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O anjo da guarda dos Cristãos na Síria destruída pela guerra
A irmã pronto-socorro
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Em oito anos de guerra, a Irmã Annie Demerjian já perdeu a conta às viagens que fez entre Alepo e Damasco. Em oito anos de guerra, a Irmã Annie já perdeu a conta às pessoas a quem enxugou lágrimas, a quem resgatou da pobreza mais extrema, a quem até salvou a vida. Foram milhares de dias vividos sempre com o coração apertado…


Em oito anos de guerra, a Irmã Annie deixou de contar as vezes que ouviu o assobio das bombas a caírem perto de si, as vezes que caminhou em cima de escombros em cidades massacradas pela guerra, as vezes que viu casas a ruírem com estrondo, frequentemente até com pessoas lá dentro. Em oito anos de guerra, a Irmã Annie já perdeu a conta às vezes em que tratou pessoas ensanguentadas, feridas no corpo ou na alma. Em oito anos, apesar da guerra, a Irmã Annie Demerjian ainda não perdeu o sorriso tímido, o olhar terno, a voz calma e suave. Nestes oito anos em que a Síria não sabe o que é viver em paz, a Irmã Annie já fez centenas de viagens entre Damasco e Alepo. Até parece um pronto-socorro. Por lá, na Síria, em Damasco e Alepo, todos a conhecem e todos sabem que podem contar com ela.

 

Choro de fome

Tanto em Damasco como em Alepo, a Irmã Annie parece uma formiguinha incansável. Ela não descansa até assegurar que a rede de solidariedade que a Igreja montou continua a funcionar. Milhares de pessoas dependem todos os dias dessa corrente de amor. Muitas cidades, vilas e aldeias estão profundamente devastadas pela guerra. Nestes anos não se perderam apenas vidas humanas neste conflito interminável. Há também pessoas enlutadas que ficaram de mãos vazias. Há pais e mães que não sabem como calar o choro de fome dos seus filhos. Sem trabalho, como sobreviver? Para a Irmã Annie, não há problemas. Apenas soluções. A fé ensina isso. Se alguém está com fome é preciso dar-lhe comida. Se uma família perdeu a casa nos bombardeamentos, tem de se encontrar um novo tecto. Se uma pessoa está ferida, é necessário fazer um curativo, levá-la ao hospital… quando há hospital, claro.

 

Dois dedos de conversa

Só em Alepo, milhares de famílias cristãs continuam a sobreviver todos os dias graças à Irmã Annie, graças à rede de solidariedade que a Igreja Católica montou nesta cidade mártir da guerra na Síria.
A Irmã Annie conhece praticamente de cor os nomes dos cristãos que vivem em maiores dificuldades. E são tantos… Lucine, por exemplo, é uma senhora com 85 anos que todos os dias é visitada por algum voluntário da Igreja. Sempre que pode, a Irmã Annie vai também a sua casa, nem que seja apenas para segurar as suas mãos, para lhe afagar o rosto, para dois dedos de conversa. E como isso é tão importante…
O Papa Francisco já se referiu à situação que se vive na Síria como sendo “a maior catástrofe humanitária após a Segunda Guerra Mundial”. Para a Irmã Annie não há problemas, só soluções. Como alimentar os milhares de cristãos, profundamente empobrecidos, sem trabalho, sem qualquer forma de sustento, e que vivem em Alepo? Pedindo ajuda, claro!

 

Eles e nós

Desde a primeira hora que a Fundação AIS é, talvez, o mais valioso parceiro desta aventura de amor e generosidade que a Irmã Annie realiza todos os dias na Síria. Em Alepo, por exemplo, mais de 2.300 famílias recebem vales de desconto que depois trocam por alimentos, roupa e medicamentos em dois supermercados locais. Numa região onde o custo dos bens essenciais atingiu preços proibitivos, todas as pessoas estão a atravessar tempos de grandes dificuldades. Mas há muitos que se encontram mesmo de mãos vazias. É por causa deles que a Irmã Annie, como se fosse uma formiguinha, viaja vezes sem conta entre Alepo e Damasco. “Não têm mais ninguém no mundo além deles próprios e de nós”, costuma dizer a irmã. “Eles” são os mais pobres dos pobres da comunidade cristã na Síria. “Nós” somos mesmo nós. Cada um de nós.

Terços abençoados

Em Damasco, a capital da Síria, a falta de trabalho é, desde há muito, um sério problema. A somar a todos os outros que se imaginam num país em guerra. Como ajudar as famílias cristãs a superarem as enormes dificuldades do dia-a-dia? E porque não fazer terços? – pensou a Irmã Annie, que, com o apoio da Fundação AIS, lançou esse desafio a 15 mulheres, a 15 mães de Damasco. Fazer terços, apenas isso. Elas deitaram mãos à obra e agora esse trabalho manual, quase de artesanato, é a principal fonte do seu sustento. Mas são terços únicos. São terços feitos por mãos sofridas, por mães que choraram tantas vezes de impotência, por mulheres que já viveram momentos de profunda angústia, de imenso sofrimento. São terços que nos obrigam, quando rezarmos com eles, a não esquecer a Igreja que Sofre, a Igreja que é perseguida no mundo. São terços abençoados, feitos por mulheres sírias que, tal como a Irmã Annie Demerjian, continuam a viver todos os dias com o coração apertado.

 

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Quer ajudar a Irmã Annie e as famílias cristãs na Síria, adquirindo um terço feito por estas mulheres de Damasco?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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