Entrevistas |
Cónego António Janela, presidente do Instituto Diocesano da Formação Cristã
“Formar leigos para uma evangelização mais interventiva e actuante”
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Criado em 2009, o Instituto Diocesano da Formação Cristã (IDFC) quer formar os leigos “não para um enriquecimento meramente individual, mas para se habilitarem para uma evangelização mais interventiva e actuante”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o presidente da direcção do IDFC, cónego António Janela, fala também da necessidade de “incentivar a relação do Instituto com as paróquias” e perspectiva o Ano da Fé ao nível da formação na diocese.

 

O Instituto Diocesano da Formação Cristã é uma instituição ao serviço da formação para a missão. Por que motivo o Patriarcado de Lisboa sentiu necessidade de criar, em Outubro de 2009, um Instituto como este?

Esta necessidade é sentida e expressamente afirmada desde o Congresso dos Leigos, em 1988, que deu origem à Escola de Leigos. Foi uma iniciativa de três ou quatro párocos de Lisboa, que se associaram para responder a esta necessidade de uma formação integral do laicado e não apenas de uma formação doutrinal. Por isso, desde o início que se visa, em íntima colaboração e em correspondência ao Programa Diocesano, o partir da experiência pessoal para uma visão mais integrativa, que não apenas um enriquecimento de conhecimentos doutrinais. Entretanto, vai-se acentuando, cada vez mais, esta necessidade da nova evangelização o que exige formar os leigos não para um enriquecimento meramente individual, mas para se habilitarem a uma evangelização mais interventiva e actuante! Sair da privatização em que tantas vezes nos deixamos cair, para ser uma presença mais interveniente na vida pública, na vida social.

 

A Igreja convida permanentemente os cristãos a aprofundarem as razões da sua fé…

Não basta só o convite, é preciso depois saber apetrechar essas instâncias formativas com metodologias e pedagogias adequadas, porque temos vários níveis etários a que correspondem pedagogias diferentes. Uma coisa é a catequese das crianças, outra é a dos adolescentes ou a dos jovens adultos, e mesmo dos adultos e idosos. Nós temos que ser capazes de estar habilitados a ter novas formas de transmissão da fé e de incentivar a essa transmissão.

 

Segundos os Estatutos do IDFC, é finalidade do instituto “contribuir para a formação de uma consciência cristã capaz de fazer uma leitura crítica, responsável e interventiva, da actualidade”. Para atender a este artigo, o IDFC tem organizado anualmente o curso Leitura Crente da Actualidade. Que formação é esta?

A Leitura Crente da Actualidade vai já na 4ª edição e procura justamente abordar temáticas que estejam em sintonia com a sensibilidade actual. Para este próximo ano pastoral 2012-2013 temos previsto, logo para o mês de Novembro, o módulo ‘Os Grandes Orantes Contemporâneos’. Estamos no Ano da Fé e a fé tem a sua expressão na oração, na comunhão com Deus que depois nos impele à comunhão com os outros. Vamos ter também outra temática, em Janeiro: ‘O que crê quem crê’. No ano anterior tínhamos feito ‘O que crê quem não crê’, que foi muito interessante, pelo que agora o novo módulo será apresentado numa linha testemunhal. Teremos também depois, no mês de Fevereiro e em sintonia com o Ano Europeu dos Cidadãos [2013], o tema ‘Cidade de Deus, Cidade dos Homens’, com várias dimensões. Cada um destes módulos terá três sessões.

Para o próximo ano pastoral, vamos também descentralizar este curso da Leitura Crente da Actualidade. Até agora, o curso tem funcionado na sede do Instituto [igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa] e agora vamos descentralizar, pelo que cada um dos módulos será realizado em diferentes paróquias de Lisboa: o primeiro, em São João de Deus; o segundo, em Santa Isabel; e o terceiro módulo, no Campo Grande.

 

Está desde a primeira hora como presidente da direcção. Que desafios tem encontrado nestes três anos no IDFC?

Desde 1988 que tenho estado ligado a este sector da formação. Porque o Instituto não é mais do que um departamento da Cúria Diocesana, que tem a sua autonomia própria, até para maior maleabilidade de actuação.

Sentimos limitações, antes de mais na própria direcção que tem vindo a ser afectada pela dispersão dos seus membros, que acumulam outras funções. Em segundo lugar, sentimos necessidade de um maior contacto com as bases. Temos de ter uma relação permanente com as comunidades cristãs, porque as comunidades é que sentem e apalpam as suas necessidades e carências. Este diálogo tem que ser mais intensificado! Finalmente, temos de estar muito atentos ao que se vai passando! Uma das limitações da Igreja actual é que ela anda um pouco a reboque da agenda da sociedade. Nós temos que nos antecipar e nestas questões da formação não podemos ir só a reboque; temos também que detectar e estar muito atentos aos sinais dos tempos.

 

O que poderá então mudar futuramente, em especial nessa relação com as paróquias?

Sinto que é necessário um diálogo mais estreito! Estamos um pouco condicionados pelo reduzido número de membros do Instituto. A direcção está muito limitada em termos numéricos e em disponibilidade, mas temos de procurar uma maior presença e diálogo com as paróquias. O IDFC tem procurado um contacto mais assíduo quer com movimentos e institutos religiosos e institutos de consagração laicais, quer com paróquias. Sobretudo, há que incentivar mais a relação com as paróquias.

 

O Papa Bento XVI convocou um Ano da Fé, a iniciar em Outubro próximo. De que forma o Ano da Fé desafia o IDFC?

Com iniciativas e propostas, mas ao mesmo tempo desafia-nos a fazer uma leitura permanente das dificuldades que sentimos. O Santo Padre, com o Ano da Fé, quer que a fé não seja algo de privativo, mas que haja uma presença pública dos católicos na vida social. Isto implica da nossa parte termos muito presente aquilo que é o lema inicial do Instituto: a formação para a missão! Evangelizar não o sal que fica no saleiro, mas o sal que é lançado na massa.

 

Na Carta Apostólica ‘Porta da Fé’, que lança o Ano da Fé, o Papa salienta que “o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos”. De que forma o Catecismo interpela a Igreja?

O Catecismo da Igreja Católica não é propriamente um catecismo, é um Compêndio, ou seja uma referência para elaborarmos depois os catecismos adequados aos diferentes grupos etários e até às preocupações diversificadas dos destinatários. Temos feito no IDFC uma utilização que tem sido muito positiva do catecismo para os jovens, o YouCat. Vamos continuar, até porque temos propostas de formação permanente de adultos tendo por base o YouCat. O Catecismo da Igreja Católica é sempre uma referência fundamental, mas não só. O Santo Padre fala também de uma releitura dos textos do Concílio Vaticano II, das quatro grandes Constituições [Dei Verbum: Revelação divina e Tradição; Lumen Gentium: Igreja; Gaudium et Spes: Pastoral e a relação da Igreja com o mundo moderno; Sacrosanctum Concilium: Liturgia] e também de outros documentos conciliares cujo desconhecimento é, em certos sectores, gritante.

 

Que actividades e iniciativas estão a ser preparadas pelo IDFC para o Ano da Fé?

Queremos assinalar o dia 11 de Outubro, data que marca o início do Ano da Fé. Ainda não há nenhuma iniciativa em concreto, porque está dependente do que a diocese organizar. Na Escola de Leigos, além do triénio onde a referência aos documentos conciliares é permanente, teremos alguns módulos que visam expressamente a dimensão da fé: ‘Desafios actuais à transmissão da fé’, ‘Maria, Ícone da Fé’, ‘A Fé sem obras é morta’, ‘A História da nossa Fé’, ‘Grandes Testemunhas da Fé’ e ‘Fé e Missão’. Temos toda uma série de módulos, em que a palavra ‘fé’ não é só para compor e dar tom. Há uma preocupação em sermos fiéis àquilo que o Santo Padre nos pede no Ano da Fé!

 

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Instâncias formativas do IDFC

Além das actividades próprias, o IDFC reúne também cinco instâncias formativas. O cónego António Janela, presidente do Instituto que agrupa estas instâncias, sublinha a missão de cada uma, salientando que “falta ainda o entrosamento de todas as actividades”. “Quando falamos de uma formação integral, pressupõe que não seja apenas uma justaposição de iniciativas, mas que elas, de algum modo, garantam um entrosamento”, aponta o cónego Janela.

 

Escola de Leigos

“É a mais antiga e – posso dizer, sem medo de errar – por onde já passaram cerca de 10 mil pessoas desde 1988. Graças a Deus tem marcado muita gente e continua, alargando o seu âmbito. Tem sobretudo uma grande preocupação que é a descentralização, apesar da dificuldade na bolsa de formadores. A nossa diocese é enorme e a periferia ‘queixa-se’ um pouco. Embora não seja uma formação de nível universitário, não é simplesmente formação catequética e tem um nível mais exigente.”

 

Centro de Formação a Distância

“A Formação a Distância nasceu no início dos anos 90 e tem uma pedagogia muito específica: começa quando se quer e acaba quando se pode. Tem um tronco comum e depois entra na linha da formação catequética, formação litúrgica, formação de agentes de acção familiar ou voluntariado. Neste momento temos mais de mil inscritos, o que é um número significativo.”

 

Escola Diocesana de Música Sacra

“Alguns cursos funcionam na Basílica da Estrela, enquanto os seminários e as aulas de órgão decorrem na sede do Instituto.”

 

Centro de Estudos Pastorais

“Neste momento, colabora na formação do clero e organiza seminários, que não são apenas dirigidos ao clero, sobre Doutrina Social da Igreja ou o voluntariado. Temos também colaborado na organização da semana de formação do clero.”

 

Escola de Oração São José

“Tem a sua autonomia própria e tem tido também a preocupação da descentralização. Nasceu na linha de Cascais, mas tem também iniciativas na sede do Instituto. Tem um programa de retiros, de leitura orante da Bíblia, do lausperene.” 

 

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Presença na internet quer divulgar actividades

O Instituto Diocesano da Formação Cristã inaugurou no Verão passado o seu site na internet. Em www.idfc.com.pt, é possível aceder ao calendário de actividades, bem como conhecer melhor esta instituição. “Uma das dificuldades que o Instituto tem é a divulgação das suas iniciativas. A comunicação é um ponto fraco na nossa diocese, e temos muitos casos em que as pessoas nos dizem ‘Que pena, não sabia que havia este curso…’”. O IDFC tem também uma Newsletter [boletim informativo por e-mail], sendo a inscrição feita através da página www.idfc.com.pt.

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