Lisboa |
Frei Agostinho Castro, superior maior da Ordem do Carmo em Portugal
“Recriar a união entre várias tradições e culturas”
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Atual pároco de Santo António dos Cavaleiros e de Frielas, frei Agostinho Marques de Castro, de 48 anos, foi reconduzido, por três anos, como superior maior da Ordem do Carmo em Portugal. A missão carmelita acontece na periferia da cidade de Lisboa, procurando sempre “quebrar o anonimato” e “criar identidade paroquial”.

 

Foi o Patriarcado de Lisboa, através do Cardeal Cerejeira, que pediu à Ordem do Carmo para assumir a paróquia de Santo António dos Cavaleiros. Estávamos em 1972, o mesmo é dizer que no ano passado foram assinalados 50 anos de presença carmelita nesta zona da diocese. “O bairro tem pouco mais que essa idade, vem dos anos 60. Na altura, viu-se a necessidade de se ir organizando a comunidade paroquial com os cristãos que para cá vieram morar, muitos das colónias e outros de algumas regiões de Portugal”, conta o atual pároco, frei Agostinho Castro, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Este frade, de 48 anos, lembra que foi então criado um vicariato dependente de Loures e os Padres Carmelitas foram construindo a comunidade cristã. “Não havia aqui nada. Os cristãos sentiram necessidade de encontrar um lugar para se reunir, porque a igreja só foi inaugurada em 1982, no dia 10 de outubro”, refere. No entanto, “durante aquele tempo, “os sacramentos foram acontecendo”. “O primeiro batismo data de 1972, logo aquando da nossa chegada. Era uma comunidade cristã muito militante. Com a chegada do padre Vitalino Dantas, que depois foi Bispo de Beja, houve uma grande dinâmica e foi-se construindo a comunidade”, salienta, referindo que a chegada a Frielas aconteceu “uns anos mais tarde”.

O decreto de constituição da paróquia Santo António dos Cavaleiros data de 1983. “Vamos celebrar os 40 anos oficiais da paróquia no dia 27 deste mês de maio. Vamos fazer um pequeno encontro comunitário e cantar os parabéns ao ‘decreto’ da paróquia”, graceja.

 

Criar identidade

Frei Agostinho chegou a estas paróquias em setembro de 2014. “É uma comunidade muito viva, com muitos grupos e setores, mas que tem sofrido uma certa desconfiguração do tecido social. Aquela primeira geração, muito militante, está com uma certa idade e é um desafio cuidar deles. A segunda geração, muitos não se associaram à paróquia, não por não terem convicção religiosa, mas porque apareceram outras oportunidades de trabalho fora”, explica. Neste sentido, para o pároco, “o grande desafio é recriar constantemente a união entre várias identidades, tradições cristãs e culturas”. “Sendo uma paróquia nova e um bairro ainda relativamente jovem, vamos criando esta identidade de paróquia de Santo António dos Cavaleiros. É muito curioso que as pessoas fazem cá vida paroquial, mas quando falam de paróquia ainda falam da sua paróquia de origem. Os leigos têm de sentir que isto também é deles, não é só estar aqui para ‘consumir’ alguns produtos religiosos e garantir a prática religiosa. O desafio é criarmos esta identidade como membros desta paróquia de raiz, onde haja um grande compromisso em superar todo este anonimato”, aponta o frade carmelita, salientando que o Sínodo sobre a Sinodalidade “foi um bom caminho” nesse sentido. “Foi o mote para intensificarmos este carácter sinodal que as ordens religiosas já têm muito”, frisa.

Santo António dos Cavaleiros e Frielas são as únicas paróquias do Patriarcado de Lisboa que estão confiadas aos Padres Carmelitas. “O que as distingue de outra paróquia? É uma boa pergunta e é um desafio que nós, carmelitas, fazemos a nós próprios também. Além da presença de símbolos carmelitas – e também de uma confraria carmelita –, creio que o que distingue mais é as pessoas perceberem que embora haja um que é o pároco, há uma comunidade de frades que o apoia. Há também uma tradição de espiritualidade que procuramos sempre transmitir, com proximidade, à comunidade”, responde frei Agostinho, assegurando que, em termos pastorais, procuram estar sempre “em comunhão” com a Igreja local e diocesana. “Mas claro que celebramos de maneira especial a festa de Nossa Senhora do Carmo [padroeira dos carmelistas]”, brinca.

 

Ordem do Carmo em Portugal

A Ordem do Carmo em Portugal tem atualmente 22 carmelitas: 18 são portugueses, dois são brasileiros, um é moçambicano e outro timorense. O desafio de que o carisma carmelita “seja significativo para a Igreja de hoje e para a sociedade” continua na linha da frente. “No capítulo local, em Fátima, o nosso superior geral insistiu muito em termos tempo para as pessoas e assumirmos o mundo da espiritualidade, porque é algo que as pessoas veem muito nos carmelitas. Portanto, o acompanhamento espiritual, o escutar, o ser mestre de oração, o ajudar as pessoas a rezar”, considera o superior maior no nosso país.

Os Carmelitas têm atualmente seis casas em Portugal. Em Lisboa, estão duas: Santo António dos Cavaleiros e o Centro de Estudos da Ordem do Carmo, perto da Igreja de Santa Isabel, “cada uma delas com quatro frades”, refere frei Agostinho. “Há ainda uma casa na Diocese de Beja, que tem duas paróquias; em Fátima temos a Casa de São Nuno, que acolhe peregrinos; depois, temos uma casa em Felgueiras, na Diocese do Porto, com três paróquias; e finalmente temos a casa do Sameiro, em que damos algum apoio ao santuário e a paróquias à volta”, enumera o responsável nacional, que foi eleito para o cargo em 2020 e agora foi reconduzido. “Durante a pandemia, houve poucas viagens e a paróquia estava a meio gás pelo que foi mais fácil gerir. Com a reabertura das atividades, os novos desafios vão exigir mais mobilidade e mais presença. Temos o desafio de reforçarmos as nossas presenças, não em termos de abrir novas casas, mas fortalecendo as nossas comunidades já existentes. A nossa média de idades é elevada, já vai nos 64 anos, o que nos vai obrigar a repensar como vamos acompanhar. É um desafio que pode ter implicações na prática”, considera frei Agostinho Castro.

 

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A JMJ pelo olhar das paróquias carmelitas

As duas paróquias do Patriarcado de Lisboa que estão confiadas aos Padres Carmelitas (Santo António dos Cavaleiros e Frielas) estão também a preparar a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 e cada uma tem o seu COP (Comité Organizador Paroquial). “Decidimos trabalhar com dois COP’s diferentes porque são duas realidades muito distintas e com outros ritmos – Frielas é mais rural, é uma freguesia com quase 500 anos”, explica o pároco. Frei Agostinho assume “dificuldades” nas famílias de acolhimento – “tem havido uma certa reserva, não sei se tem a ver com as férias”, diz –, mas considera que “os jovens têm feito caminho nestes anos” e estão “entusiasmados” com a realização da JMJ Lisboa 2023. “Muitos jovens não têm identificação com o que é uma Jornada. Podem pensar que é para a elite ou que há pessoas a organizar e não é preciso ajudar muito, e portanto ainda não têm uma clara noção da grandiosidade do evento e do impacto que pode ter. Claro que o projeto Say Yes e a catequese estão sensibilizados e têm informação e já temos voluntários para nos ajudar, mas sinto que os jovens estão atentos, estão a par, e irá ser uma boa Jornada”, salienta o frade carmelita.

Neste sentido, para este pároco, um dos desafios da JMJ Lisboa 2023 e das paróquias será “dinamizar a pastoral juvenil e fazer com que a vida da comunidade se torne significativa e identitária para os jovens”. “Sobretudo aqui, a paróquia deve ser um fator agregador de tantas realidades presentes no mundo juvenil”, deseja frei Agostinho.

 

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Jovens carmelitas do mundo em Lisboa

A cada Jornada Mundial da Juventude, a Ordem do Carmo organiza um dia para juntar os jovens ligados às comunidades carmelitas espalhadas pelo mundo. “Organizamos o encontro um dia antes de começar a Jornada – também já se fez depois –, mas no caso de Lisboa será no dia 2 de agosto. Curiosamente, vamos concentrar os jovens todos aqui, em Santo António dos Cavaleiros, e até já dei essa informação ao Patriarcado”, explica frei Agostinho, sublinhando que o encontro reúne “entre 350 a 450 jovens carmelitas de todo mundo, desde a América do Sul, da Europa, nomeadamente polacos e alguns ingleses, e também africanos”. “Habitualmente, neste encontro, fazemos uma partilha do que realizamos pelo mundo, fazemos também uma apresentação com a história e a presença no país que recebe a Jornada, neste caso Portugal, teremos um momento de oração e a presença do nosso superior geral, o irlandês frei Míceál O’Neill”, resume o superior maior da Ordem do Carmo em Portugal.

 

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Frades carmelitas

“A vida comunitária enquanto frades carmelitas é uma vida regular. Somos quatro carmelitas em Santo António dos Cavaleiros: frei Rogério da Silva Torres, que também é capelão no Hospital Beatriz Ângelo, o padre Manuel Castro, mais velho do que nós e que já esteve aqui como diácono nos primeiros tempos da comunidade, e depois temos o padre António Maria Alves Júnior, que tem 94 anos e que ajuda também no Campo Grande. Além dos momentos de oração, procuramos estar juntos nas refeições, nas reuniões comunitárias. Sempre que podemos, estamos juntos.”

Frei Agostinho Castro

 

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Dimensão sócio-caritativa “muito forte”

A pastoral sócio-caritativa na paróquia de Santo António dos Cavaleiros tem sido “bastante exigente”, mas também “muito forte”. “O centro social paroquial, chamado Centro Cultural e Social de Santo António dos Cavaleiros, é um dos organismos da nossa pastoral social e tem no Banco Alimentar um dos grandes parceiros. Fazemos muita distribuição de alimentos, além do apoio aos idosos em casa – como referi, a faixa etária da comunidade é cada vez mais elevada –, o apoio à infância e o centro de dia”, refere o pároco, considerando que a caridade “tem sido um meio” para chegar às pessoas. “Podem não ligar muito à Igreja, mas, quando precisam, vêm cá bater à porta”, refere.

Frei Agostinho destaca ainda a relação, nesta área, com “outras comunidades, mesmo religiosas”. “Eles sabem que nós, aqui, estamos bastante bem organizados e temos alguma credibilidade pelo que juntam coisas, no templo hindu, por exemplo, e vêm entregar aqui para distribuirmos. Eles sabem que esses bens chegam às pessoas. Mesmo pessoas a nível individual, veem cá doar coisas”, garante. “Com esta situação da inflação, prevemos que tenhamos de aumentar a dimensão social. Felizmente, também temos tido apoio das autarquias. A Câmara Municipal de Loures, quando foi da pandemia, apoiou-nos bastante”, salienta o pároco.

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