que se verificou entre todos. “Uma das mais valias foi o grupo, o conhecimento de pessoas com formações completamente diferentes, oriundas de diferentes locais e que se juntavam, sendo que no centro de tudo havia alguma coisa comum”: a ligação à Igreja. Dos conteúdos que fizeram parte das muitas horas de formação, Maria Clara destaca a exigência e o aprofundamento dos temas. “Como esta formação tem a mensagem cristã como base, fala dos temas com uma vertente completamente diferente. Isso foi muito importante”, observa.

Sobre o estado da família atual e os seus principais desafios, esta recém-formada do projeto Famílias comVida considera o individualismo como uma das grandes ameaças à família. “As pessoas querem objetivos muito individuais. É preciso intervir e perceber que isto é uma caminhada que não é só de um”, considera Maria Clara Jardim, apontando também outros fatores como a falta de trabalho, a falta de tolerância e compreensão. “Penso que as famílias estão a atravessar uma fase onde a base não é muito sólida”, lamenta. Por estes motivos, esta enfermeira e psicóloga considera que o projeto Famílias comVida “tem pernas para andar e para se alargar”. “Não devemos ter medo de nos mostrarmos porque este projeto passa por aí, no testemunho no dia a dia”, salienta.

 

Dar a conhecer o projeto

A sede do Famílias comVida situa-se em Carnide, mas a sua presença quer atingir toda a diocese. Através da formação de orientadores familiares, este projeto, que resulta da colaboração da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa e da Cáritas Diocesana, pretende ser uma das “primeiras linhas da atenção às famílias” nas paróquias, refere o diretor da Pastoral Familiar da diocese, cónego Rui Pedro Carvalho, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Os 12 orientadores familiares que receberam a formação e foram enviados, no passado dia 7 de abril, pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, têm agora dois trabalhos: “Em primeiro lugar, conhecer a realidade; depois, darem-se a conhecer aos organismos da paróquia, dizendo-lhes que existe este serviço, abordando algumas temáticas ligadas a área familiar, com os pais das crianças da catequese, dos escuteiros, por exemplo, e mostrando que existe resposta para algumas questões da vida familiar”.

 

Para todos

Apesar do primeiro foco serem as famílias cristãs, esta iniciativa está aberta a todas as famílias, independentemente da sua crença religiosa ou situação matrimonial. “Acolher” é palavra central do Famílias comVida. “Este projeto não se direciona apenas para pessoas com grandes dificuldades, mas, acima de tudo, quer ajudar as famílias a crescerem enquanto famílias cristãs. Dentro desta ajuda podem encaminhar as situações para várias áreas, como, por exemplo, na procura de ajuda para educar os filhos, na busca de soluções para um problema na relação conjugal do casal, ou então na procura de crescer mais na santidade, buscando alguma espiritualidade. No fundo, estes formadores serão como um pivot que se propõe a ajudar, a encaminhar e a acompanhar. Estarão na primeira linha da atenção às famílias”, aponta o sacerdote.

 

Avaliação positiva

Durante o último ano, foram 12 os leigos que fizeram as “cerca de 100 horas de formação” do Famílias comVida e que, no passado dia 7 de abril, na igreja do Convento de Santa Teresa, em Carnide, participaram na celebração de envio, numa Missa presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa. “Quando o projeto foi lançado, em setembro de 2016, com a inauguração de um espaço, em Carnide, tínhamos como objetivo que esse fosse um ano de formação. Contactámos as vigararias e as paróquias e recebemos 12 pessoas para fazer esta formação. A avaliação é positiva e está dentro daquilo que é o nosso horizonte. A partir de agora, estes orientadores vão para as suas paróquias perceber como é que isto vai funcionar. Importa assimilar, em contacto com os párocos e com a realidade paroquial, como é que este projeto pode acontecer na paróquia, na realidade local. A par disso, vão ser sempre acompanhados pelo Famílias comVida. Iremos encontrar-nos regularmente”, aponta o diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa.

 

Formação permanente

Durante este último ano de formação, o cónego Rui Pedro Carvalho sentiu “muito entusiasmo” dos formandos e formadores do projeto. Por isso, “é provável” que tal facto tenha “despertado o interesse” noutras paróquias para contarem com a presença de um orientador familiar do projeto Famílias comVida. “Creio que alguns párocos tiveram interesse, mas não tiveram a pessoa indicada para enviar ou ainda estão a fazer esse discernimento. Claro que, para a dimensão da nossa diocese, esta primeira leva ainda é pouca, mas para começar não é mau”, destaca o sacerdote, revelando a intenção de, brevemente, “continuar com a formação de novos orientadores”.

Nos próximos tempos, o desafio do projeto é ir ao encontro das famílias. Por isso, o acompanhamento do Famílias comVida vai-se manter regular, “fazendo o ponto da situação, partilhar o que cada um está a fazer e que dificuldades vão tendo”. “Depois, de acordo com aquilo que forem as necessidades, podem surgir as próximas formações. A ideia é que haja formações permanentes”, revela este responsável, garantindo que “este projeto será muito bom para a vida da nossa diocese”.

 

Pode fazer a diferença

Outra das formandas do projeto Famílias ComVida foi Silene Gonçalves, da Paróquia de Famões, na Vigararia de Loures-Odivelas. Para esta mãe de 43 anos, esta formação, que contou com a colaboração de vários professores universitários, foi “muito boa”. “Para além da parte da psicologia, que foi bastante aprofundada e deu-nos muita bagagem para nós próprios podermos investigar mais, também a parte de teologia foi importante. Deram-nos outras bases que nos permitiram ter um enquadramento geral dos casos que possamos vir a acolher no futuro”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE esta advogada, que se tem especializado, na sua profissão, em mediação familiar. “A preocupação pelas famílias e as dificuldades nas relações conjugais é uma coisa que me bate sempre à porta do escritório”, refere. “Há muito tempo que procurava uma formação que me pudesse dar mais instrumentos para poder ajudar os casais que vêm ter comigo. Depois de fazer um curso de mediação familiar, andei à procura de outro tipo de formação que pudesse vir ao encontro exatamente daquilo que os orientadores do Famílias comVida pretendiam fazer: uma formação cristã”, revela.

Silene Gonçalves pertence também ao Movimento dos Focolares e é catequista de adolescentes. Sobre a forma de implementação deste projeto na sua paróquia, revela que ainda há caminho a fazer: “Ainda estamos a perceber como é que vamos fazer esta ponte entre a formação que tivemos e a realidade na vigararia ou na paróquia”.

Esta agente da Pastoral Familiar partilha, também, um dos maiores problemas que considera existir nas famílias atualmente: a solidão. “Hoje em dia a grande maioria das famílias estão muito sozinhas, enfrentam os problemas sozinhos. Um grande desafio é o de nós, enquanto comunidade, enquanto Igreja, conseguirmos chegar às famílias, caminhar com elas para que elas consigam perceber que a Igreja é uma Mãe que acolhe e que pode ter aquela palavra, aquela resposta e pode fazer a diferença quando estão numa crise, ou em dificuldades, ou quando precisam de ajuda”, aponta Silene Gonçalves, desejando que o próximo curso tenha ainda “mais formandos” e que as paróquias possam dar “prioridade ao trabalho com as famílias”.

  

______________


www.familiascomvida.pt

O diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, cónego Rui Pedro Carvalho, apresenta o site do projeto Famílias comVida (www.familiascomvida.pt) como uma plataforma que está em construção permanente e que reúne os contributos de vários profissionais, de forma a proporcionar mais informação aos formadores. “A nossa expectativa é que a rede se vá alargando. Quantas mais pessoas tivermos a trabalhar nesta área, mais respostas vamos poder dar às famílias”, garante.

texto e fotos por Filipe Teixeira
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES