
Eu sou o burrinho que levou Maria (e o Deus Menino no seu seio)
até à casa da sua prima Isabel, que de tão avançada idade esperava também um filho.
É verdade que nem eu, nem José, somos referidos por Lucas no seu evangelho,
mas todos os artistas nos convocaram para tão bendita viagem:
ia lá agora Deus deixar ir sozinha a mãe do seu Divino Filho,
por aqueles montes e vales, e tão apressadamente como ela desejava ir?
Foi José que me veio buscar ainda o sol não tinha nascido,
e me confidenciou o desejo de Maria em fazer aquela viagem.
Fiquei todo contente, e ainda mais quando ele me disse que ela esperava um bebé,
que havia de ser a alegria para todo o mundo.
Não imaginam a leveza de Maria sobre o meu dorso;
nem sei bem se era eu que a levava ou se me levava ela (e o seu Menino)
por aqueles caminhos que me pareceram tão suaves.
De ternura e cuidado eram as poucas palavras de José,
e Maria encantada, e cantando por vezes, antecipava a alegria do encontro,
como se Deus o desejasse também desde o princípio dos tempos.
Não serei o melhor cronista desta viagem,
mas não consigo calar a emoção daquele encontro das duas mães:
uma, de muitos anos, cujo seio estéril tinha florescido,
outra, jovem, em cujo seio virginal Deus tinha encarnado;
a primeira, como o resto fiel do povo da Aliança,
a segunda, como a primeira da nova humanidade;
e no seio de Isabel o precursor do Messias a saltar de alegria
ao reconhecer a vinda do seu Senhor no seio de Maria.
Zacarias e José a tudo assistiam com discrição e espanto,
e eu pus-me a zurrar de contentamento.
Tudo pareceu rápido e eterno.
As palavras de Isabel a saudarem Maria, com o sabor fresco das Escrituras,
naquele elogio que se ouviria ao longo dos tempos;
e as palavras de Maria a cantar as maravilhas de Deus,
com o sabor antecipado dos milagres de seu Filho,
os que Ele faria e os que iria ensinar-nos a fazer,
e tudo a entrar também pelas minhas orelhas de burro
que me dava ganas de dançar.
E o mais, que vos conte o Espírito Santo!
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José Luís Nunes Martins
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