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Isilda Pegado
A EUTANÁSIA. O Sr. José e a D. Alice “na Caminhada pela Vida”

1. O Sr. José e a D. Alice, ele de 81 e ela de 79 anos, no espaço de três meses sofreram ambos um AVC. Primeiro foi ela e depois ele.

A filha única, a Ana, tem-lhes dado muito do apoio que precisam.

Como a larga maioria dos portugueses, recorreram ao hospital da sua área de residência do SNS.


2. No início o Sr. José acompanhava a D. Alice no Hospital. E foi ouvindo frases que muito o magoaram – “O que é que queres? Tem quase 80 anos” – dizia uma enfermeira, que logo foi corrigida por outra – “Não digas isso!” – Mas a primeira frase ficou no ouvido do Sr. José!


3. A D. Alice ficou horas e dias num corredor de hospital, à espera da sua vez… havia muitas pessoas a precisarem de cuidados médicos, e “há que fazer opções” (também se ouvia no corredor). O Sr. José ouviu alguns destes “desabafos”.


4. Infelizmente, o Sr. José veio a sofrer também um AVC… Ainda a esposa estava muito debilitada e a iniciar a fisioterapia.

Agora, ele doente e incapacitado, voltou a ouvir aquelas frases tristes, ditas por profissionais, tantas vezes exaustos do trabalho, mas que magoam quem se vê como um ser “descartável” e que está ali a ocupar o lugar de outro. Como se aquela pessoa já excedesse “o prazo”.  


5. A filha tudo fazia para ajudar os pais. Mas, não tinha condições para os ter plenamente acompanhados. Por isso solicitou apoio nos “cuidados continuados”. A resposta foi… “Não temos previsão de uma vaga. Pode demorar meses.”. Além disso, “não pode continuar a ocupar uma cama neste hospital. Tem de levar o seu pai para casa.”. Como a Ana levantou objeções e insistia para que a auxiliassem nos cuidados continuados, foi-lhe dito “está a abandonar os seus pais?” A Ana chorou muito.


6. Entretanto o pai recusava-se a tomar os comprimidos. Era um homem atento às notícias e esta questão da Eutanásia destinava-se a ele próprio. Tudo o que diziam na TV se aplicava ao seu caso e à sua mulher. Mas ele, católico, não queria suicidar-se, nem admitia que algum “comprimido” o fizesse morrer. Por isso o medo instalou-se na sua mente. Vigiava sempre que podia a medicação da mulher… e muitas vezes não quis tomar os seus comprimidos.


7. Tinham ambos um grande amor pela filha, que viam estafada depois de 8h de trabalho, e se confrontava com a falta da fisioterapia… as noites em casa dos pais, as idas ao médico/hospital, etc. Tudo fazia pelos pais que agora tanto precisavam de ajuda.


8. Quer o Sr. José, quer a D. Alice tinham sido, durante mais de 40 anos, funcionários públicos. Dedicaram a sua vida ao Serviço, ao Estado. Agora, que precisavam, não havia quem os apoiasse, quem ajudasse a filha a vencer esta circunstância/dificuldade.


9. Perceberam que a Lei da Eutanásia, que se quer aprovar, se destina a pessoas como eles. É mais fácil Eutanasiar do que cuidar. É um debate, que parece modificar o modo de pensar dos profissionais de saúde. É verdade que alguns dos médicos e enfermeiros foram atentos e cuidadosos. Por isso, não morreram do AVC. Mas outros houve, cujo comportamento lhes deixou mágoa, fê-los sentir “a mais”, “descartáveis”.

Por vezes, recordam-se de frases que ouviram… e contam à filha e aos netos. E que estes respondem “não ligue pai, o Sr. Enfermeiro estava cansado.” ou “O médico já devia estar de serviço há muitas horas.”.


10. A filha Ana, pensa… se é assim agora, que a Lei não foi aprovada, como seria se a Eutanásia já fosse Lei?


11. Quando o Tribunal Constitucional no dia 30 de Janeiro chumbou de novo a Eutanásia o Sr. José disse para a filha – “Graças a Deus! Tenho rezado muito para que nunca seja aprovada!”.

“Gostava de vos deixar um mundo melhor, e não um mundo individualista. Onde matar uma pessoa é trabalho de um médico ou de enfermeiros. Não me conformo!”

“Ainda gostava de saber quem pediu ao Parlamento para aprovar esta Lei? Nunca ninguém nos disse… Ao contrário, só vejo artigos nos jornais, contra esta Lei. Os deputados não leem?”

De cada vez que lê um artigo de jornal contra a Eutanásia o Sr. José, ao jantar, teima em lê-lo à mesa para todos.

O medo, a quebra de confiança, a intuição de um mal que se avizinha merece o nosso combate. (a “estória” aqui contada tem coincidências com a vida real.)

Por isso, o Sr. José já disse à sua Alice – No dia 18 de Março, faça chuva ou faça sol, vamos à CAMINHADA PELA VIDA!  Temos de ajudar a nossa filha e os nossos netos.

VAMOS À CAMINHADA PELA VIDA!

 

Isilda Pegado

(Presidente da Federação Portuguesa pela Vida)