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P. Manuel Barbosa, scj
Viva a santa Igreja-mãe!
O título destas notas, afirmação do Papa Francisco, não ressoa a ambientes manifestantes e processionais, antes acena para a essência do que somos enquanto Igreja de Cristo.

Daqui a um mês termina o Ano da Fé, itinerário celebrativo proposto por Bento XVI para toda a Igreja. Um caminho pleno de inúmeras iniciativas a todos os níveis em variados setores de atividade. Um percurso que incluiu a mudança do Bispo de Roma, pastor da Igreja universal, e do Patriarca de Lisboa, pastor desta Igreja local.

Mesmo tendo em conta tantas sugestões em vista da renovação da nossa fé eclesial, não pretendo avaliar o caminho percorrido, mas colocar apenas algumas questões. Que Igreja somos hoje? Uma Igreja serva, com extrema atenção para cuidar com caridade dos tão diferenciados próximos do nosso tempo, ou uma Igreja de serviços, quase só preocupada em manter tarefas e instituições predominante «de sacristia»? Uma Igreja de participantes, que celebra e testemunha a mesma fé em Cristo, ou uma Igreja de assistentes, passivamente quase à margem do que vai acontecendo? Uma Igreja que acolhe, com toda a força hospitaleira do seu coração, ou uma Igreja que continua a atender e tantas vezes a despachar? Uma Igreja da exigência interior, ou uma Igreja da intransigência exterior? Uma Igreja ternamente misericordiosa, ou uma Igreja de poderes decretados?

As respostas implicam opção radical. A primazia só pode estar no primeiro polo de cada questão: Igreja de servidores, de participantes, de acolhedores, de ternos e misericordiosos.

Dizer e viver a Igreja como misericórdia e perdão, ternura e mãe, como tanto tem insistido o Papa Francisco, deveria ser lenitivo para renovar as nossas vidas e comunidades cristãs. Em particular a imagem de Igreja-mãe, que o Concílio Vaticano II bebeu dos inícios bíblico-patrísticos da Igreja, deveria indicar-nos que Igreja somos e queremos ser, sempre gerada no Espírito de Cristo.

Das 33 catequeses que os Papas têm proferido ao longo deste Ano da Fé nas audiências gerais das quartas-feiras (as 18 primeiras são de Bento XVI), há duas belíssimas reflexões em que o Papa Francisco nos faz pensar sobre a imagem-realidade da Igreja-mãe; anoto aqui apenas breves indicações da catequese proferida no passado 11 de setembro.

O Papa Francisco convida-nos a comparar o início da nossa caminhada em Cristo com a realidade humana da maternidade: «A Igreja doa-nos a vida de fé no Batismo: este é o momento no qual nos faz nascer como filhos de Deus, o instante em que nos concede a vida de Deus, que como mãe nos gera». E sugere que tenhamos sempre presente a data do nosso Batismo para a «manter no coração e festejar». Depois, indica que, como uma mãe boa, a Igreja também acompanha o nosso crescimento, pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos, «durante toda a nossa vida de fé, em toda a nossa vida cristã». Desse modo, a nossa relação com a Igreja só pode ser vital, nunca formal. Finalmente, como mãe dos cristãos, enquanto «faz» os cristãos, a Igreja é também «feita» de cristãos: «todos nós somos Igreja e todos somos iguais aos olhos de Deus! Todos somos chamados a colaborar para o nascimento de novos cristãos na fé, todos somos chamados a ser educadores na fé, a anunciar o Evangelho». E termina com este forte apelo: «participamos todos na maternidade da Igreja, a fim de que a luz de Cristo alcance os extremos confins da Terra. Viva a santa Igreja-mãe!»

Entrámos no último mês do Ano da Fé. Os seus andamentos fizeram-nos crescer como Igreja, como filhos de Deus e irmãos em Cristo? Ou continuamos passivos, assistentes e, quiçá, indiferentes? Não vão faltar celebrações ditas de encerramento e clausura. Oxalá sejam de abertura e recomeço!

Termina o Ano da Fé, mas nunca a fé ao longo dos anos, levada nos quotidianos das nossas vidas e comunidades. Uma fé assumida na caridade e na alegria, a provocar o mesmo grito no coração de todos nós: «Viva a santa Igreja-mãe!»