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Sínodo
O Documento da Etapa Continental da Ásia (Parte 1/2)
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I – O CONTEXTO ASIÁTICO (1 - 10)

Publicado em 16 de Março de 2023, o Documento da Etapa Continental da Ásia (DECA), emanado da reunião das Conferências Episcopais do continente asiático, começa por traçar um retrato do contexto geográfico, cultural, social e económico da região.

Com uma enorme diversidade de culturas, religiões, línguas e etnias, é o continente com a maior área geográfica (44,6 milhões de Kms quadrados) e a maior população a nível mundial (cerca de 4,6 mil milhões) falando mais de 2300 línguas.

O documento aponta também a circunstância do continente asiático ser o berço das grandes religiões mundiais – Hinduísmo, Budismo, Taoismo, Cristianismo, Islão, Confucionismo e outras. No presente, o Islão é a maior religião com cerca de 1,2 mil milhões, seguido do Hinduísmo com 900 milhões de seguidores.

Neste contexto, o Cristianismo é uma religião minoritária, com 150 milhões, 3.3% da população geral.

Os participantes reconhecem, no entanto, que o traço comum das gentes asiáticas é a consciência dos valores relacionais, com Deus, consigo próprio, com os outros seres humanos, com o cosmo, permitindo de certa forma uma unidade entre os povos asiáticos.

Socialmente, a Ásia tem a duvidosa distinção de albergar o maior número de ricos mais ricos e os pobres mais pobres do mundo, com o fosso cada vez mais alargado, também devido à recente pandemia.

Politicamente, a Ásia tem uma amálgama de diferentes sistemas, desde democracias parlamentares, regimes militares ditatoriais, comunismo, monarquias absolutas e constitucionais e sistemas presidenciais.

Os participantes reconhecem existir grandes desafios nesta área do mundo, nomeadamente o combate à pobreza extrema, a ameaça ecológica, a corrupção sistemática, as migrações em massa.

Embora o Cristianismo seja minoritário nesta região, destaca-se pelo seu vibrante entusiasmo e a riqueza do seu contributo para a sociedade, e apesar da diversidade, é sinal expressivo da Igreja Universal.

 

II – O PROCESSO SINODAL (11 - 35)

Depois desta apresentação do contexto geral do continente asiático, o documento descreve com algum pormenor o processo pré-sinodal e sinodal, enfatizando que a convocatória do Papa Francisco para a XVI Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos coincidiu com a chamada à participação numa Conferência Geral da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC em inglês), marcada para Novembro 2020, e que teve de ser adiada para Outubro 2022 devido à pandemia. A coincidência dos dois acontecimentos foi considerada providencial, uma vez que a Conferência Geral asiática se debruçaria sobre os grandes problemas da região e a missão da Igreja e o processo sinodal traria a metodologia de trabalho e a criação dos mecanismos de escuta para a condução das consultas para a Conferência Geral. Os frutos dessa reunião estão mencionados na secção “Lacunas” deste documento.

Depois das primeiras fases das 32 Conferências Episcopais nacionais, foi elaborado o documento de trabalho a apresentar à Assembleia Geral, com o pedido de resposta afim de em devido tempo se elaborar o Documento final, objecto desta análise.

 

III – OS SENTIMENTOS GERAIS SOBRE O PROCESSO (36 - 49)

Apesar dos desafios, a jornada sinodal é um momento de graça e cura da Igreja. A imagem da Tenda projecta a ideia dum lugar de refúgio que pode ser alargado a todos, onde todos e cada um tem lugar sem excluir ninguém, e expressa também que Deus pode montar a Sua tenda onde o Espírito Santo sopra, mesmo em lugares onde há a violência e o sofrimento. Aqueles que se sentiam excluídos sabem agora que tem uma casa nesta Tenda

Também Jesus montou a sua tenda no meio de nós, na Encarnação, e esta é o lugar de encontro com Deus e com o outro. A partir da condição comum de baptizados temos a consciência da casa comum, e que caminhamos juntos para o crescimento orgânico da Igreja.

A consulta envolveu muitas pessoas e muitas formas de envolvimento, demonstrando um profundo amor das pessoas pela Igreja apesar das suas fraquezas e limitações. Mas o sentimento geral é de esperança e alegria por causa do amor de Deus pelo Seu povo, na convicção de que o Espírito Santo não falha em inspirar o Povo de Deus na direcção da conversão pessoal, comunitária e estrutural. No entanto, algumas dificuldades surgiram, nomeadamente a impossibilidade de ultrapassar a diferença de línguas., ao mesmo tempo que se reconhece que o método espiritual sinodal foi por vezes doloroso e inquietante, mostrando vulnerabilidades aos outros.

Em síntese, o DECA conseguiu capturar as esperanças, aspirações, desolações e desafios do povo de tal forma que abre a porta para um renovamento da vida da Igreja. O documento foi na realidade o catalisador para uma reflexão mais profunda por parte das igrejas locais.

Em alguns locais o processo sinodal (a escuta do outro) não foi uma novidade, pois já havia mecanismos de consulta no espírito sinodal.

 

IV – RESSONÂNCIAS ASIÁTICAS (50 - 83)

Algumas ressonâncias que emergem do processo sinodal – a experiência da alegria; a experiência de caminhar em conjunto; a experiência das feridas; a chamada para tomar novos caminhos.

Alegria porque o processo sinodal é, sem dúvida, um lugar de graça, encontro e transfiguração; este processo dá às Igrejas asiáticas uma maior consciência dos seus próprios contextos e riquezas culturais, mas ao mesmo tempo pretende-se melhorar a qualidade da amizade mútua através da escuta, do respeito e do cuidado uns pelos outros, de tal forma que possam ser uma “boa mãe” e um bom exemplo na construção da paz. É consolador ler as repetidas declarações de amor pela Igreja universal de numerosas igrejas locais. Por outro lado, é necessário reconhecer as ameaças externas que tornam a vida de fé desafiante, com muitos locais onde os Cristãos são perseguidos.

O documento realça a experiência das feridas e vulnerabilidades que atingem as Igrejas na Ásia, reforçando a necessidade da cura. Entre as muitas feridas estão os abusos relacionados com finanças, jurisdição, consciência e sexo, dando um aspecto negativo às Igrejas, que levou ao abandono destas por parte de muitas pessoas pela falta de credibilidade e transparência. A consequência desta situação foi um aumento da intolerância, ressentimento e negativismo contra a Igreja, através dos meios de informação.

Também a preocupação da falta de inclusão das mulheres nos processos de governo e de decisão foi manifestada; a falta de compreensão e muitas vezes, a falha do cuidado pastoral em relação aos vários grupos que não se sentem bem-vindos no seio da Igreja – famílias monoparentais, casais em situação irregular, casamentos mistos, pessoas que se identificam com grupos LGBTQIA+, e migrantes. A ausência dos jovens na vida de muitas Igreja é também enfatizada, apesar do reconhecimento de que são eles o motor para a Igreja ganhar a coragem de enfrentar estes desafios e fazer alterações. Também o grito dos pobres e do planeta foi ouvido nos diversos relatórios.

A infiltração de ideologias adversas ao espirito cristão estão presentes e é preciso tê-las em conta. Por outro lado, em muitos locais a Igreja tem sido silenciada por regimes opressores.

A experiência da alegria e das feridas só pode ser vista como uma oportunidade para explorar novos caminhos que levem a uma Igreja sinodal, mais inclusiva, em que o ecumenismo e o diálogo inter-religioso estejam muito presentes.

Embora apareça pouco desenvolvido o assunto da segurança de menores e vulneráveis, existe a necessidade de desenvolver e criar culturas e mecanismos neste sentido.

Lendo os relatórios, há um forte sentimento duma Igreja voltada para si mesma, que precisa lançar as suas redes mais longe. A tenda tem que ser expandida de várias maneiras que as igrejas asiáticas precisam encontrar para avançar em caminhos que preencham a missão como uma só Igreja.

texto pelo Diác. José Noronha de Andrade
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