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Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo: ?Toda a Igreja de Lisboa é convidada a um novo dinamismo? (com vídeo)
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa quer que os cristãos vivam profundamente a vocação cristã. Em entrevista à VOZ DA VERDADE, D. José Policarpo analisa a sua recente Carta Pastoral ‘«Nova Evangelização», um desafio pastoral’ e garante que toda a Igreja é convidada a um novo dinamismo na evangelização.


Escreveu recentemente a Carta Pastoral ‘«Nova Evangelização», um desafio pastoral’. O que pretende com a publicação deste novo documento à Igreja de Lisboa?

Esta carta vinha a ser maturada há algum tempo. Desde que o Santo Padre João Paulo II lançou, com tanta veemência, este desafio de uma nova evangelização que eu tenho vindo a reflectir. Houve dinamismos que convergiram para este momento: um deles foi a criação, pelo Papa Bento XVI, de um Pontifício Conselho para a Nova Evangelização; outro, foi o dinamismo interno da Conferência Episcopal Portuguesa, de querer fazer uma caminhada de reflexão e renovação da pastoral no nosso país; finalmente, a visita do Santo Padre a Portugal, onde nos fez concretamente o desafio de uma evangelização centrada na fé e no amor a Jesus Cristo.

Sobretudo a visita e a criação do conselho pontifício indicaram-me que no início deste ano pastoral era bom começarmos a reflectir e a considerar a nossa missão pastoral tendo em conta esse desafio.

 

E em que é que consiste este desafio?

Curiosamente, este Papa não usa muitas vezes a expressão nova evangelização, prefere evangelização renovada. Porque realmente ela não é nova! Já na era apostólica, encontramos a natureza da evangelização, que tem como centro a consciência de que o único evangelizador é Jesus Cristo! Ele é a Palavra. Ele anunciou a Palavra como ninguém. E a Igreja, na medida em que é uma expressão de união a Cristo, num amor muito grande a Cristo, prolonga na sua acção o testemunho que o próprio Senhor deu do Reino de Deus. Portanto, significa que evangelizar é a expressão principal da Igreja.

O Santo Padre Paulo VI na ‘Evangelii Nuntiandi’ [Exortação Apostólica sobre a evangelização no mundo contemporâneo, publicada a 8 de Dezembro de 1975] diz-nos expressamente que a evangelização é a natureza mesma da missão da Igreja. Desde a ‘Evangelii Nuntiandi’ e do Sínodo de 1974 – que eu tive a alegria de participar – este tema tem sido recorrente na consideração da Igreja. Lembro o nosso plano de acção pastoral que tem como uma das opções básicas de toda a missão na diocese, a opção de evangelização. Simplesmente, nem sempre a evangelização tem sido concebida como essa exigência fundamental do amor, da caridade de Jesus Cristo pelo mundo e de comunicar o mistério com a mesma veemência de amor. Neste últimos 30 anos, entrámos num período de muita programação – programas com objectivos, programas avaliados ou pelo menos avaliáveis, com tarefas a executar – mas nada disso está em questão, neste momento. O que está em questão é saber – e a pergunta é lançada por Paulo VI na ‘Evangelii Nuntiandi’ – em que medida é que estes fazedores da evangelização, os que em nome da hierarquia e nas estruturas da Igreja realizam esta missão, o fazem apenas como uma tarefa programada, como algo que é preciso fazer, ou que o fazem com esta paixão do Evangelho, com esta paixão de Jesus Cristo.

Penso que é isso que João Paulo II quer dizer quando fala de um novo ardor como uma qualidade fundamental da evangelização.

 

De que forma se pode concretizar esse novo ardor na evangelização?

Aquilo que se propõe é uma pedagogia transversal a tudo, onde aqueles que quiserem viver profundamente a sua vocação cristã, no caminho que escolheram – no matrimónio se são casados, na vida consagrada no mundo, no sacerdócio –, se quiserem viver na radicalidade de Jesus Cristo essa vocação, são chamados a este dinamismo. E para isso terão meios de aprofundamento e de preparação.

Há aspectos que eu intuo que serão decisivos na vida da Igreja. Penso por exemplo no papel dos leigos. Os leigos, sem este dinamismo, sem este ardor, como é que podem evangelizar? Se um leigo casado não vive o seu matrimónio como caminho de santidade, como é que pode evangelizar? Nem sequer evangeliza a própria família! Os leigos, sem este ardor, estão condenados a executar tarefas. O mesmo se pode dizer de um consagrado, que se não vive essa aventura misteriosa de amor radical por Jesus Cristo e está simplesmente numa situação pragmática, que o direito canónico e as próprias constituições consagram, também não irá evangelizar.

Sempre tivemos na história exemplos de grandes cristãos e cristãs para quem evangelizar era um impacto do seu amor, do seu encontro profundo com o Senhor, com a realidade. A realidade dos homens, a realidade das circunstâncias. E eles próprios descobrem a maneira de anunciar. O leigo torna-se protagonista – como todos os outros cristãos – não de tarefas a executar mas eu diria de uma dimensão intuitiva, que lhe brota do coração, de como anunciar o Evangelho ou imprimir a marca de Jesus na vida concreta de todos os dias.

 

Este é então um desafio lançado a toda a Igreja…

É um desafio lançado a todos! Quer os que já trabalham na pastoral, quer os que ainda não o fazem – são convidados a este dinamismo que ainda irá ser estruturado nas suas formas de ser. São convidados todos aqueles que quiserem viver na fidelidade, na busca da santidade, a própria vocação. Seja ela qual for!

No caso do matrimónio isto é claro. Ou seja, se tivéssemos famílias que vivessem este carisma do sacramento do matrimónio como caminho de santidade elas seriam evangelizadoras. Isto pode ajudar a resolver o problema da presença dos cristãos no mundo, que foi muito viva no passado, com estruturas como a Acção Católica. Hoje, a evangelização tem que ter esta espontaneidade da fé e da caridade. A partir de certo momento pode haver convergências de pessoas que trabalham num meio ou noutro, mas sempre na busca deste dinamismo.

A Carta Pastoral indica que o amor a Jesus Cristo é o ponto de partida. Já São Paulo, falando na radicalidade da sua ligação a Jesus Cristo, diz: ‘Mas como é que eu posso não evangelizar? Tenho de evangelizar!’. O amor a Jesus Cristo cultiva-se. Cultiva-se sobretudo pelos meios sacramentais e na vida de oração.

Esta Carta Pastoral é um desafio a retomar toda uma espiritualidade – eu diria até uma dimensão mística da vida cristã – através de uma experiência séria de oração.

 

No final da carta apresenta algumas propostas…

A minha ideia agora é que esta Carta Pastoral seja meditada, porventura analisada no Conselho Pastoral e no Conselho Presbiteral, e que depois se dê forma àquilo a que eu designo na carta de ‘uma pedagogia para a nova evangelização’.

Na carta aponto alguns aspectos que terão de estar presentes: uma maneira de exercer o ministério sacerdotal, uma pedagogia de oração, um amor à Igreja…

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